A mudança repentina no contato social tem resultado em consequências nas vidas pessoais e profissionais da população
O Brasil sempre foi conhecido por possuir um povo “caloroso”, por cumprimentar com beijos e abraços, características não comumente encontradas em outros países. Porém, desde a confirmação do primeiro caso da covid-19 no país, as relações sociais tiveram que mudar radicalmente em prol da segurança.
Os beijos e abraços tornaram-se somente acenos ou breves toques com o cotovelo e, como consequência, muitos se afastaram de seus amigos e familiares por medo da contaminação. Diversas pessoas acabaram desenvolvendo doenças mentais ou tiveram estas agravadas durante a pandemia. Segundo pesquisa realizada pela Agência FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), 40,4% dos entrevistados afirmaram sentimentos de tristeza ou depressão, e 52,6% disseram experimentar sentimentos de nervosismo e ansiedade.
Para a psicóloga Roberta Alexandre Penitente, o distanciamento social é um fator de agravamento às doenças mentais. “Com as restrições de circulação devido à pandemia, muitos pacientes deixaram de fazer os atendimentos e isso agrava sim suas condições psiquiátricas. Além disso, pessoas que antes não tinham questões relacionadas à ansiedade, passaram a ter durante esse momento”, afirma a psicóloga.
Outra colocação feita por Roberta foi o modo com que as relações sociais foram afetadas durante a pandemia. “Podemos pensar sobre diversos pontos de vista e um deles é a socialização. As crianças, por exemplo, não podem trocar brinquedos e nem cumprimentar direito um amiguinho, e isso são aprendizagens que eles fazem na escola. Já os adolescentes têm se relacionado muito menos com pessoas, e esta é uma fase com múltiplas habilidades sociais com os grupos de amigos e nos relacionamentos afetivos”, disse.
Para a coordenadora pedagógica do Colégio Dominante Fabiana de Cássia Geraldini, o contato social é importante para a formação educacional dos alunos e, futuramente, o distanciamento resultará em impactos nas relações sociais dentro das escolas. “O ‘olho no olho’ é muito importante para que esse diálogo com os alunos seja cada vez mais efetivo. A verdade está com o diálogo, que temos que fazer cada vez mais com pais, alunos e professores. Se continuarmos caminhando com o diálogo, promover palestras, conversar com vocês (alunos) presencialmente e via chat, assim, a gente conseguirá progredir cada vez mais”, afirmou a coordenadora pedagógica.
Para Rossana Ribeiro da Graça, que mora a quase 150km de sua família, este momento de pandemia e isolamento social tem sido muito difícil, pois o contato com familiares e amigos passou a se tornar cada vez mais escasso. “Pelo fato de eu já morar longe da minha família, o começo da pandemia foi mais fácil para mim, pois sempre ligava e conversava com eles todos os dias. Do meio do isolamento para cá tem sido mais difícil, já que faz muita falta o nosso direito de ir e vir sem sentir receio da contaminação e principalmente a saudade, o que despertou em mim solidão e tristeza.” É nítido que o distanciamento foi prejudicial à saúde mental da população e, sobretudo, à sua socialização.
A pandemia causou muitas mudanças nas relações sociais dos indivíduos, que precisaram aprender a lidar com novas condições durante este período, tanto profissionais quanto pessoais.. Rossana afirma que a pandemia mudou totalmente o rumo de sua vida: antes, saía para dançar pelo menos 4 vezes por semana e realizava atividades variadas com seus amigos. Hoje, sua vida particular se resume à sua casa, idas ao mercado e levar sua cachorrinha para tomar banho, conclui.