O show dos gamers - Revista Esquinas

O show dos gamers

Por Gustavo Maganha : outubro 19, 2018

Foto por: Gustavo Maganha

Na 11ª edição, a Brasil Game Show prova mais uma vez que pode unir os gamers de todo o país

A Brasil Game Show, evento que ocorreu no Expo Center Norte, em São Paulo, entre os dias 10 e 14 de outubro, recebeu mais uma vez a massa da comunidade de jogadores de videogame. A feira teve o apoio das mais importantes empresas do mercado de jogos.

Em sua 11ª edição, a BGS 2018 superou expectativas no quesito organização: aproveitou ao máximo o espaço de realização do evento. Porém, deixou a desejar quanto à área destinada aos jogos independentes. Trouxe os lançamentos mais aguardados do primeiro semestre de 2019 e disponibilizou vários locais de jogatina que, espalhados por todos os estandes, deram mais oportunidades para que os visitantes pudessem experimentá-los.

Nomes importantes na indústria de games foram os destaques do evento. Entre os convidados, estavam Fumito Ueda (diretor de The Last Guardian e Shadow of the Colossus), Nolan Bushnell (fundador da Atari) e Cory Balrog (diretor da franquia God of War). Eles participaram de várias atividades, incluindo o meet and greet, espaço separado que garantia aos fãs fotos e autógrafos com seus ícones favoritos.

Durante a maior feira de games da América Latina, ocorreu também a Arena BGC. Patrocinada pela Cup Noodles e destinada aos campeonatos de Counter Strike, Dota 2 e Free Fire, ela representou o espaço de e-sports do evento, tudo em uma área de cerca de 2.400 metros quadrados. 

Infraestrutura geral e estandes

A BGS 2018 passou por um processo de reorganização se comparada às edições passadas. A disposição dos pavilhões e estandes tornou a feira a mais dinâmica de sua história, tendo um padrão em suas seções e uma maior facilidade para encontrar os gaming places. Um mapa foi disponibilizado com antecedência para ajudar na locomoção no local.

A feira foi dividida em: Pavilhão Principal, contendo os estandes de maior procura, como Sony, Microsoft e Activision; Pavilhão PC Gamer, com área destinada às empresas de hardware de computadores e aos lojistas em geral; Avenida Indie, reunindo, em um corredor, algumas empresas brasileiras e estrangeiras que tiveram uma oportunidade para expor seus jogos; Pavilhão Streaming, onde ficava a Arena BGC, os estandes das empresas de transmissões, como Twitch e Youtube Gaming, e o espaço para o meet and greet com os convidados especiais.

O destaque nos estandes de jogos ficou por parte da Sony, com seu estande da Playstation, onde os gamers tiveram a possibilidade de jogar lançamentos aguardados como Days Gone e Resident Evil 2 Remake. O da Microsoft não ficou para trás: representando a família Xbox, a empresa levou à BGS games como Kingdom Hearts 3 e The Division 2, que tiveram ampla procura por parte do público. Já a Activision, que se posicionou logo de frente à entrada, disponibilizou o esperado Sekiro: Shadows Die Twice e lançou, durante o terceiro dia da feira, o novo Call of Duty: Black Ops 4.

Marcas famosas de periféricos gamers agitaram a feira com seus inúmeros computadores para os visitantes e suas constantes atividades que premiavam os participantes. As principais foram a HyperX, a Razer, a Logitech, a RedDragon e a LeNovo, todas com estandes coloridos, que chamavam a atenção de quem passava por perto.

No quesito streaming, empresas como a Youtube Gaming, a Twitch e a CubeTV abrigaram seus parceiros durante o evento, promoveram interações com os visitantes e realizaram alguns campeonatos amadores de e-sports. As competições envolveram youtubers, streamers e webcelebridades.

A grande decepção ficou por conta da falta da Ubisoft, que possuía apenas uma pequena loja aos fundos do moderado estande da WB Games. Outra falha foi a qualidade inferior das lojas dos grandes estandes, como PlayStation, Xbox, Activision ou mesmo a própria Ubisoft. Com o costumeiro preço alto e a pouca variedade de produtos, a mercadoria disponível neste ano foi bem mais fraca se comparada a outras edições da BGS.

Games testados

ESQUINAS teve a oportunidade de testar alguns dos principais jogos disponíveis na feira. Veja abaixo a avaliação da equipe:

Sekiro: Shadows Die Twice — Desenvolvido pela From Software e publicado pela Activision, o novo título da “família” Souls provou ser bem diferente de seus antecessores, tendo uma semelhança bem sutil ao Bloodborne. O jogo tem ambientação no Japão feudal/medieval e conta a história de um protagonista que teve seu braço cortado. Assim, ele utiliza uma prótese que lhe concede ferramentas especiais de gameplay. Lançamento: 22 de março de 2019.

