Entre estabelecimentos antigos e modernos, a Alameda Jaú abriga vidas e contradições
Pés que caminham pelas noites tranquilas da Alameda Jaú não imaginam que essa explosão aconteceu na esquina com a rua Augusta em uma outra noite tão calma quanto aquela. Quem apagou o fogaréu das roupas do servidor da Eletropaulo foi Fabiano Aurélio, sommelier e fundador da Wine Bar, espaço consagrado pelos amantes de vinho. “Estourou. Tinha dois funcionários trabalhando lá embaixo e o gás estourou. Eles saíram tombando e um deles veio até aqui, em chamas, pedindo para eu rasgar a roupa dele”, relembra Aurélio. Entre a degustação e o desespero, esse é só o primeiro dos desacordos da Jaú.
Pés que passeiam pela região não precisam ir muito longe para ouvir os zumbidos das máquinas de tatuagem funcionando no Skink Tattoo. Bruno Matheus, figura de voz grossa que comanda o estúdio, cativa ao contar sobre a tranquilidade e segurança “jauense”. Ele não gosta de aparecer em fotos, mas faz questão de mostrar seu espaço a quem desejar.
Pés que sobem em direção à esquina com a Campinas não esperam encontrar, apertado entre hotéis e restaurantes da moderna alameda, um ateliê de costura, onde Dezú e sua filha Marlúcia Santos Motta reformam roupas há 30 anos. O refúgio das tímidas costureiras fixou-se no atual endereço em 1994.
Pés inquietos que descem a rua buscam, durante o dia, uma forma de viajar para outros universos. Thiago Aurélio, vendedor de uma loja de histórias em quadrinhos, até já pensou em se mudar para um ponto mais movimentado na cidade. Porém, com leitores fiéis, a Comix Book, loja em que trabalha, mantém-se há mais de duas décadas na esquina com a Rebouças.
No mesmo lugar, durante a noite, pés se esticam em cadeiras de praia para curtir o happy hour do Pé na Porta. Jovens se reúnem nas calçadas para jogar conversa fora e relaxarem longe da rotina estressante. Para Leandro Quirino, aniversariante em uma terça-feira, o caminho de Poá até a Jaú fica curto se for para comemorar mais um ano de vida com os amigos.
Pés que não param de caminhar são surpreendidos por um sapateiro ambulante. De nome sugestivo, Messias deixou pai e irmãos na Bahia para tentar a vida em São Paulo. O destino quis que esbarrasse na Jaú, com sua mala debaixo do braço e sorriso esperando o momento certo. Seu sonho, na verdade, era ser cantor ou locutor de rádio, mas só as ruas da Jaú sabem ouvir o que sua voz pode fazer.
Entre a tranquila, diversa e cativante alameda, os pés seguem caminhando e o sapateiro, cantando…