Projeto Existe Amor é uma extensão do EP de mesmo nome, e já arrecadou mais de R$ 125 mil
CRIOLO: “Dentro do coração de cada pessoa existe um tanto de amor que pode transformar a Terra”.
Durante a pandemia surgiram várias iniciativas para ajudar aqueles mais atingidos pela crise, e o cantor fala o que pensa sobre isso. “Sempre tem um coletivo questionando a sociedade do porquê dessa desigualdade tão grande. A essas pessoas que dedicam a vida as questões humanitárias, fica aqui o meu abraço, meu afeto e uma gratidão imensa”, diz Criolo.
A ideia original do Existe Amor era gravação de quatro músicas para um EP — extended play, produção musical menor que um álbum convencional —, mas devido a pandemia o projeto se expandiu e virou uma campanha que arrecada fundos para ajudar a população vulnerável.
Segundo Criolo, a pandemia se instalou no país após gravarem o disco e com isso a equipe notou a necessidade de ajudar aqueles sem condições. “Sabíamos que quando a doença chegasse a essas pessoas o abalo seria gigantesco, então, de modo natural, canalizamos toda a nossa energia para esse lado. E procuramos fortalecer, através das arrecadações, o trabalho das organizações que auxiliam esses indivíduos”, conta.
Uma das organizações atendidas pelo projeto foi a É de Lei. Situado na Sé, centro de São Paulo, atende usuários de substâncias psicoativas na região da República e Cracolândia há mais de 20 anos. Não obstante, a organização SP Invisível, que conta histórias de quem está situação de rua em São Paulo, também foi auxiliada pelo projeto dos cantores.
A coordenadora do É de Lei, Maria Angélica Comis, destaca a importância das contribuições para dar voz às pessoas. “Projetos como o Existe Amor são fundamentais, pois, possibilitam que compremos itens de higiene como álcool em gel, absorventes e sabonetes, que não estavam previstos no nosso orçamento anual. Além disso, esse tipo de campanha favorece que mais pessoas conheçam nosso trabalho e busquem se informar sobre as pessoas atendidas, favorecendo a diminuição do preconceito perante os indivíduos em situação de rua e usuários de drogas”, comenta.
Nesse contexto, o co-fundador da SP Invisível, Vinícius Lima, também comenta como o auxílio afetou a iniciativa. “Durante a pandemia, estamos trabalhando com a entrega de kits com álcool em gel, máscara, sabonete, detergente, água, bolachas e lenços umedecidos. Além disso, a ajuda do projeto Existe Amor contribuiu para impulsionar a produção desses kits, já que a população em situação de rua é quem está mais exposta e quem menos recebe ajuda nesse momento”, diz.
Contudo, Lima ressalta que existem desafios para a realizar a assistência durante a pandemia, colocando o preconceito como um dos entraves. . “A maior dificuldade é a falta de casa e a falta de humanidade de muitas pessoas. Precisamos olhar a população em situação de rua como pessoas, seres humanos individuais, não como um bloco, muito menos como ‘noia, mendigo, cracudo’ ou qualquer olhar pejorativo que existe sobre eles”, comenta.
Ainda sobre as dificuldades, a coordenadora do É de Lei também revela como elas se instalam para a organização. “O principal desafio é com a população que não tem moradia. Que tem pouco ou nenhum acesso a banheiros, alimentação e água potável. Portanto, elas possuem muito mais demandas do que podemos suprir”, diz.
Outra adversidade apontada por ela é a presença da segurança pública. “Nas cenas de uso abertas que trabalhamos existe uma presença muito acentuada da segurança pública, desta maneira, algumas vezes presenciamos violação dos direitos das pessoas atendidas. Houve uma situação marcante no dia 26 de abril quando nossa equipe foi abordada pela segurança, ameaçada e quase impedida de realizar a ação de cuidado”, revela.