Estudiosos da Faculdade Cásper Líbero debatem sobre a brasilidade e a representação identitária e artística no País
Se para o antropólogo francês Claude Lévi-Strauss o conceito de cultura tem como significado “um sistema simbólico que é uma criação acumulativa da mente humana”, nada mais justo do que trazer uma mesa de debate sobre as representações das identidades brasileiras nas artes. A roda de conversa do terceiro dia da programação da 2ª Semana de Comunicação da Cásper contou com a presença de Alexander Hilsenbeck, Fabiano Mina, Giulia Garcia, Jorge Paulino e Sandra Goulart.
Paulino, que abriu as discussões, iniciou sua fala citando o pintor neoclássico francês Jean-Baptiste Debret, que integrou a Missão Artística Francesa de 1816. Segundo o professor, o artista possui dois pontos importantes: o reconhecimento como um pintor histórico, que retrata o Brasil Colônia e a corte portuguesa, e suas obras como um pintor de tipos humanos, costumes e paisagens locais. Uma das críticas a Debret propostas por Jorge Paulino no debate poderia ser aplicada em diálogos atuais é que os retratos eram feitos a partir de pinturas de outros artistas, alguns presentes no livro Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil. O retrato do retrato, do subjetivo ao mais subjetivo.
Com suas pinturas, Debret inicia o que podemos chamar de identidade brasileira, mostrando até mesmo a exposição dos seres humanos — fato que desagradava aqueles que acreditavam que os negros e índios não eram maltratados em solo brasileiro. Aproveitando o gancho, Alexander Hilsenbeck apresentou a pintura a óleo A Redenção de Cam, do espanhol Modesto Brocos. O professor falou da miscigenação e do colorismo brasileiros, presentes na obra, a qual faz referência à passagem bíblica de Cam, que por anos foi utilizada por defensores da escravidão negra como um argumento para afirmá-la.
Cronologicamente, após os anos 1920, um movimento contrário tomou conta do Brasil. A busca pela união e inserção dos negros na sociedade, uma tentativa atribuída à Era Vargas para criar uma identidade brasileira. Segundo Gilberto Freyre, autor de Casa Grande e Senzala, as identidades são construídas a partir de narrativas, sendo, assim, o que falamos. Ou cantamos, como mostrou Giulia Garcia, ao apresentar as músicas Aquarela do Brasil e Canto das Três Raças. Cada uma apresenta uma narrativa distinta sobre a relação das minorias étnicas no País.
A presença dos índios na Arte Contemporânea foi o tema central das colocações da professora e antropóloga Sandra Goulart. O Movimento dos Artistas Huni Kuin (MAHKU) leva a arte indígena aos olhos de quem não tem contato com o tema. Idealizado por Ibã Sales, do Jordão, no Acre, o coletivo procura fortalecer a tradição e o idioma huni kuin por meio da arte, explorando desde pinturas a projetos audiovisuais. A arte huni kuin já foi exposta em Paris e no Instituto Tomie Ohtake em instalações do artista plástico carioca Ernesto Neto.
O filósofo Fabiano Mina apresentou aos alunos Slavoj Žižek, pensador e crítico cultural esloveno que se mostrou polêmico ao público. Para o autor, resumidamente, o real problema encontra-se nas múltiplas identidades. Ele acredita que existe uma única identidade e os problemas nascem da violência.
Entre tantas discussões, os presentes no debate não saíram com todos os questionamentos sanados. Nem seria possível. Foram embora da roda de conversa com uma ebulição de ideias para repensar, aliás, ressignificar o que é ser brasileiro.