Duas correspondentes se sentam para debater sobre o jornalismo internacional no Brasil
Algumas pessoas pensam que cobertura internacional não dá audiência. Sonia Blota e Marie Naudascher discordam dessa frase durante a discussão na a 2ª Semana de Comunicação Cásper Líbero. A primeira é correspondente internacional da TV Band, enquanto a segunda, jornalista freelancer de veículos francófonos, como as rádios RTL e Europe 1. Seguiram caminhos parecidos, mas ao mesmo tempo opostos: Blota passou sete anos fora cobrindo notícias do continente europeu e Naudascher, natural de Paris, na França, chegou ao Brasil há oito anos.
A francesa decidiu, em 2010, aos 23 anos, viajar ao território brasileiro para ser correspondente por aqui. “Como eu não tinha filhos e família construída, pensei ‘é agora ou nunca que eu posso tentar ser correspondente no exterior’”, relata. Escolheu o País pelas boas relações diplomáticas que o Brasil tem com a França e por conta das pautas variadas que os noticiários permitem, diferentemente do México, por exemplo, que se volta para reportagens relacionadas à política, economia e segurança nacionais. Virou-se para aprender o português e arcou os custos por conta própria. Se em dois anos nada desse certo, pelo menos voltaria à capital francesa sabendo mais uma língua. Mas não foi o que aconteceu e permanece aqui até hoje, com um sotaque quase irreconhecível.
Já Blota, brasileira por nascença, ao trabalhar na Europa como repórter guerra. “Não se trata de você ficar famoso, mas sim de recordar um drama de um mundo para outro”, comenta a correspondente. “Depois dos atentados, a Europa se tornou outra Europa. Principalmente com a questão dos imigrantes”, comenta. Ainda lembra que o Brasil possui própria guerra também. Ela enxerga no seu país de origem certa glamourização da TV. Jornalistas dos principais canais de televisão são tratados como celebridades, escoltados por seguranças e policiais, perseguidos para um autógrafo. Na França, terra natal de Marie Naudascher, não.
Simpática, a profissional da TV Band considera a prática jornalística como uma espécie de paranoia. É pensar constantemente, “durante um encontro, na hora de deitar-se na cama, comendo”, que o mundo não para e o que se está apurando deve ser checado em todos os momentos a fim de evitar as fake news, fenômeno que tomou os jornais pelo menos desde 2016. “Às vezes, você não dorme tranquila”, desabafa.
As diferenças entre o jornalismo brasileiro e o francês não impedem que Blota e Naudascher continuem apaixonadas pelo que fazem. “Não é porque é longe que você vai conseguir se safar”, brinca a parisiense ao falar da ética jornalística. Todas as edições devem ser feitas com cuidado, já que o trabalho de um correspondente costuma se basear em traduções de depoimentos. De qualquer forma, as jornalistas defendem as reportagens internacionais com orgulho e não se arrependem do caminho traçado por elas.