Deputada estadual mais votada da história, apoiadora de primeira hora da candidatura de Jair Bolsonaro e cotada para vice em 2018, a jurista Janaína Paschoal (PSL-SP) vem buscando distanciar sua imagem da do presidente. Paschoal criticou o desempenho do Governo Federal em diversas áreas: da economia ao combate à covid-19, das alianças políticas à pauta anticorrupção.
“É uma gestão tão atrapalhada que corre o risco de trazer a esquerda de volta. Estão conseguindo fazer propaganda da esquerda”, opina em live realizada pelo Centro Acadêmico Vladmir Herzog, da Faculdade Cásper Líbero. A deputada afirma ter ouvido de pessoas próximas que, se pudessem, mudariam seus votos de 2018 para Fernando Haddad (PT). Ela própria, porém, diz que não vota no PT “de jeito nenhum”. Embora não se defina como opositora ao governo, a deputada estadual se diz decepcionada “como eleitora” com a administração. “Só sobrou a pauta de costumes. Houve enfraquecimento da liberalização da economia e do combate à corrupção.”
A radicalização também incomoda. “Ele tem resistência a melhorar. Eu tinha esperança de que, até por dizer a ele o tempo inteiro ‘o senhor está sendo eleito por uma pluralidade’, houvesse uma ponderação. Ele começou a afastar, ou afastaram por ele, as pessoas mais ponderadas. Qualquer um que fizesse crítica era visto como inimigo.” No começo do mandato, chegou a chamar de “stalinistas” as medidas que afastaram pessoas como o ex-ministro Gustavo Bebbiano da administração. “Agora, todo mundo só aplaude, paparica. Não tem coisa pior para um líder do que todo mundo concordar”.
A jurista sente falta de pessoas que o aconselhem. Vê o comportamento dos presidentes e de correligionários diante da pandemia da covid-19 como insensível. “Está faltando sensibilidade nele e nas pessoas que estão do lado dele”, diz a deputada, questionada sobre as declarações de Bolsonaro na quinta-feira sobre a pandemia (“chega de frescura, de mimimi. Vão ficar chorando até quando?”). “Ele tem de parar com a palhaçada de incentivar aglomeração. Quando ele desmerece a dor de quem perdeu um parente, ele não percebe que está agredindo uma coletividade à toa. Não é mimimi não conseguir respirar, chorar um parente”.
A personalidade que Paschoal define como “influenciável, explosiva e impulsiva” de Bolsonaro segue tendo repercussões no PSL. Segundo a deputada, a incapacidade do presidente de realizar uma “separação amigável” dividiu o partido entre bolsonaristas e antibolsonaristas e acarretou temores nas agremiações que, supostamente, desejam contar com o capitão reformado em seus quadros. “Muitos partidos falam que querem o presidente, mas a verdade é uma só. Muitas pessoas que sentam aqui para conversar dizem que têm medo por ele ter recebido o PSL e ter saído gerando confusão. Não é simples dizer que o presidente vai para o partido que quiser”, afirma. “E o PSL é um partido que, se não houver uma mudança de procedimento, está caminhando para a extinção.”
Já a pauta anticorrupção levou “um banho de água gelada”, nas palavras da deputada, logo no início do mandato com as acusações ao senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ). “Ele não disse que ia colocar o Brasil acima de tudo? Parece que está colocando o filho”, afirma. Para a deputada, o mais correto seria afastar o filho das relações com o governo, pois “aparentemente, o rapaz deve”. Sobre o presidente e seus ministros, Paschoal afirma não ter notícias de desvios de verba. Mas resume: “Bolsonaro poderia ter fortalecido o combate à corrupção e à criminalidade, mas ajudou a enfraquecer.”
O desempenho da economia é outra fonte de insatisfação. “Bolsonaro gerou instabilidade econômica quase sem precedentes”, afirma, referindo-se à substituição na direção da Petrobras. “Ele não poderia ter efetivado uma troca em uma empresa desse porte da Petrobras da maneira atabalhoada que fez.”, afirma a deputada. Segundo ela, a suposta mudança na política econômica é uma surpresa negativa. “Ele manteve o Paulo Guedes, mas vem sucessivamente enfraquecendo o trabalho do ministro”, afirma a política sobre as medidas do presidente.
A indignação da deputada, porém, tem limites. Perguntada sobre um eventual segundo turno entre Bolsonaro e o PT em 2022, Paschoal diz esperar “por uma outra opção”. Elege Moro como seu candidato preferido, mas afirma que ele é “monotemático”. “As pessoas precisam saber o que ele pensa sobre outros assuntos do interesse do país.” Quanto ao impeachment, Paschoal diz não ver “elemento jurídico” para a instauração do processo. “Se essa investigação acerca da troca de comando da Petrobras indicar algo além de uma decisão maluca [do presidente], talvez eu mude a minha resposta”, afirma. “Ainda faltam 2 anos de governo. Ainda tenho a esperança de que alguém [do convívio de Bolsonaro] o aconselhe. A gente tem de tentar melhorar.”
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