Entenda o conceito de pobreza menstrual e veja o que está sendo feito para combatê-la
Comprar arroz ou absorvente? Uma decisão que precisa ser tomada todos os meses, expondo o que é viver em condições de pobreza menstrual, um problema que afeta muitas mulheres no Brasil e ainda possui pouca visibilidade e conhecimento público. Em 2018, uma pesquisa da marca Sempre Livre mostrou que 22% das meninas entre 12 e 14 anos no país não têm acesso a absorventes durante a menstruação.
O isolamento devido à pandemia do coronavírus evidenciou um maior apelo social às classes marginalizadas, por meio de projetos e movimentos que objetivam quebrar o ciclo de pobreza, melhorando a autoestima e as condições de higiene íntima. Nesse contexto, o olhar para a pobreza menstrual chamou atenção de organizações fundadas para este fim.
“Conscientizar a população sobre a menstruação é essencial para quebrar esse tabu”, diz Luana Hasson de Lima Escamilla, fundadora do projeto Fluxo sem Tabu, que atende comunidades em São Paulo desde o início da pandemia, que vivem a realidade de precariedade sanitária.
O Fluxo sem Tabu, em parceria com a ONG SP Invisível, promoveu na semana de 24/05 post diários sobre a dificuldade de menstruar em condições de rua. Essa movimentação ocorreu devido ao dia 28 de maio ser o Internacional da Higiene Menstrual. Conheça mais sobre o tema no Instagram do Fluxo sem Tabu.
O sistema público e social está preparado para os corpos que menstruam? Tatiane Santiago Avila Gonçalves, enfermeira de 27 anos nascida e criada no interior do Ceará, relata a realidade nordestina: “Nas palestras que eu dei em comunidades no Ceará não tinha banheiro. Não tem água limpa para banho, então não tem estrutura para essas meninas, elas ficam muito expostas à infecção.”
No mês de maio, a Câmara Municipal de Maringá enviou um projeto à Secretaria da Mulher visando à distribuição de absorventes em locais públicos. O mesmo ocorreu no Rio de Janeiro e no Distrito Federal, que contaram com a aprovação de um projeto de lei com protagonismo juvenil. Este processo foi explicado por Beatriz Diniz de Azevedo Ribeiro, participante do programa Girl Up, que visa unir mulheres ao redor do mundo para promover suas habilidades, seus direitos e suas oportunidades. “O projeto de lei é pra adicionar absorventes nas cestas básicas, fazendo com que ele seja menos taxado, tanto no setor público quanto no privado”, explica Beatriz.
Todos esses debates se dão em função do improviso no período menstrual vivenciado por meninas de camadas menos favorecidas. O uso de panos velhos, miolo de pão e papel higiênico, utilizados como itens substitutos aos absorventes, pode levar a infecções prejudiciais à saúde íntima.
“A minha geração ainda tem muita resistência em absorver que a mulher não é vista somente pela vagina ou período menstrual, ser mulher é muito mais complexo”. Como apontado por Tatiane, outra questão envolvendo a menstruação, é que ainda se trata de um tabu na sociedade. Aqueles da comunidade LGBTQ+ que passam pelo período menstrual se encontram em uma jornada para que tenham direitos e garantia de uma estrutura adequada.
Uma solução normalmente proposta é, por que não incentivar o uso de produtos menstruais reutilizáveis, como coletores? Além de seu custo ser elevado (em torno de R$60,00 apenas o coletor e em média R$90,00 o kit com copo esterilizador), o relatório ‘Ranking do Saneamento 2020’, divulgado pelo Instituto Trata Brasil, aponta que 35 milhões de brasileiros ainda não têm acesso a água tratada. Esse fator também aponta uma crise sanitária que afeta diariamente a população, principalmente durante a pandemia de um vírus altamente infeccioso como o Covid-19. “Todas as mulheres que eu tive contato sempre falaram que a pandemia deixou tudo mais difícil.” conclui Luana.
* Redação Aberta é um projeto destinado a apresentar o jornalismo na prática a estudantes do ensino médio e vestibulandos. A iniciativa inclui duas semanas de oficinas teóricas e práticas sobre a profissão. A primeira edição ocorreu entre 17 e 28 de maio. O texto que você acabou de ler foi escrito por um dos participantes, sob a supervisão dos monitores do núcleo editorial e de professores de jornalismo da Cásper Líbero.