No cenário da pandemia, três mães solo relatam as dificuldades que enfrentam para conciliar o dia a dia da pandemia com a criação de seus filhos
É muito comum encontrar uma grande quantidade de pessoas sem o registro do pai em sua certidão de nascimento no Brasil. Assim, as mães se tornam a principal provedora da casa, responsável por realizar todas as tarefas e pela criação dos filhos.
Em 2005, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizou um estudo no qual registrou que o Brasil tinha mais de 10 milhões de lares compostos somente por mães, sem cônjuge. No último levantamento, feito em 2015, os números mostraram 11,6 milhões com esse arranjo familiar.
Mães solo
Tentando equilibrar a vida entre o home office, EAD e a criação das três filhas, a administradora Iara Pereira, de 40 anos, se encontra em uma situação delicada. “Trabalho em uma empresa de varejo e estou trabalhando à distância desde o dia 16 de março. Com as minhas filhas em casa, preciso conciliar as aulas online, as tarefas pessoais de cada uma, o meu trabalho, o lazer, as refeições e os afazeres da casa — que é de primordial importância na atual situação.”
A maternidade solo também é a realidade de Júlia Darros do Amaral, de 22 anos. Atualmente, ela trabalha como diretora de marketing de uma fábrica de produtos de limpeza. A descoberta da gestação veio com 26 semanas, o que foi uma surpresa, já que não ansiava ser mãe devido, principalmente, a problemas de saúde. Hoje, seu filho Pietro Enrico possui três anos e seis meses.
Entretanto, Júlia se tornou mãe solo quando Pietro tinha apenas 10 meses de idade. Desde então, sua rede de apoio é configurada pelos familiares seus e do atual namorado. “A parte mais difícil são as próprias cobranças e sonhos deixados para trás. A maternidade solo nos faz a dura escolha de dar prioridade ao filho do que a nós mesmas.”
Ser mãe solo, também é a realidade da vendedora Karina de Alcântara, 26 anos. Ela é mãe de uma menina de um ano e quatro meses. Por conta da pandemia, Karina teve seu contrato suspenso pela empresa em que trabalhava. Ainda por cima, recebe 200 reais do pai da criança, quantia insuficiente para os custear as necessidades de sua filha. “Meu conselho para as mães é se planejar, conseguir um bom emprego, evitar uma nova gestação e de forma alguma depender de homem.”
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A rotina
Por ter uma criança pequena e que, consequentemente precisa de muita atenção, Karina conta que está vivendo uma rotina estressante e sente que pode surtar a qualquer momento. “O que torna cansativo é ter que dar conta das tarefas de casa e cuidar do bebê todos os dias sem nenhuma pausa. Conciliar os dois tem sido uma tarefa muito difícil e exaustiva”, afirma.
Para a diretora de marketing, Júlia, a quarentena veio carregada de desafios que misturam diferentes âmbitos de sua vida. Ao contar de sua rotina ela revela, que “dar conta da faculdade, trabalho, casa e filho, é bastante desafiador, há dias que estou completamente exausta”, relata.
Em adição, mãe e filho estão em quarentena por cerca de seis meses, qual foi interrompida por alguns trabalhos presenciais. “A parte mais difícil na quarentena, é saber lidar com meu estresse e o dele […] Preciso sempre usar a criatividade pra fazer coisas novas, manter a cabeça dele ocupada, longe dos eletrônicos.”
Apesar disso, as três mães declararam o quanto esse tempo junto aos filhos, apesar de exaustivo, está aproximando a relação familiar entre elas e as crianças.
“Teve um dia em que nós fizemos um bolo de chocolate juntas, elas me ajudaram e o bolo ficou uma delícia! Esse foi o melhor dia da quarentena até agora” – Iara Pereira.
“Apesar de não poder mais sair de casa por conta da covid, hoje tenho mais tempo para ficar com a minha filha, essa é a melhor parte” – Karina de Alcântara.
“A melhor parte é saber que o amor dele é totalmente recíproco. Que estou criando um ser humano melhor do que eu, que vou amá-lo além de suas escolhas profissionais, relacionamentos, estudos, sexualidade e afins.” – Júlia Darros