Em exclusiva a Esquinas, líder da Unidade Popular pelo Socialismo fala sobre o novo partido e as eleições municipais - Revista Esquinas

Em exclusiva a Esquinas, líder da Unidade Popular pelo Socialismo fala sobre o novo partido e as eleições municipais

Por Diego Valencia : outubro 15, 2020

A Unidade Popular pelo Socialismo foi fundada em agosto 2019 com um milhão e duzentas mil assinaturas, quase três vezes mais do que o mínimo necessário

Nascido no embrião de movimentos sociais, mais especificamente no Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), o Unidade Popular pelo Socialismo (UP) foi fundado em 10 de agosto de 2019. Como 33º partido do país, eles carregam a bandeira da luta antifascista e estão prestes a enfrentar suas primeiras eleições municipais.

Para entender seu início, deve-se levar em consideração o progresso da esquerda até aqui. Em 2002, com a eleição de Lula, os partidos de esquerda gozaram de real poder e protagonismo. Segundo cientista político e jornalista, Márcio Juliboni, muito se mudou nesse meio tempo, considerando o nascimento de Lula no meio operário e suas propostas iniciais. “Ele e o PT têm sinais indiscutíveis das concessões que fizeram para conquistar a presidência. A exemplo do ‘Lulinha Paz e Amor’, pelo marqueteiro Duda Mendonça, como, sobretudo, a Carta ao Povo Brasileiro.”

Isso criou insatisfação em muitos, levando-os à criação de partidos de esquerda. Agora, muito tempo passou desde a inauguração do PT, porém a UP segue a mesma receita considerando sua popularidade entre as camadas baixas da sociedade e suas propostas. “Caberá, agora, à UP a verdadeira prova de fogo. Uma vez dentro do sistema político-eleitoral, a legenda conseguirá manter sua pureza ideológica, ou caminhará para a moderação?”, indaga o cientista político.

Para essa tarefa, eles contam com Leonardo Péricles, 38 anos, presidente nacional da UP e morador da ocupação urbana de Eliana Silva, em Belo Horizonte. Pré-candidato à prefeitura da capital mineira, ele prega maior igualdade para as classes trabalhadoras e critica as classes mais altas.

As eleições municipais estão marcadas para dia 15 de novembro, com um segundo turno para o dia 29 do mesmo mês. A Unidade Popular pelo Socialismo será a estreante do momento, tendo seu presidente nacional como candidato. E para debater os temas da campanha e o novo partido, ESQUINAS entrevistou o próprio Leonardo.

Veja mais:

+ “Ricardo Salles deveria sofrer impeachment”, diz Marina Silva em entrevista exclusiva à ESQUINAS

+ A história da seita do médium João de Deus: papo com Chico Felitti sobre A Casa

+ “O descuido com a vida no Brasil é um projeto político. Nada tem de natural”, afirma juiz do TJRJ

ESQUINAS O PROGRAMA DO PARTIDO CONTA COM METAS COMO A PLANIFICAÇÃO DA ECONOMIA, CONTROLE POPULAR DO SISTEMA FINANCEIRO E REFORMA AGRÁRIA. QUAL A ESTRATÉGIA DA UP PARA ATINGIR ESSAS METAS?

Passa por guiar o parlamento pelo o movimento popular, ou seja, um partido de esquerda não pode se tornar um partido parlamentar, pois foi feito centralmente para ser um instrumento de luta contra as classes dominantes e não para eleger parlamentares. O que não quer dizer que não queremos eleger ninguém, mas é saber unificar a luta extraparlamentar com o congresso. Principalmente quando se trata de orçamento, porque não adianta nós votarmos de dois em dois anos e isso ser decidido por meia dúzia. Cada bairro que tiver poder e recursos, e comunitariamente tome uma decisão, tem algo muito mais democrático do que só a câmara.

