Sem aulas, UNE e UBES se manifestam pela prorrogação do ENEM com a hashtag #AdiaENEM
No dia 4 de maio, o ministério da Educação divulgou um vídeo em que incentiva as pessoas a estudarem para a prova, independententemente de suas dificuldades particulares. A polêmica foi imediata e as entidades estudantis protestaram. Rozana Barroso, presidente da União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES), avalia que a publicação do vídeo foi “inadmissível, irresponsável, injusta e irreal. O MEC diz para estudarmos como se todos tivéssemos a realidade mostrada na propaganda: internet, celulares de qualidade”, critica. ENEM
Ela completa dizendo que o curso popular pré-vestibular em que estuda não conseguiu iniciar suas atividades, e reforça a crítica ao ministro da Educação. “Meus sonhos estão sendo atacados. Não tenho a estrutura da propaganda. Weintraub passa o recado de que sonhos dos estudantes não importam”, lamenta.
Com mais de 13 mil mortos pelo novo coronavírus no Brasil, a pandemia exigiu um distanciamento social que também interrompeu as aulas presenciais. Boa parte das escolas particulares conseguiu recorrer a plataformas digitais, de modo a manter o ensino remotamente. Mas na rede pública, a realidade é outra. Todos os estados registraram interrupções nas aulas no início da pandemia. Agora, com o ensino online, muitos alunos não têm acesso a internet — a Folha de S. Paulo registra que apenas 47% dos anos da rede paulista chegaram a fazer login no aplicativo. A maior parte não consegue continuar suas atividades a distância.
As controvérsias começaram no dia 31 de março, quando o Inep publicou um edital com o prazo das inscrições no ENEM, mantendo o calendário previsto. Como resposta, a União Nacional dos Estudantes (UNE) e a UBES criaram o movimento #AdiaENEM e um abaixo-assinado, que tem como objetivo reunir assinaturas de todos aqueles contrários à realização do exame nas datas semelhantes a de outros anos.
Para Iago Montalvão, presidente da UNE e estudante de Economia na FEA-USP, manter o calendário “amplia a desigualdade” no acesso às universidades. “Estudantes com menos recursos ficam com menos chances [de ingresso], dando mais espaço para aqueles que conseguem estudar com mais tranquilidade”, aponta.
Uma das estudantes que está sem aulas nesse momento é Anne Moraes, aluna do terceiro ano do curso de Enfermagem no Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET/RJ), no Rio de Janeiro. A jovem entende que nem todos têm acesso aos estudos e enfrentarão dificuldades. “Como correr atrás sem recursos?”, indaga.
A aluna aponta que, no estado do Rio, professores não conseguiram se adaptar adequadamente à educação a distância (EaD) e que isso prejudica a qualidade das aulas. “Absurdo comparar o EaD e o ensino presencial sem que haja planejamento”, comenta.
Os representantes das entidades também afirmam que faltou ao ministério da Educação um diálogo com os alunos e professores. Por conta disso, a presidente da UBES coloca o adiamento como única opção possível. “Não tenho a mínima condição de fazer o ENEM. Seguimos firmes na luta. O Brasil está em completo caos, e o presidente da República está andando de jet ski. Não há outra saída, o exame não pode ser mantido [nessa data]. Mesmo com o EaD, o ensino não é cem por cento”, contesta.
No dia 11 de maio a UNE e a UBES entraram com um pedido pelo adiamento do ENEM no Supremo Tribunal de Justiça (STJ). O ministro Gurgel de Faria rejeitou a apelação na quarta-feira (13). Ele alega que essa decisão não cabe ao STJ, uma vez que os editais são do INEP e não do ministério da Educação.
Durante uma saída do Palácio da Alvorada nesta quarta-feira (13), o presidente Jair Bolsonaro admitiu que há possibilidade de adiar a prova. “O Enem, tô conversando com Weintraub, né? Se for o caso, atrasa um pouco, mas tem que ser aplicado esse ano”, comentou.
Para essa sexta-feira (15), as entidades estudantis se articularam para criar o “dia nacional pelo adiamento”. Segundo a presidente da UBES, a intenção é que a sexta-feira seja “um dia de grandes mobilizações e atos virtuais.”
Procurado por diversas vezes até o fechamento desta reportagem, o INEP, responsável pelo ENEM, não respondeu a ESQUINAS. Se houver resposta, será incluída em atualização posterior.