Em São Paulo, as principais reivindicações foram por melhores condições ambientais no País
Movida mundialmente pela ativista Greta Thunberg, a Greve Internacional pelo Clima chegou a São Paulo no calor de uma noite nublada de fim de inverno, levando cerca de 15 mil pessoas a caminhar do Trianon Masp até a Praça Roosevelt, na última sexta-feira (20). No Brasil, o ato combatia principalmente ao aquecimento global, desmatamento e contra o próprio ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, com gritos de “Fora Salles” ecoando esporadicamente. Organizada por dezenas de movimentos, três partidos – Psol, PT e Rede Sustentabilidade – também estavam presentes na manifestação, mas sem ter como prioridade suas pautas partidárias.
O ato se dividiu em duas grandes reivindicações. O primeiro, erguido pelo cunho político-partidário de pautas como o ecossocialismo e a crítica e a revolta contra o sistema de consumo capitalista. No outro, retornavam-se alguns dos tons que clamavam pelo apartidarismo em 2013. Contudo, ao contrário do ano das marchas, o apartidarismo pregado não reivindicava uma revolta, mas uma união abertamente política e plural em defesa do desenvolvimento sustentável. “Não tem direita, não tem esquerda, porque todo mundo vive no mesmo planeta”, declarou o ex-porta-voz da Rede Sustentabilidade, José Gustavo, de 30 anos. “Idoso, jovem, trabalhador, empresário, professor, estudante, nós estamos habitando o mesmo planeta e se esse planeta não existir, não existe mais vida”, completa.
Para Gustavo, greves como essa mostram que o mundo está tomando uma consciência da necessidade de preservar o meio-ambiente. “Trazer as pessoas para a rua é fundamental. A rua sempre deve ser ocupada pelas questões públicas, essa é uma das mais fundamentais”, afirmou.
Os principais cantos da noite lembravam, em geral, os das manifestações do Ele Não. O tradicional “Vêm, vêm pra rua, é pelo clima” e os novos “Quem não pula é ruralista”, “Ô, Bolsonaro, você não presta! Você não sabe o preço da floresta! ”. Contudo, nenhum grito vingou até o final da noite, em muitos momentos deixando uma aura incômoda de silêncio. Silêncio quebrado pelos risos das crianças presentes, que brincavam, hora descendo de patinete pela rua com uma faixa “Lula Livre” amarrada na cabeça hora correndo sob a bandeira gigante escrita “SOS Clima”.
Apesar do clima leve ter cercado a manifestação, houveram críticas contrárias a massa de pessoas que se manifestava. Um entregador atravessou os manifestantes gritando “vai trabalhar, vagabunda” e mecânicos fizeram gestos obscenos, direcionados principalmente às mulheres. O ato seguiu com um corpo de policiais militares de olhar fechado e cara amarrada, que, ao final, empurraram os manifestantes com escudos para a calçada. Uma chuva leve, mas contínua, cobriu os manifestantes, fazendo o ato terminar pontualmente às 21h30 na Praça Roosevelt. Bonecos de papel machê molhados pela chuva imitavam o presidente Jair Bolsonaro como um pinóquio e Ricardo Salles.
No dia foi declarado oficialmente o lançamento do Fórum Socioambiental – grupo de de organizações que pretende criar um espaço para debater questões ambientais – que começará em 2020. O primeiro Ato Global pelo Clima levou milhões às ruas pelo mundo e quinze mil na maior cidade da América Latina. O Brasil, no entanto, decidiu não receber a COP 25 e seu Ministro do Meio Ambiente insiste na falha de comunicação como principal problema do Ministério. Ainda é preciso lembrar que essa é a primeira manifestação de escopo mundial em defesa de uma pauta ambiental comum.