Histórias vividas em um dos cruzamentos mais conhecidos da cidade de São Paulo
Longe de ser só no coração de Caetano Veloso que alguma coisa acontece, tudo e todos, na esquina mais famosa de São Paulo, vibram e pulsam freneticamente. Considerado por muitos o coração da cidade, o cruzamento da Avenida São João com a Ipiranga mexe com muita gente. Os fiéis funcionários do Bar Brahma e seus assíduos clientes podem jurar que de tudo um pouco já viram e viveram naquela esquina. Já aqueles que desde criança vivem ali dizem que o cruzamento é um arsenal vivo de histórias.
Dentre tantos relatos que podem ser contados, Luiza Aparecida Queregatte, garçonete do Bar Brahma há 17 anos, compartilha conosco um dos inesquecíveis episódios que viveu no bar: a noite em que Caubi Peixoto levou suas fãs a loucura.
Com um brilho nos olhos que não nega o amor pelo trabalho, Tia Luiza – como passou a ser conhecida no Brahma – considera o bar como sua segunda casa e conta que começou a trabalhar ali por indicação de uma amiga. Desde então, se apaixonou pelo lugar e fez tudo com muita dedicação.
Mas não são apenas os olhos de Tia Luiza que brilham ao falar do bar e da esquina. Arnaldo Pereira, comerciante local que desde seus seis anos de idade frequenta a região, enfatiza a magia dali. Aquele menino que brincava na rua enquanto o pai cuidava do seu comércio local, a Banca do Gaúcho, hoje se lembra de tudo que passou no cruzamento. Ao dizer que a esquina faz parte de sua vida, Pereira nos conta que aos doze começou a trabalhar com o pai e ficava espantado quando via tantas pessoas glamorosas frequentando o luxuoso Cine-Ipiranga.
Embora tenha sofrido inúmeras mudanças, havia quatro grupos frequentes no cruzamento. O encontro dos músicos era um desses. Muitos empresários frequentavam um das esquinas do cruzamento para formar conjuntos e contratar novas promessas da música popular brasileira. Havia também a reunião dos artistas de teatro, muitos deles da Rede Globo, e o encontro dos ilustres Paulistas Quatrocentões no Bar Brahma. O Restaurante Parreirinha, onde grandes jornalistas degustaram deliciosas rãs, enquanto discutiam as pautas mais faladas do momento, era a quarta frequência existente.
Além desses grupos, as esquinas do cruzamento das avenidas viram ícones da cultura brasileira. Dentre eles, no auge de sua juventude, Jô Soares variava suas idas à Banca do Gaúcho entre seu Camaro e sua BMW. Mas ele não ostentava apenas com os seus automóveis. O luxo do artista era muito maior. “Ele comprava de quatro a cinco pacotes de revistas por vez, em todos os idiomas: inglês, francês, alemão”, relembra Pereira.
Mesmo perdendo o posto de centro cultural de São Paulo, é inegável que o coração da cidade ainda mantém sua essência. Com todo seu passado, a história do cruzamento favorito de Caetano Veloso está sendo esquecida pouco a pouco. Aqueles que passam diariamente e se deixam levar pelas preocupações da rotina urbana, sem notar que, aos seus pés, descansa um dos maiores patrimônios históricos da cidade que nunca dorme.