Um grande marco da astronomia, telescópio espacial nos ajuda a conhecer e entender o universo
Em 24 de abril de 1990, foi lançada uma nova fase na observação espacial e nas buscas por respostas sobre a criação da vida. Da base da NASA na Ilha Merritt, o telescópio Hubble foi ao espaço com o ônibus espacial Discovery. Medindo mais de 13 metros de comprimento e quatro de largura, o equipamento é responsável pelas imagens mais nítidas e importantes que temos do universo.
Para comemorar seus trinta anos, a NASA disponibilizou a visão de Hubble no dia do seu aniversário.
Mesmo com um espelho relativamente pequeno — de 2,4 metros de diâmetro — o telescópio consegue captar imagens melhores do que seus similares de mais de oito metros aqui na Terra. Isso se deve à atmosfera. “É como se você estivesse observando de dentro de uma piscina. O que acontece é a refração. Quanto mais ar, mais refração, mais desvio da luz e a imagem fica deformada. Sem a atmosfera [ele está a 570 quilômetros da Terra], não há deformação, fica uma imagem pura”, explica Ednilson Oliveira, pós-graduado em astrofísica pela USP.
A primeira missão do satélite foi averiguar uma lei proposta pelo astrofísico que lhe cedeu o nome, Edwin Hubble. Sua teoria de que o universo se expande a uma certa taxa de crescimento nunca foi comprovada pelos pesquisadores na Terra. Porém, analisando Cefeidas (estrelas com luz variável), Hubble constatou que sim, o universo está crescendo!
“As galáxias estão se afastando numa velocidade proporcional à distância entre elas. Então quanto mais longe uma está da outra, mais rápido ela começa a se distanciar. Isso quer dizer que um dia elas já estiveram próximas, consolidando a teoria do Big Bang”, diz Ana Paula Monteiro, engenheira aeroespacial.
Voando a mais de 28 mil quilômetros por hora — esse cara consegue dar 14 voltas na Terra em um dia — e pesando 12 toneladas, logo no início ele já precisou de reparo. Por causa de um erro nos cálculos, seu espelho tinha uma deformação menor que um fio de cabelo, mas que era suficiente para deixar as imagens fora de foco. Assim, em 1993, um ônibus espacial foi até ele para que fosse instalada uma outra lente que corrigisse o erro. Aliás, ele já passou por cinco missões de reparo, o que prolongou sua vida útil em muitos anos.
Mais de 1 milhão de fotos foram tiradas por Hubble nesses 30 anos, resultando em muita história e mais de 15 mil artigos científicos. Um fato curioso é que suas imagens não são coloridas. “Ele traz informação de cada frame da foto do comprimento de onda, e, por meio dessa informação, é feito um tratamento que a colore”, explica Monteiro.
Com as imagens, os limites do universo observável são estudados, e, quanto mais longe vemos, maior é a viagem no tempo. Por causa da distância, a luz das estrelas e corpos celestes demora para chegar na Terra, então o que vemos são objetos do passado. Hoje, conseguimos observar até o primeiro ou segundo bilhão dos 13,6 bilhões de anos de idade que os modelos atuais propõem para o universo.
“Os objetos muito distantes têm uma ‘magnitude’ muito grande e quanto maior ele for, menos brilhante. Nosso olho enxerga até magnitude seis da Terra. Os objetos mais distantes, do início da criação, têm magnitude 20”, afirma o astrofísico Oliveira. O Hubble já nos ajudou a identificar vários planetas, além de luas de Plutão, matéria negra e moléculas orgânicas em asteróides e planetas.
Porém, a engenheira aeroespacial chama atenção ao fato de que com o passar do tempo algumas peças do telescópio vão ficando obsoletas e as missões tripuladas para repô-las são de alto custo. A NASA, em parceria com as agências espaciais europeia e canadense, está desenvolvendo o sucessor do Hubble, o telescópio espacial James Webb.
Esse novo equipamento será importante para vermos ainda mais longe no universo e no passado. “A luz das estrelas mais distantes já se aproxima muito ao espectro infravermelho. Como o James Webb terá melhores sensores para esse comprimento de onda, será possível visualizar ainda mais o universo primordial”, aponta João Braga, chefe da divisão de astrofísica do Instituto Nacional de Pesquisas Aplicadas (INPE).
Ele explica, porém, que o universo, em seu início, era superconcentrado. Até os 380 mil anos depois do Big Bang, a luz emitida era imediatamente absorvida, ele era opaco à sua própria radiação. “Assim, mesmo com os novos equipamentos, não será possível observar o espaço para antes dessa época”, diz Braga.
Telescópio espacial James Webb, previsto para ser lançado em 2021, será ainda mais avançado que Hubble
Muitas previsões já foram feitas quanto ao lançamento do James Webb. A primeira era para 2007, mas depois de muitos adiamentos por problemas técnicos e com a duplicação de seu custo — que hoje beira os US$10 bilhões — a ida dele ao espaço deve ficar apenas para 2021. E a pandemia de coronavírus pode esticar esse prazo ainda mais, já que muitos pesquisadores estão tendo que deixar os laboratórios temporariamente.
“Investir em ciência básica para construir as tecnologias necessárias dará um subproduto de algo que você usa no dia a dia, na sua casa. Por exemplo, o próprio desenvolvimento dos computadores”, afirma o astrofísico Oliveira, ressaltando a importância do desenvolvimento dos telescópios. João Braga completa: “O valor da pesquisa desenvolvida não pode ser contado em dólares, mas sim em conhecimento devolvido para a sociedade”.
É indiscutível o avanço conquistado nos estudos científicos pelo Hubble nesses 30 anos. Só podemos desejar, então, um feliz aniversário!
Se você quiser saber onde o Hubble está neste momento, é só acessar esse link: http://www.satview.org/?sat_id=20580U&lang=br#
Encontrou um erro? Avise-nos: [email protected].