Faces do ensino - Revista Esquinas

Faces do ensino

Por Beatriz Oliveira, Laís Barison e Samirah Melo : agosto 22, 2018

Escolas estaduais de São Paulo apresentam realidades bem diferentes

Existem 8.932 escolas estaduais no município de São Paulo. Entretanto, o nível de qualidade de ensino entre elas é bastante diferente. Essa taxa é medida pela Secretaria da Educação do estado por meio do Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo (Idesp). O indicador varia numa escala entre zero, quando a defasagem da escola é máxima, e dez, quando é mínima. A pesquisa avalia o fluxo escolar estudantil e o desempenho dos alunos nos exames do Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp), também da secretaria.

No Capão Redondo, extremo sul da cidade de São Paulo, a Escola Estadual (E.E.) Maud de Sá Miranda Monteiro dá aulas do ensino fundamental, acima da média (5,31), ao médio, abaixo (3,5). Embora localizada em bairro periférico, a instituição consegue atender às expectativas de qualidade de ensino do Idesp. Maria Aparecida Aguiar, diretora da escola, conta que no último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), oito estudantes conseguiram vagas em universidades públicas, como a Universidade de São Paulo. Essa preocupação com o aluno vem desde o início dos estudos, pensando no bem-estar de cada um para que não haja casos de evasão escolar.

Em 2017, do total de 1.500 alunos da Maud de Sá, apenas seis abandonaram a escola. O que contribui para esse percentual ser baixo é o trabalho que a equipe docente realiza de sempre cobrar a presença dos pais na vida escolar dos estudantes. Pedem que a família compareça às reuniões e dê o máximo possível de apoio aos estudos dos filhos. Essa é uma questão considerada complicada, pois os parentes trabalham e as crianças ou adolescentes ficam sozinhos em casa, o que pode aumentar o desinteresse pelos estudos.

Impedidos

Projetos para maior integração com a vida escolar também são colocados em prática na Maud de Sá, como acontece com a questão de gênero, que costuma ser trabalhada na escola. “Todos se respeitam. Tem transgêneros tratados pelo nome social e que usam o banheiro feminino, por exemplo”, conta a diretora. Ao comentar sobre a infraestrutura, ela apontou a biblioteca, os laboratórios de ciência e informática e a quadra poliesportiva como pontos positivos do lugar. Mas há aspectos a serem melhorados, como a falta de rampas para alunos portadores de deficiência física. Para isso, o colégio aguarda a verba que não está sendo repassada para a Secretaria da Educação pelo Governo de São Paulo. “Estamos há um ano lutando para construir rampas na escola, mas até agora nada”, completou.

A E.E. Rene Muawad Presidente, no Parque América, também na zona sul, atende apenas alunos do ensino fundamental e sua nota no Idesp de 2017 foi de 6,41, considerada excelente para os padrões do índice. Ela é uma das escolas mais disputadas pelos moradores da região. A diretora do colégio, Ângela Regina dos Santos, faz o possível para manter um ambiente agradável para as crianças a fim de continuarem se interessando pelos estudos. Santos aproxima o corpo docente e os alunos nas tarefas diárias e integra estudantes com deficiência cognitiva com os demais alunos da sala de aula. A esses estudantes, os professores adaptam as matérias para que realmente aprendam. Lélia Costa, professora do quinto ano na instituição, afirma que nunca houve problemas de desrespeito entre os demais alunos da classe e essas crianças.

Estudantes promovem campanhas para as chapas na Rene Muawad
Laís Barison

O colégio iniciou o projeto de Grêmio Estudantil para o estudante se engajar mais com as causas escolares. Mesmo com idades entre 6 a 10 anos, os alunos formam suas chapas e propõe melhorias ao corpo discente. A administração do Rene Muawad também se preocupa com a alimentação dessas crianças. Por isso, oferece um cardápio de merenda saudável e, por meio de cartazes, incentiva o consumo de frutas, verduras e a menor venda de salgados industrializados e refrigerantes.

Alunos se engajam e preparam cartazes para a votação da chapa de grêmio estudantil
Samirah Fakhouri

Contraste

A E.E. Rodrigues Alves, na Bela Vista, na região central da cidade, atende 1.600 alunos do ensino fundamental, nos períodos matutino e vespertino, e do programa de supletivo de Educação de Jovens e Adultos (EJA), no período noturno. O Idesp atribui o valor de 5,41 para a qualidade de ensino do fundamental e 3,62 para a EJA. Há seis anos, Donizete Hernandes Leme, formado em História, tornou-se diretor da instituição. Para ele, é “uma escola de passagem localizada em um dos maiores centros financeiros de São Paulo”. Leme vê grandes diferenças entre o colégio e outras estaduais da cidade, como a estrutura e a facilidade de locomoção dos alunos, por ser em um lugar bem localizado.

Sobre a vivência dos estudantes em escolas públicas, Donizete Leme defende um crescimento pessoal mais democrático dos seus alunos em relação aos de escolas privadas. Pela localização, existe a possibilidade de conectar um aluno de classe baixa a outro de classe média e fazer com que vivam as disparidades presentes na sociedade. Porém, também distancia o professor do aluno e da comunidade em volta da escola, já que são estudantes de diversas regiões da cidade e de diferentes classes sociais.

A fachada antiga e bem cuidada na avenida Paulista contrasta com o local das aulas em si, que transmite a sensação de que foi deixado de lado: um ambiente escuro, com pouca manutenção e algumas instalações abandonadas, por ficar na rua ao lado, sem tanta visibilidade. Dona Marivalda é mãe de um aluno da Rodrigues Alves e se tornou voluntária da instituição. Ela ajuda nos horários de entrada e saída dos estudantes durante a tarde. Val, como prefere ser chamada, Contou que somente alguns pais são participativos e ajudam na manutenção do prédio, resolvendo casos de infiltração ou suprindo a carência de inspetores, por exemplo.

Tanto Val quanto o diretor acham o colégio rígido e enxergam casos de bullying, mau comportamento ou desrespeito aos professores. Pais são acionados constantemente quando necessário. Uma alternativa, na visão da voluntária do colégio, seria organizar uma palestra que abordasse o assunto da violência estudantil nas escolas.

Atraso

A localização da escola também influencia nos problemas apresentados. Assim como a E.E. Maud de Sá, a Afiz Gebara fica na região periférica do Capão Redondo, mas em uma área sem comércio e menos valorizada, aumentando as taxas de criminalidade ao redor. A diretora lembrou de um caso recente de furto em frente ao colégio em que um morador do bairro roubou um dos alunos na rua da Afiz.

Por conta da grande demanda de alunos, aqueles que portam deficiência cognitiva não possuem atendimento especial. A escola não recebe estudantes portadores de deficiência física. A explicação: foi construída em 1991, inicialmente como um barracão, e depois se tornou instituição de ensino, sem passar por reformas desde então. A estrutura não conta com rampas nas partes externa e interna da construção, por exemplo, para facilitar a locomoção desses alunos.

O ensino das escolas estaduais de São Paulo depende não apenas da sua localização, como costuma-se pensar, mas também da dedicação da instituição, do corpo docente e da comunidade em que estão inseridas. A relação dos colégios com os alunos altera os fatores do Idesp. Além de ensinar, a escola desempenha o papel de formar cidadãos para a sociedade, e não apenas pessoas para serem aprovadas em provas. Cada uma tem sua particularidade e cabe ao Governo do Estado, às escolas, à família e aos próprios estudantes a qualidade do ensino dessas escolas.