Superar a pandemia não é mais o bastante para os jovens, eles querem um País que consiga se reerguer após o coronavírus, e estão lutando para isso
“Não tem vacina, não tem auxílio emergencial, a maioria das pessoas está trabalhando normalmente, correndo risco de vida sem qualquer tipo de amparo do Estado. É uma situação revoltante para todos os brasileiros, e, infelizmente, a única saída que eu vejo é protestando”, afirmou a estudante de jornalismo Beatriz Imagure durante ato contra o governo Bolsonaro em 29 de maio. Segundo a UNE (União Nacional dos Estudantes), mais de 100 mil pessoas se reuniram na cidade de São Paulo, onde Beatriz protestou.
As manifestações chamaram a atenção pelo tamanho e organização e reuniram diversas pautas, como o impeachment do presidente e os cortes de verba de universidades federais. Em mais de 200 cidades no Brasil e 14 países, manifestantes saíram para expressar seu descontentamento com a atual gestão do governo.
Em Vitória, capital do Espírito Santo, o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFES (Universidade Federal do Espírito Santo) estimou mais de cinco mil manifestantes ocupando as ruas da cidade. “Ele transformou o País num cemitério”, afirmou o professor Eduardo, referindo-se a Bolsonaro. Assim como ele, outros docentes, como o professor Eliezer, participaram do ato a fim de defender sua profissão e a educação: “Estamos aqui pelo amor à vida e ao povo brasileiro”.
Os manifestantes mostraram indignação com a possibilidade de fechamento da universidade federal do estado, com a retomada das aulas presenciais e deram espaço para membros de sindicatos de empresas públicas, como Correios e Eletrobras, se manifestarem contra a intenção de privatização destas pelo Governo Federal. Toni Braga, presidente do sindicato dos Correios do Espírito Santo, declarou protesto “contra tudo o que esse governo vem fazendo com a população, especialmente com a população trabalhadora”. “Querem entregar o patrimônio brasileiro para a iniciativa privada internacional”, completou.
“Ninguém aguenta mais”
Segundo Tiago Morbach, presidente nacional da União dos Jovens Socialistas (UJS), as reivindicações por vacinas e contra o negacionismo estão atreladas a um descontentamento generalizado com a atual situação do País. “Não é apenas uma luta contra Bolsonaro, trata-se de resgatar a esperança de que o Brasil é um país que pode dar certo.”
Para Tiago e outros ativistas do movimento estudantil, superar a pandemia não é mais o bastante, eles querem um País que consiga se reerguer após o coronavírus. “As manifestações significam a retomada das ruas por setores que defendem a ciência e a educação como fatores determinantes para a defesa da vida e a reconstrução do País no pós-pandemia“, explica.
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Depois de 29 de maio, a UNE convoca os estudantes para um tsunami da educação, agora com o propósito fixo e declarado de exigir a saída do atual presidente.
O ativista Tiago Morbach comenta os objetivos dos órgãos estudantis nos novos atos: “Agora, além de retomar o orçamento [das universidades], queremos mostrar que a escola, a universidade e o instituto federal são peças fundamentais para enfrentarmos a pandemia, defendermos vidas e formar pessoas, projetos e pesquisas que nos ajudem a transformar o Brasil.”
Com novas manifestações agendadas, a UNE, UJS, os Centros Acadêmicos e DCEs de todo o Brasil já se encontram praticamente em uma guerra declarada contra o atual governo. “A juventude e os estudantes são sempre os primeiros a se levantar quando atacam a democracia. A história do Brasil é cheia de exemplos disso e agora não é diferente”, diz Tiago.
Segurança sanitária nas manifestações
Apesar de se identificar com as pautas das manifestações, a estudante Maria Luiza do Patrocínio expressou receio em participar em meio à pandemia. “Eu já fui a alguns [protestos] e sei que eles reúnem milhares de pessoas. E com toda essa situação da covid-19, variantes sendo proliferadas e pessoas morrendo, me preocupei com o que eles poderiam causar”.
Os protocolos de segurança sanitária adotados pelos organizadores tiveram como inspiração as passeatas pelo movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam), ocorridas nos Estados Unidos, devido ao assassinato de George Floyd, e que não geraram aumento significativo na transmissão da covid-19. Cientistas afirmam que a contaminação ao ar livre é menos provável, e o distanciamento e a utilização correta de máscara diminuem o risco de contágio, mas ele ainda existe. Os responsáveis pelo evento aconselharam o uso das PFF2, que foram distribuídas pelas ruas de todo o País.
A maioria das reivindicações dos protestos era justamente sobre a postura do governo na pandemia, o que dividiu a oposição entre os que não admitiam as aglomerações e os que não viam outra saída senão essa. Sintetizando as principais críticas a Bolsonaro, os manifestantes entoavam um dos bordões do movimento: “Vida, Pão, Vacina e Educação”.