A pandemia do novo coronavírus afetou a modalidade de diversas maneiras. Jogadoras e especialistas apresentam principais desafios
A Copa do Mundo de Futebol Feminino ocorrida na França, em 2019, foi um enorme sucesso de audiência em todo o mundo. No Brasil não foi diferente. Transmitida pela primeira vez na história na televisão aberta, a competição teve um índice de telespectadores brasileiros altíssimo. Com um nível de visibilidade nunca antes visto e com este torneio tão evidenciado no campo das discussões e pautas por parte dos torcedores e dos principais veículos midiáticos do País, estava aberto o caminho para uma evolução mais do que necessária em todos os aspectos do futebol feminino no Brasil. Entretanto, a pandemia do novo coronavírus está atrasando este progresso.
Para Gláucia, eleita a melhor atacante do Brasileirão Feminino 2019, essa interrupção das partidas veio em péssima hora. “Estávamos no meio do Campeonato Brasileiro, em uma sequência forte de jogos, com transmissão pela TV, internet e com as pessoas se interessando pela modalidade”, disse. “Infelizmente, por uma questão de saúde pública, tivemos que dar um tempo”, completa a camisa 9 do tricolor paulista.
Não há dúvidas de que a evolução que vinha sendo feita na modalidade foi atrasada. Segundo Juliane Santos, comentarista e especialista em futebol feminino, a expectativa era enorme para 2020, e a Confederação Brasileira de Futebol terá papel fundamental na retomada da modalidade. “A CBF terá que dar passos largos para essa recuperação do futebol feminino e, junto com os dirigentes de clubes, terá que fazer uma força-tarefa para que as meninas possam permanecer com os seus auxílios”, pontua.
E esse amparo econômico por parte da entidade máxima que controla o futebol brasileiro veio. Em abril, a CBF anunciou medidas de apoio financeiro a clubes e Federações Estaduais. Para cada um dos 16 times da Série A1 do Campeonato Brasileiro Feminino, o auxílio foi de 120 mil reais. Para as 36 equipes da Série A2, a ajuda foi de 50 mil reais, aos 20 clubes da Série C, 200 mil reais, e aos da Série D, 120 mil reais, totalizando o desembolso de R$ 19.120.000,00.
Essa ajuda disponibilizada pela CBF está sendo essencial para que os clubes consigam se manter durante a paralisação dos campeonatos. Contudo, essa prática escancara o amadorismo das autoridades e dos dirigentes em relação à modalidade, uma vez que tais verbas não foram repassados integralmente para as atletas em muitos times Brasil a fora. Foi o caso, por exemplo, do Sport Club do Recife, que recebeu o auxílio de 50 mil reais para a equipe feminina, porém apenas 10 mil reais foram utilizados na categoria. O restante do dinheiro teria sido destinado às despesas de outros setores.
“Preconceito, desvalorização, falta de apoio e dificuldade financeira são algumas das adversidades que enfrentamos. Nosso desejo é que nos olhem com igualdade em relação ao futebol masculino‘’, desabafa Letícia Mauro, atleta Sub-17 com passagens no São Paulo e Centro Olímpico. Se no futebol profissional a situação já é difícil, nas categorias de base o despreparo das autoridades em relação à modalidade fica ainda mais evidente.
É imprescindível que a modalidade seja gerida com maior responsabilidade e seriedade por parte de quem comanda os clubes, as Federações e as Confederações. Além disso, também é de suma importância uma mídia que esteja dispostas a discutir com mais frequência o assunto.
E, acima de tudo, é fundamental uma mudança cultural no País. As pessoas precisam ser ensinadas a tratar o futebol feminino com igualdade em relação ao masculino desde cedo, para que as próximas gerações cresçam inseridas na modalidade, com o objetivo de alcançar os mesmos direitos e valorização entre os sexos. E isso há de se ressaltar, não engloba só o futebol, abrange todos os esportes e, principalmente, toda a esfera social.
Rogério Caboclo, presidente da CBF, disse em entrevista para o jornal O Globo que as partidas já tem data marcada para voltar a acontecer. O retorno está agendado para o dia 8 de agosto, com o início das Séries B e C. Já a elite do futebol feminino só volta a entrar em campo no dia 26 de agosto, com a retomada da Copa do Brasil e a abertura da Série A do Campeonato Brasileiro. “Que seja breve, mas com todos os cuidados possíveis”, disse Juliane.