Atletas da elite do futebol paulista contam como a rotina e a relação deles com a família tiveram que mudar para seguir os protocolos sanitários do esporte
“Eu fiquei quase dois meses sem ver minha mãe, e minha casa fica a 400 metros de distância dela. Não é fácil ficar longe de quem a gente ama. Eu tenho três filhos, é difícil, mas precisamos seguir os protocolos de segurança”, diz o lateral esquerdo do Red Bull Bragantino, Edimar Fraga, de 35 anos. Ele é apenas um dos tantos jogadores de futebol que tiveram que se distanciar da própria família por conta da pandemia. E embora seja para fazer uma das coisas que ele mais gosta no mundo, jogar bola, a dor não é menor.
Um atleta profissional é como qualquer outro trabalhador: tem horário, metas e expectativas e precisa organizar as próprias responsabilidades. Porém, “ele tem que fazer gestão também das variáveis da alta performance”, ressalta Gustavo Evangelista, mental coaching e educador físico. O treinador explica que, por trás de um rótulo de atleta de elite, existe um ser humano angustiado, que não entende por que algumas coisas dão certo e outras não.
Pai, marido, irmão, tio e amigo. Do aspecto da vida privada, um jogador de futebol é sempre muito mais que aquilo que ele mostra em campo, e pode ser o provedor de uma família inteira, o que aumenta ainda mais o peso do seu desempenho.
Rodrigo Souza, volante do São Bernardo FC, 33, diz que mesmo com essa pressão, a vontade tem que estar em dia, até pela cobrança da torcida. “Todos temos objetivos na vida e aqui no clube também”, lembra. O atleta também conta que, no clube, que joga a reta final da Série A2 do Campeonato Paulista, todos os jogadores estão confinados em um alojamento e mal podem retornar para casa ver as famílias. Tudo para atender as demandas do protocolo sanitário da Federação Paulista de Futebol (FPF) e do calendário das partidas.
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Desde o início da pandemia, houve mudanças também nos treinamentos. Na época em que o futebol foi suspenso, grande parte das equipes treinava com grupos e horários diferentes dos demais, sem perspectivas de próximos jogos e previsão para a volta dos campeonatos. “Eu me senti muito desmotivado. Entendo que se eu não cuidar de mim e do meu corpo não vou ser um jogador de alto rendimento, mas esse desânimo me pegou”, lembra o lateral Edimar Fraga.
Mesmo quando o esporte profissional retornou, o calendário teve que ser encurtado e o intervalo entre os jogos, diminuído. O que resultou em muitas partidas e deslocamentos, com pouco descanso, fatores que vêm prejudicando tanto a saúde física quanto mental dos jogadores profissionais.
O trabalho do coach Gustavo Evangelista, que já passou pelo Red Bull Bragantino, onde o lateral Edimar joga, é compreender o que passa com cada um dos atletas de uma equipe e fazer com que eles lidem de uma forma mais consciente com essas questões. “Cabe a nós a identificação dos perfis comportamentais e analisar a maneira com que cada um se relaciona com medo, angústia, ansiedade, imprevisibilidade”. Ele destaca que esse é um trabalho que precisa ser desenvolvido por meio abordagens individuais.