Natural de Dois Riachos, a jogadora foi eleita seis vezes a melhor do mundo
Marta Vieira da Silva se consagrou rainha do futebol em uma época que as mulheres não tinham espaço dentro do esporte. Foi um dos maiores desafios para a ascensão do seu legado dentro dos gramados. Apesar das dificuldades, conseguiu mudar o rumo e a imagem do futebol feminino, tornando-se a voz contra discursos de machismo dentro do cenário esportivo mundial.
Nascida em 19 de fevereiro de 1986, a alagoana tem origem humilde. Cresceu em Dois Riachos sem o pai, que abandonou a mulher e seus quatro filhos quando Marta tinha apenas 1 ano. Foi criada pela mãe e pela avó em uma sala de apenas dez metros quadrados. Desde criança, jogava futebol com os meninos de sua cidade em um rio seco do sertão nordestino. O talento incomodava os meninos, que sempre ameaçavam machucá-la. Fora do campo, trabalhava na feira local como vendedora de roupas e carregadora de compras, sem deixar de fazer aquilo que mais gostava na vida, jogar futebol.
A história profissional da campeã de 33 anos começou cedo, no ano 2000, quando decidiu enfrentar o mundo: viajou para o Rio de Janeiro com apenas 360 reais no bolso. A jovem com 14 anos à época conseguiu um teste nos times do Vasco da Gama e do Fluminense. Seu talento despertou a atenção do primeiro. Depois de algumas partidas e transações internas do clube, a jogadora foi contratada em 2004 pela Umea IK da Suécia, onde conquistou a Liga dos Campeões de Futebol Feminino da UEFA, um dos principais campeonatos do mundo.
Ganhando cada vez mais espaço, a jovem Marta mostrou sua garra ao lutar contra o preconceito, a opressão e o machismo que surgiam a cada nova etapa de sua carreira. Em 2008, ganhou o título de melhor do mundo pela primeira vez e, logo após, foi contratada pela equipe americano Los Angeles Sol, na qual foi artilheira da liga nacional. A fama internacional chegou, e Marta retornou ao Brasil, emprestada para o time do Santos. A vitória na Copa Libertadores Feminina e na Copa do Brasil veio na certa.
Vestindo a camisa amarela
A história com a Seleção Brasileira começou em 2003, com apenas três anos de carreira. Marta disputou os Jogos Pan-Americanos e subiu ao pódio para receber a medalha de ouro. No ano seguinte, foi prata nos Jogos Olímpicos de Atenas. Na Copa do Mundo de Futebol Feminino de 2007, foi a vencedora da Bola de Ouro e levou o Brasil à segunda colocação no campeonato. Oito anos depois, a jogadora superou o Rei do Futebol brasileiro, Pelé, completando 117 gols com a camisa verde e amarela, se tornando a maior artilheira da história da Seleção Brasileira – tanto da equipe masculina, quanto da feminina.
Na edição deste ano da Copa do Mundo Feminina – a quinta na carreira da atleta –, ainda busca uma conquista com a Seleção Brasileira. Na França, onde acontece o evento desde o dia 7 de junho até 7 de julho, Marta tem o enorme desafio de finalmente vencer uma Copa. Em preparação, a “Rainha” demonstra confiança no torneio.
Até agora, a jogadora não entrou nos gramados franceses devido a uma lesão na coxa esquerda durante a preparação para o campeonato. A estreia contra a Jamaica no último domingo (9) deu vitória à seleção brasileira de 3 a 0. Sem Marta, o ataque do Brasil está “nos pés” de Cristiane e Bia Zaneratto. Entretanto, há chances de a atleta participar da próxima partida nesta quinta-feira (13), às 13h. O time vai defender a liderança do Grupo C contra a Austrália – uma vitória garante às brasileiras a classificação para a próxima fase.
Muito se fala sobre a desvalorização do sexo feminino no esporte ao redor do mundo. Apesar de ter mais títulos que muitos homens do futebol, como Messi e Cristiano Ronaldo, Marta recebe um salário abaixo da média. Não foi motivo para desistir. Em julho de 2018, a ONU Mulheres anunciou a nomeação da atleta como Embaixadora da Boa Vontade para mulheres e meninas no esporte. A jogadora sempre dedicou seus esforços para apoiar o trabalho pela igualdade de gênero em todo o mundo, mostrando o que sabe fazer de melhor. Hoje, Marta defende a camisa do americano Orlando Pride e, com o sexto título The Best FIFA nas mãos, é a prova de que mulheres são capazes de conquistar seus sonhos e se tornarem inspiração para toda uma futura geração.