Em 2018, como paulistanos manifestaram seus ideais para além das urnas?
Ao longo do processo eleitoral, principalmente durante o início do segundo semestre de 2018, discutiu-se sobre a necessidade do exercício da cidadania diante de um cenário tão polarizado. O segundo turno das eleições foi composto por apoiadores de Jair Bolsonaro (PSL) – que saiu vitorioso –, outros que defendiam a candidatura de Fernando Haddad (PT) e aqueles que preferiam votar nulo ou branco.
Para além das urnas, alguns pensam que a escolha consciente de um candidato não é a única forma de praticar o que os gregos ensinaram nas ágoras na Antiguidade Clássica. A forma com que eleitores estabelecem suas relações sociais ou se engajam em projetos democráticos ao seu redor, desde a reunião de condomínio até o grêmio estudantil; os tipos de músicas que ouvem; as roupas que vestem diariamente. São todos exemplos da política em nível micro, ponto de partida para analisar os signos que a sociedade incorpora.
Para a jornalista Ana Augusta Ribeiro, a função da moda vai muito além da indumentária. “Se vestir é um ato político simplesmente porque é uma ação que conta visualmente, ainda que à primeira vista, a história de cada indivíduo”, afirma. Ribeiro acredita também que as roupas dizem muito sobre a economia que circula e o momento histórico vivido de cada local.
Pelas cidades, também é comum encontrar a insatisfação com o sistema político brasileiro em geral. Os grafites e lambe-lambes (espécies de pôsteres artísticos) ganham as ruas expondo críticas a candidatos e partidos. Jair Bolsonaro, por exemplo, deu origem ao movimento #EleNão, que ultrapassou as redes sociais para denunciar a violência política e social contida no discurso do futuro presidente. Em São Paulo, o governador eleito João Doria foi alvo de chacotas após intitular-se como gestor, e não político, em 2016, quando se candidatou à Prefeitura da cidade, cargo do qual ele abdicou para concorrer às Eleições de 2018.
O Teatro da Pontifícia Universidade Católica (Tuca), palco de inúmeras violências físicas e morais praticadas contra os estudantes durante o período da Ditadura Militar, tem um monumento que traz consigo o termo “anistia”. O objeto chegou ao Tuca logo após a instauração da Lei da Anistia, em 1979, que inocentou os criminosos políticos do regime militar.
As ruas não são o único cenário destas mensagens. Na zona oeste paulistana, a exposição Água da palavra / Quando mais dentro aflora aborda temas como a resistência, intrínseca na obra Galáxias, uma disposição de pratos que contém verbos no infinitivo em homenagem ao falecido poeta Haroldo de Campos, que muito refletiu sobre literatura. A luta feminina também é representada na obra da salvadorenha Abigail Reyor: uma bandeira com a frase “mulher prevenida vale por duas” violentamente deturpada por operários próxima a uma construção civil. Dessa forma, em meio a tantos signos e representações presentes no cotidiano, fica mais fácil questionar: o que não é política?