Resident Evil 2 Remake — Remake do antigo Resident Evil 2 de 1998, o “novo” jogo da Capcom utiliza do mesmo motor gráfico e engine de Resident Evil 7 e tem como principais características um HUD limpo e uma experiência de jogador balanceada e agradável. Locais escuros, inimigos macabros e um som ambiente imersivo fazem com que o remake mantenha as qualidades do jogo original, mas entregue uma experiência nova ao jogador. Gráficos belos, gameplay fiel e suave e um sistema claro de progressão. Lançamento: 25 de janeiro de 2019.

Tom Clancy’s The Division 2 — Dando continuidade à franquia, The Division 2 leva o jogador a uma Washington D.C. pós-apocalíptica, onde clãs humanos lutam entre si para sobreviver. Como agente da Division, você é encarregado de conter o avanço dos grupos hostis inimigos e proteger as bases aliadas aos civis e ao governo norte-americano. O jogo é muito parecido com seu antecessor, mantendo a jogabilidade usual e tendo uma melhoria gráfica perceptível, porém não impressionante. Tendo uma ênfase maior na cooperação entre os jogadores, The Division 2 exige trabalho em equipe para o sucesso nas missões. Lançamento: 15 de março de 2019.

Days Gone — O novo título da Bend Studios, em parceria com a Sony, coloca o jogador na pele de um protagonista que tem de sobreviver a um clássico apocalipse zumbi. O grande diferencial do jogo é a necessidade de pensar antes de cada ação. As criaturas zumbis, conhecidas como “freakers”, causam alto dano e cercam o jogador com facilidade. Escopetas, metralhadoras, molotovs e várias armas brancas são alguns dos destaques do arsenal disponível para o combate das criaturas. Lançamento: 22 de fevereiro de 2019.

Kingdom Hearts 3 — Kingdom Hearts é um RPG de ação tematizado no universo Disney e Final Fantasy. O que parece um jogo voltado para crianças provou ser extremamente divertido e colorido. Contém efeitos que são embelezados pela sempre ótima Unreal Engine, que acompanha o desenvolvimento do jogo e garante a beleza gráfica e as animações dignas de um filme da Disney. Lançamento: 25 de janeiro de 2019.

Avenida Indie

A seção de jogos independentes também sofreu mudanças na 11ª edição da BGS. Os jogos indies foram apresentados em pequenos estandes para cada uma das empresas, que levaram ao evento suas criações e projetos e esperaram o feedback e uma interação mais próxima da comunidade. A grande maioria eram empresas brasileiras, mas empresas como a britânica Double Fine Productions e a checa Warhorse estiveram presentes com Gang Beasts e Kingdom Come: Deliverance.

Bruno Brisano, artista geral e desenvolvedor na Behold Studios, conta que a empresa surgiu de um projeto ainda na época universitária e que passou por altos e baixos até ser um dos mais reconhecidos no país. A Behold trabalha atualmente no game Out of Space, jogo cooperativo e com a boa mecânica couch play, feita para a jogatina entre amigos.

A BGS organiza um espaço dedicado para os produtores independentes
Gustavo Maganha

O programador da Cadabra Games, Thiago Targino, reafirma o fato conhecido de que companhias independentes de games no Brasil começam com pequenas iniciativas. “Sempre jogamos bastante e aí pensamos, começamos a moldar e entramos no desenvolvimento logo de cara”, conta. Targino não tinha contato com desenvolvimento de jogos, mas seu produtor, que possuía um background grande com arte, se juntou a ele para começar a programação dos games. A Cadabra desenvolve Adore, jogo que se inspira em mecânicas de evocação de criaturas e traz artes e animações bem executadas.

Quando perguntados sobre as dificuldades de se desenvolver um game no Brasil, todos os estandes foram unânimes: falta de pessoas qualificadas e a competição com o mercado externo. “A maior dificuldade é achar gente qualificada, tudo está no início e é muito difícil achar alguém bom. Tem muitos cursos por aí, mas a maioria do pessoal está ligado à programação e a outros polos”, explica Bruno Brisano.

Vinicius dos Santos, fundador e desenvolvedor da AdventureArts, também cita algumas dessas dificuldades. “O maior desafio é arranjar o pessoal para investir. O pessoal bom acaba indo para fora”, afirma. Quem sabe desenvolver vai trabalhar no exterior pela melhor remuneração e reconhecimento. “Achar um pessoal dedicado e que queira contribuir é o mais complicado”.

Convidados e meet and greet

Como atração principal, a BGS foi recompensada com a presença de grandes nomes e ícones da indústria de videogames. Além de Fumito Ueda, Masanobu Tanaka, Nolan Bushnell e Cory Balrog, também compareceram Yoshinori Ono, produtor da série Street Fighter e Yoshiaki Hirabayashi, produtor de Resident Evil 2.

A Brasil Game Show de 2018 foi de longe uma das melhores de acordo com o público que apareceu no Expo Center Norte. Apesar de falhas como a redução na área indie e a falta de alguns estandes importantes, a organização e a interação da feira foram cruciais para manter o público unido durante todo o evento. A BGS é e sempre será única.