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Por Bárbara Moura e Yasmin Altaras Edição #63

Onda verde

Preocupações animais e ambientais têm cada vez mais influência no prato dos paulistanos

Criadora do blog Virando Vegana, Bruna Coutinho Matos é uma mineira engajada nessa vertente alimentar que vem criando corpo na sociedade brasileira. Por meio de sua conta no Instagram, com aproximadamente 50 mil seguidores, ela compartilha experiências e dá dicas a quem busca uma alimentação variada sem o consumo de produtos de origem animal. A blogueira enxerga o ato de comer carne como um comportamento naturalizado. Não se via como adepta do movimento, mas o que a motivou a cortar de vez a proteína animal foi uma reportagem de dezembro de 2017 publicada no site da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) sobre o projeto “Segunda Sem Carne”, que pede ao poder público que inicie projetos que substituam pelo menos uma vez por semana pratos de origem animal pela vegetal na refeição da população.

Hoje, as pessoas falam muito mais sobre o veganismo e o vegetarianismo, considerados tabu antigamente. “Não se vendia o restaurante como vegetariano. Era vendido como comida orgânica e as pessoas nem percebiam que não tinha carne, por ser tão diverso”, comenta a psicóloga Ana Sanchez, proprietária do Super Natural Orgânicos & Saudáveis, estabelecimento de comida cem por cento vegetariana e orgânica na Zona Oeste de São Paulo.

Ana Sanchez, proprietária do Super Natural Orgânicos & Saudáveis
Beatriz Biasoto Giovannelli

Sanchez é uma das agentes dessa maior visibilidade do vegetarianismo. Ela participou do “Mesa Tendências”, em São Paulo, um evento que traz nomes importantes da gastronomia nacional e internacional para palestras sobre o tema, onde teve a oportunidade de dar uma aula sobre carne de jaca e conversar sobre vegetarianismo.

A questão ambiental também está envolvida nessa causa. Em 2014, foi lançado por meio de financiamento coletivo o documentário norte-americano “Cowspiracy: O Segredo da Sustentabilidade”, de Kip Andersen e Keegan Kuhn. Em setembro de 2015, estreou uma nova versão na plataforma de streaming Netflix, com novas informações adicionadas sob a produção-executiva de Leonardo DiCaprio. O filme vê a criação de animais para a alimentação como responsável por 30% do consumo de água mundial, fora que intensifica a liberação de gases agravadores do efeito estufa, como o gás metano.

Sanchez acredita que qualquer um poderia ser vegano, independentemente do poder aquisitivo. O acesso às leguminosas é fácil, basta cozinhar. “Caro é o consumo de luxo dentro desse segmento. Nozes são mais caras e, no lugar delas, você pode consumir as sementes. Se trocar carnes por verduras, não sai caro”, comenta. A expressão “veganismo gourmetizado” é bastante adequada nessa situação, segundo Robson Fernando de Souza, autor do livro “Direitos Animais e Veganismo: consciência com esperança”.

Novos hábitos alimentares têm surgido no dia a dia paulistano
Beatriz Biasoto Giovannelli

Leonardo Luvizetto, barman vegano da periferia de Campinas, entretanto, não acredita que seja tão fácil aderir ao movimento. Ele explica que há muitas pessoas que recebem cesta básica na periferia, que não conseguem comprar seus próprios alimentos. “A periferia não tem a consciência de olhar produtos veganos e orgânicos num supermercado e reconhecer que são para ela. Muitas vezes não tem o básico de informação sobre o assunto. Imagina então comprar um produto vegano. É bem complexo”, observa Luvizetto.

Outra questão defendida pelos vegetarianos é a saúde. “Há alguns benefícios que as dietas vegetariana e vegana podem trazer para a saúde, como a diminuição do colesterol, o retardamento do câncer, a manutenção da glicose sanguínea e a prevenção de doenças cardiovasculares”, aponta a nutricionista Ana Bianca Sessa. O acompanhamento de um bom profissional, que planeje uma boa dieta vegetariana para suprir a falta da carne, facilita a obtenção dos nutrientes necessários como ferro, proteínas e carboidratos.

Existem alguns restaurantes no mundo que não servem carne e possuem a estrela no consagrado Guia Michelin, uma das classificações gastronômicas mais importantes. Algo impensável há poucos anos. É a partir dessas pequenas manifestações de mudança nos padrões das refeições que a sociedade se alimenta de novas perspectivas e ideais. Na cidade de São Paulo, isso não poderia ser diferente.