Com materiais simples do dia a dia, a proposta é desenvolver criações e brincadeiras com os pequenos em casa – e questionar o modelo tradicional de ensino
Teatro de sombras com lanterna, cápsula do tempo, banda de balde, aldeia de papelão ou uma máquina de reação em cadeia com elástico e bola de pingue-pongue. Construídas com materiais simples do dia a dia, essas e outras invenções fazem parte do cardápio do site Aprendizagem Criativa em Casa — iniciativa da Rede Brasileira de Aprendizagem Criativa (RBAC) para incentivar, como o próprio nome diz, uma educação mais criativa em tempos de pandemia.
“Criatividade”, no caso, significa oferecer atividades do tipo mão na massa para ajudar crianças a partir de 3 anos a desenvolver competências como inteligência emocional, pensamento crítico e resolução de problemas. Para Leo Burd, fundador da RBAC e diretor do Lemann Creative Learning Program no Media Lab do MIT, o prestigiado Massachusetts Institute of Technology, essas habilidades são essenciais na formação para o futuro. “A gente precisa ter essas características para sobreviver nesse mundo que se transforma cada vez mais rápido. Não se consegue prever quais são as profissões, as tecnologias e os materiais que estarão disponíveis. Mas a gente se acostuma a lidar com questões abertas e a expressar questões ainda incertas”, explica.
O site, com conteúdo gratuito, questiona por meio de experiências o modelo vigente — projetado, segundo Burd, para um tempo e espaço que já não são a realidade do mundo. Na opinião do especialista, a distância da escola e da sociedade é cada vez mais óbvia. Reduzi-la é urgente, tanto pela indústria quanto pela sociedade, que precisam respectivamente de profissionais e cidadãos mais autônomos, criativos, expressivos e críticos. “A escola tradicional é muito conteudista, foca muito no aprendizado de fatos e regras, mas pouco na aplicação desses conceitos. E a própria escola reconhece essa deficiência.”
Para Burd, a nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC) representa uma possibilidade de mudança. “O novo currículo já inclui uma série dessas competências mais modernas, mas as escolas não tiveram tempo de implementar esse modelo. Aliás, tiveram até dificuldades. O nosso projeto se baseia em materiais de baixo custo, e mesmo esse material não existe nas escolas”. Ainda segundo ele, a transição entre os modelos de aprendizagem também depende da estrutura dos colégios e dos professores, que dificilmente têm tempo de se atualizar enquanto dão aula.
Com mais de 4 mil professores associados, a RBAC funciona em parceria com secretarias municipais e estaduais de todo o Brasil, como Curitiba e São Paulo. Com a epidemia de covid-19 e as medidas de distanciamento social, veio a necessidade de reinvenção. O site Aprendizagem Criativa em Casa aproveita esse momento de isolamento social, em que tantas famílias se reencontraram. Para além do site, a RBAC também têm outros projetos de engajamento, como um livro sobre aprendizagem criativa e o curso de capacitação sobre o mesmo tema.