Alunos da Cásper, Mackenzie e PUC relatam necessidade de adaptar propostas e plataformas, além dos obstáculos à saúde mental
“Estamos passando por um grande processo de luto, então eu fico questionando o sentido de fazer tudo isso.” Disse Monique Sampaio, 24, aluna do quarto ano de jornalismo da Faculdade Cásper Líbero em reunião realizada no dia 11 de maio com o orientador do seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). A resposta da estudante ocorreu quando o professor lhe perguntou sobre como ela se sentia em relação ao andamento de sua monografia em meio à pandemia da covid-19.
O trabalho de Sampaio, cujo tema é o campo da comunicação na Argentina, consiste em analisar documentos para entender como se constitui essa área acadêmica e, para isso, ela viajaria até Buenos Aires para o andamento de sua pesquisa. “A ideia era passar duas semanas em Buenos Aires/Rosário para coletar o material com mais propriedade, o que não será possível.”
Thiago Picolo, 29, outro estudante do quarto ano de jornalismo da Faculdade Cásper Líbero tem uma opinião semelhante.“Tá complicado, tá bem complicado. O problema é conciliar todas as atividades, ainda mais de maneira remota: trabalho, aulas, provas e, ainda, o TCC. Tá dando pra fazer, mas é difícil”. Foi a resposta de Thiago quando perguntado sobre as condições psicológicas que ele tem enfrentado para realizar seu Trabalho de Conclusão de Curso. Em reuniões com o seu orientador, Picolo conta sobre as alternativas pensadas para contornar as limitações impostas pela covid-19 e como é trabalhar com as novas realidades advindas da pandemia. “Toda a dinâmica de entrevistas teve de ser alterada e feita de forma remota. A ordem do dia é essa, irmão”, afirma.
Gabriela Bueno, 21, e Natasha Rodrigues, 21, alunas de Rádio, Televisão e Internet da mesma faculdade, concordam — e encarnam outro problema: não dá para filmar na pandemia. Diante da impossibilidade de locomoção, elas consideram que é difícil lidar com a frustração de não ter data concreta para realizar suas produções.
O formato e a abordagem escolhidos também trouxeram problemas para Sophia Lopes, 21, estudante de Jornalismo. O documentário sobre menstruação propunha uma captura íntima, filmando os ambientes das pessoas que menstruam, sua individualidade e subjetividade. “É muito difícil fazer isso à distância, não tenho certeza se o resultado será o mesmo”, argumenta. “Como não posso sair de casa, só deu pra adiantar algumas coisas.”
Esse clima de incerteza é compartilhado também por Sofia Sguillaro, 24, estudante de Jornalismo da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP). A estudante conta que teve que mudar de tema devido à pandemia. “Eu ia fazer um documentário na Chapada dos Veadeiros sobre uma parteira, agora vou fazer um podcast sobre paisagens sonoras.”
Em paralelo ao relato das dificuldades, alguns estudantes encontraram menos resistências. João Pedro Morello, 21, escreve seu TCC em economia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie sobre a guerra comercial entre China e Estados Unidos e os impacto na economia brasileira. “Meu orientador se comunica comigo por e-mail e os prazos foram flexibilizados. Para mim não fez tanta diferença.”Nicole Ziesmann, 20, estudante de Relações Públicas da Faculdade Cásper Líbero, concorda. “Mudaram algumas coisas, mas o que eu tinha planejado não depende tanto assim de estar na rua”, afirmou. Apesar disso, ela se mostra receosa com a duração da pandemia: “só não pode durar até outubro. Se não, não vou conseguir aplicar minha pesquisa.”
A opinião de Nicole, entretanto, é uma minoria entre os alunos da Faculdade em que estuda. Em formulário elaborado pelo Conselho Técnico Administrativo (CTA), órgão responsável por avaliar e discutir pendências acadêmicas, com o objetivo de averiguar os impactos da pandemia nos trabalhos de conclusão de curso, os alunos ressaltaram as dificuldades.
Entre os 121 respondentes, que cobriram cerca de 300 alunos dos últimos anos da Faculdade, 78% afirmam que foram afetados pela pandemia. Os principais problemas:impossibilidade de contato com seus clientes e fontes, de locomoção, acesso à materiais e a dificuldade psicológica de produzir um trabalho acadêmico.
Como aluno prestes a me formar (assim espero), me identifico especialmente com as questões levantadas sobre saúde mental. Ao final do ano passado, fui diagnosticado com ansiedade. Esse tipo de doença tem como um dos sintomas mais comuns uma preocupação excessiva e somática com o futuro. A hiperventilação e taquicardia são a resposta corporal ao cortisol do pensamento. Muito provavelmente, essas situações seriam inerentes a um final de graduação. Com ou sem pandemia, as sensações de angústia e impotência viriam por conta do TCC.
E por motivos diversos: o medo do fracasso, dos rumos do ofício jornalístico, e outras milhares de questões. Em meio a uma a crise sanitária, política e econômica, isolado do convívio social, sinto que meu quadro se agrava, fazendo com que seja mais árdua a realização de atividades produtivas, como a elaboração de um projeto acadêmico. Em alguns dias, minha felicidade é levantar da cama e ver desenho animado.
Qual a resposta acadêmica?
Ao serem perguntados sobre a posição da Faculdade em relação aos problemas levantados, em especial à saúde mental, os coordenadores dos cursos da Cásper Líbero afirmaram que estão atentos a possíveis mudanças nos quadros da pandemia e que agirão junto aos orientadores de cada grupo para diminuir os problemas apresentados. Eles ainda afirmaram que, caso seja necessário, novos posicionamentos serão tomados.
O Mackenzie, segundo Morello, optou por prorrogar os prazos. “Meu TCC era pra entregar no começo de junho, agora foi para o final. Eles anteciparam quinze dias de férias e somaram no prazo final.”
A PUC, de acordo com Sguillaro, optou por um caminho parecido. “Por pressão dos estudantes, a faculdade prorrogou até o final de agosto as datas de entrega do TCC”, afirma.