Por fim, as classes dominantes são herdeiras dos europeus que invadiram o Brasil, que promoveram um genocídio dos nossos irmãos indígenas, que produziram um massacre dos nossos irmãos da África. Os ricos no Brasil são extremamente racistas, patriarcais, anti-mulher, anti-pobre, anti-povo e classe trabalhadora. Não há interesse progressista e ficam mais ricos mantendo o Brasil assim. Nós que temos que romper essas amarras e não vai ser fácil, pois precisa quebrar uma ótica milenar de elite.

ESQUINAS O SOCIALISMO MARXISTA PODE COEXISTIR COM A DEMOCRACIA ATUAL?

A luta pelo socialismo é uma luta para existir uma democracia verdadeira no Brasil. Nas eleições de 2014, algumas empresas, como a Vale e os bancos, financiaram a campanha de quase 400 deputados de um congresso com 513. Uma das propostas do socialismo é impedir que o poder econômico tenha direito de participar do processo eleitoral. As eleições têm que ser iguais, com o mesmo número de panfletos, o mesmo dinheiro e nas mesmas condições. Será eleito quem realmente conseguir convencer mais gente.

A luta socialista que defendemos se baseia numa democracia na qual o povo não seja influenciado pelo poder econômico, e possa escolher aquilo que realmente acredita.

ESQUINAS A UP ENFRENTA SUA PRIMEIRA ELEIÇÃO MUNICIPAL. QUAIS SÃO AS EXPECTATIVAS E DIFICULDADES DA “ESTREIA”?

Vai ser a campanha do “tostão contra o milhão”. Extremamente desigual, porque há uma estrutura montada para manter os partidos grandes. Ainda mais debaixo de uma pandemia, pois as pessoas vão votar em quem elas conhecem.

Chegamos no processo sendo impedidos de participar da tv e do rádio nas eleições, também não temos acesso ao fundo partidário – somente os partidos com 10 deputados federais tem direito ao recurso –, e temos comente cerca de um milhão do fundo eleitoral, que pode parecer muito, mas não para uma campanha no Brasil inteiro.

Independente disso, parcelas importantes do nosso povo ganharam consciência da importância de partidos populares como a UP e não é à toa que passamos a existir. Não há uma democracia efetiva sendo implementada e partimos de lugares extremamente diferentes e desiguais. Mas estamos confiantes para desenvolver uma campanha popular, mesmo com todas limitações apresentadas.

ESQUINAS DIVERSOS LÍDERES E PARTIDOS JÁ FLERTARAM COM ESSA IDEIA DE SOCIALISMO, MAS POUCOS CHEGARAM PERTO DE REALMENTE IMPLEMENTÁ-LA. O QUE DIFERE O LEONARDO E A UNIDADE POPULAR PELO SOCIALISMO?

O diferencial é conseguir mobilizar o povo pra ele ver que não temos que permanecer ajoelhado como as classes dominantes querem. A força vem do povo do seu país e nosso diferencial é a confiança nele. Se você olhar, quase todas organizações de esquerda ficam culpando o povo pelas derrotas e a culpa não é deles, não é mesmo. São elas que falharam, que se diziam de esquerda, mas foram conciliar com interesses inconciliáveis e traíram o povo.

Os setores, ditos de esquerda foram se ligar ao MDB (Movimento Democrático Brasileiro) e ao DEM (Democratas), os partidos que sempre governaram contra o povo. Claro que ia dar errado. O caminho é acreditar, e apesar de não ser fácil é o único possível.

ESQUINAS O PARTIDO SE DEFINE COMO “ANTI FASCISTA”. COMO ELE PLANEJA LEVAR ISSO ADIANTE?

Dando continuidade ao trabalho que foi iniciado, pois não ficamos falando contra o fascismo, nós agimos. Vamos desenvolver o trabalho nas periferias que não tem como defender o estado democrático de direito, pois ele é inexistente lá. A presença ostensiva do Estado se dá através dessas milícias chamadas de Polícia Militar, que chega nas casas dos pobres chutando a porta. Quando que você fala para um cara das favelas que precisamos defender a democracia ele diz: “Defender o que? Isso que tá aí?”. Então, tem um trabalho popular que precisa ser feito e materializar-se nas periferias.

Encontrou algum erro? Avise-nos