Novo rodízio começou ontem (11) e gerou reclamações. Apesar de ter aumentado o isolamento social, foi responsável por aglomerações nos transportes públicos.
A restrição da circulação de metade da frota dos automóveis da cidade de São Paulo fez com que a taxa de isolamento social subisse e ficasse em 49%, ainda abaixo da expectativa da Prefeitura. O primeiro dia de implementação do “super rodízio” – segunda-feira, 11 de maio – também registrou diminuição significativa no trânsito da cidade. Porém, a demanda do transporte público aumentou, apesar de o Secretário de Transportes da Prefeitura, Edson Caram, ter dito o contrário: “Pelo que deu para se apurar, realmente um trânsito bem melhor, as ruas mais vazias e sem impacto no transporte público coletivo”.
Funcionando 24h por dia de domingo a domingo, a medida é uma tentativa da Prefeitura de aumentar a taxa de adesão ao isolamento social, que vinha diminuindo gradativamente na maior cidade do País. Desde ontem, veículos cujas placas têm final par podem circular apenas em dias pares do mês e os com final ímpar circulam em dias ímpares.
O congestionamento registrado na capital no chamado “pico da manhã” do dia 11, das 8h às 9h, foi de 1 km, segundo a Companhia de Engenharia do Tráfego (CET) — bem menos que o da semana passada, que somou 11 km. Já a lentidão ficou em 4 km, cerca de 17 km a menos que a semana anterior. Apesar de a diminuição ser notável, Caram afirma que “ainda não é o esperado, a população ainda está se deslocando de uma forma além daquilo que nós queremos”.
Mas a ineficiência da medida é explicada pelo aumento da demanda de transportes públicos na capital paulista. Ainda segundo o Secretário, a procura por ônibus aumentou em 10%, já a busca por metrô e trem subiu cerca de 15%, principalmente em estações com baldeação. Caram alega que a frota dos modais supriu a necessidade, até “menor que a expectativa” da SPTrans, que não usou todos os ônibus disponíveis.
A versão do Secretário de Transportes é contestada por usuários de transporte público na cidade. Tatiana Fátima de Almeida, de 41 anos, é secretária e mora no Ipiranga, na Zona Sul de São Paulo. Ela utiliza ônibus e metrô para chegar ao trabalho, e ressalta que o número de veículos à disposição ainda não é o suficiente. “Percebo que houve diminuição na frota de ônibus, e o metrô está demorando um pouco mais”. Ela também notou um aumento significativo de pessoas nesses transportes: “Observo todos os dias o aumento de pessoas. Com o rodízio, aumentou ainda mais”.
Uma das linhas do metrô mais afetadas foi a 5-Lilás, que registrou aumento de 11% no número de passageiros que, como Tatiane Ivo, de 30 anos, utilizam-na para ir ao trabalho. Além do metrô, ela também precisa pegar um ônibus para chegar ao hospital onde é recepcionista. Assim como a moradora do Ipiranga, notou um grande salto no fluxo de pessoas no transporte público. “O que eu vi foi ônibus cheio, metrô lotado e com demora de quase 10 minutos entre uma estação e outra. Fazendo, assim, com que as plataformas criassem aglomerações”, conta.
A acumulação de pessoas nesses ambientes também preocupa Ana Marchiori, 21 anos. Residente da Zona Leste, Ana é moquense e trabalha em Santana, Zona Norte da capital, na assessoria de imprensa da Coordenadoria Regional de Saúde Norte. “Com o novo rodízio, senti que o fluxo de pessoas estava bem maior que o normal. O ônibus encheu mais. Tinham pessoas de pé, o que não estava acontecendo antes”, afirma a jovem, que utiliza o transporte público para chegar ao trabalho.
Desde que foi anunciada a implementação do novo rodízio, em 7 de maio, as fundamentações técnicas e os estudos de impacto da ação foram criticados por especialistas e cidadãos. Isso levou o Ministério Público a pedir esclarecimentos sobre a medida à Prefeitura de São Paulo e à CET. Hoje, 12 de maio, o MP deu parecer favorável à suspenção do rodízio. O pedido foi feito pelo vereador Fernando Holiday (DEM), cuja liminar foi negada pela Justiça paulista.
Até o momento, a Prefeitura não se manifestou sobre a possibilidade de cancelar o rodízio. A capital paulista registra, até a publicação desta reportagem, pouco mais de 3.700 mortes pelo novo coronavírus. A taxa de adesão à quarentena continua abaixo das expectativas.