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Por Guilherme Goya e Luca Castilho Edição #64

Suor dentro e fora do tatame

O karatê é uma das novas modalidades olímpicas. Entenda como funciona o desafio dos atletas brasileiros para participarem da competição em 2020

Dia 3 de agosto de 2016 sempre será lembrado pelos amantes do karatê. Foi quando os karatecas receberam a notícia de que o esporte seria a mais nova modalidade nas Olimpíadas de 2020, em Tóquio. Só no Brasil, de acordo com a Confederação Brasileira de Karatê, são mais de um milhão de praticantes registrados. Terceira colocada no ranking mundial de 2017, a maior Nação da América do Sul mostra sua força no novo esporte olímpico.

Bicampeão Mundial, em Belgrado, na Sérvia, e Bremen, na Alemanha, o brasileiro Douglas Brose iniciou na modalidade aos 7 anos e foi um dos principais articuladores do projeto de inserção do esporte nas Olimpíadas. “Já tínhamos uma quantidade enorme de praticantes no mundo inteiro, todos os circuitos continentais, mundiais, jogos sul-americanos, europeus, asiáticos. A cereja do bolo que faltava era o karatê estar nos jogos olímpicos”, comemora.

Não será fácil para os karatecas a classificação nas Olímpiadas. São dez vagas por categoria e apenas um representante por país. Uma vaga é assegurada para o Japão, sede do evento em 2020. Quatro vagas serão cedidas para os melhores no Ranking Mundial da Federação Mundial de Karatê, enquanto outras duas serão oferecidas de acordo com eventos continentais. As três vagas restantes vão para os melhores atletas do Evento Classificatório em Paris, previsto para maio de 2020.

Para subirem no ranking mundial, os atletas precisam participar de mais de 20 etapas pelo mundo. A maioria delas acontece na Europa e na Ásia, e esse é o maior empecilho para os brasileiros. O custo com inscrição, passagem e hospedagem é elevado e são poucos os atletas que contam com apoio financeiro governamental e de patrocinadores. “Hoje o mais difícil para os atletas é ter recursos financeiros para se manter em nível competitivo participando de vários eventos”, ressalta Brose.

O maior incentivo financeiro por parte do Governo Federal vem pelo Bolsa Atleta, que oferece um valor mensal aos esportistas. O auxílio se divide em seis categorias: Base, Estudantil, Nacional, Internacional, Olímpico/Paralímpico e Pódio. É a última que cede o apoio financeiro mais alto, com bolsas de oito a 15 mil reais por mês, e abrange apenas os atletas que figuram entre os 20 primeiros colocados no ranking mundial de sua categoria. Em agosto de 2018, foi publicado no Diário Oficial da União os atletas regularizados a receber o auxílio mais alto. Entre os karatecas, apenas quatro foram contemplados: Douglas Brose, Hernani Veríssimo, Valéria Kumizaki e Vinícius Figueira.

Se para os atletas consagrados no karatê a dificuldade já é grande, para os jovens é maior. Juliana Oliveira, karateca de 18 anos, quer alcançar seu sonho de participar da competição. No início de 2018, o Ministério do Esporte cortou a bolsa atleta destinada aos karatecas, deixando muitos sem um dos principais incentivos financeiros. Para continuar lutando pelo seu objetivo, além dos incansáveis treinos, Oliveira tomou a iniciativa de vender doces como fonte de renda. “Eu não tenho patrocínio e sem o Bolsa Atleta ficaria impossível de conseguir dinheiro para as viagens. O governo voltou com o Bolsa Atleta. As inscrições abriram agora, ainda não recebemos o dinheiro, mas já é uma esperança. Com o Bolsa Atleta já é difícil, agora sem ele, é impossível”, relata.

Outra fonte de incentivo financeiro vem por meio da própria Confederação Brasileira de Karatê (CBK). Segundo Luiz Carlos Cardoso, atual presidente, a CBK oferece auxílio nos custos com inscrições e hospedagens dos atletas sênior, além da gratuidade do uniforme para os atletas da seleção brasileira. Cardoso ressalta estar animado com a qualidade dos brasileiros e ansioso pelo resultado das Olimpíadas de 2020.

“A CBK tem um projeto próprio de incentivo aos atletas conforme os resultados obtidos. Dependendo dos resultados em um ano, no seguinte eles têm isenções de taxas e alguns custos para atletas que entram na Seleção Brasileira”, completa o presidente da Confederação sobre os auxílios financeiros.