“Um problema psicológico é tão grave quanto um problema físico”: nadadora olímpica reforça a importância de atletas cuidarem da saúde mental - Revista Esquinas

“Um problema psicológico é tão grave quanto um problema físico”: nadadora olímpica reforça a importância de atletas cuidarem da saúde mental

Por Diogo Coelho Braga, aluno do projeto Redação Aberta #2 : outubro 1, 2021

Giovanna Diamante, nadadora de 24 anos, realizou seu sonho de criança de competir nos Jogos Olímpicos mas enfrentou dificuldades trazidas pela pandemia

Giovanna Diamante, nadadora de 24 anos, realizou seu sonho de criança de competir nos Jogos Olímpicos mas enfrentou dificuldades trazidas pela pandemia

Desde 2019, quando foi campeã da prova 4x100m medley misto no Pan-Americano, Giovanna Tomanik Diamante, nadadora do Esporte Clube Pinheiros, já se sentia no caminho certo para os Jogos Olímpicos de Tóquio. Porém, com a chegada da pandemia, a atleta de 24 anos ficou mais de cinco meses sem contato com uma piscina oficial e relata que: “para a natação, é muito complicado você ficar fora da água, a gente perde muito essa sensibilidade”.

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Nadadora exibe sua medalhe de ouro no campeonato sul-americano.

A preparação na pandemia

No primeiro semestre de 2020, ela se mudou para Fortaleza com seu namorado, Luiz Altamir, 24, também nadador do ECP, em busca de piscinas e áreas de treinamento. “De início, foi bem frustrante, porque a gente estava em uma reta final [do ciclo olímpico de quatro anos], já tínhamos passado pelo treinamento mais difícil, que é o começo da temporada”, explica a nadadora.

Um fator esclarecido pela atleta é que o treinamento faz parte de um ciclo de quatro anos. Assim, um ano a mais faz diferença, tanto por ser um ano a mais de treino, como por estar um ano mais velha. “Eu tive que me movimentar do jeito que dava, eu tinha que me manter ativa de alguma forma”, conclui.

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Giovanna Diamante nadando pela sua equipe Esporte Clube Pinheiros.

Uma ‘pirada boa’ foi como ela descreveu sua saúde mental no período em que foi obrigada a parar a sua preparação olímpica, em março de 2020. Além de se preocupar com o físico, fundamental para qualquer atleta de alto rendimento, a nadadora enfatiza a importância de cuidar do psicológico. “O que eu precisei trabalhar, até mais do que o corpo, foi a cabeça, porque as Olimpíadas iam acontecer de alguma forma. Eu tinha que me manter com o psicológico saudável, antes de pensar em fazer exercício”, reitera.

Participação nos Jogos Olímpicos

Passado mais de um ano, em junho de 2021, Giovanna viu o seu trabalho, esforço e dedicação serem recompensados com a realização do seu maior sonho como atleta. Ainda bebê, já teve contato com a água e, logo aos 13 anos, participou pela primeira vez de uma competição de natação, chegando, em 2016, ao seu clube atual que a levou aos Jogos Olímpicos.

“Quando recebi a confirmação, a ficha caiu ali e foi incrível poder ter a minha vaga e representar o Brasil. Sempre foi o meu sonho poder participar [dos Jogos] e eu fiquei muito feliz. Fiquei uns três dias só sorrindo, só passando felicidade para minha família. Eu estava muito realizada”, diz  Giovanna, após enfrentar obstáculos trazidos pela pandemia.

Depois de chegar em Tóquio para realizar o sonho de criança, a pressão só aumentou. Mesmo com os rígidos protocolos sanitários e o risco iminente de contaminação, Giovanna conseguiu vencer essas novas dificuldades: “Eu sentia que o brasileiro estava mais acostumado a andar de máscara e a não apertar a mão. Se você seguisse o protocolo, era seguro suficiente para ficar lá e não pegar covid”, conta. A nadadora ainda reforça que nenhum caso positivo dentro da delegação brasileira havia sido confirmado.

 

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Giovanna Diamante participando dos Jogos Olímpicos 2021.

Sem torcedores dentro da Vila Olímpica, Giovanna explica que a atmosfera foi vantajosa para diminuir a pressão, principalmente em relação aos atletas novatos como ela. “De fato, às vezes, a gente nada pela obrigação, porque tem de dar resultado para o país e orgulho para a família, mas a gente acaba perdendo o brilho, o porquê de a gente estar lá, que é porque a gente gosta”, relata a nadadora.

Após terminar sua prova em 14º lugar, ela “desabou”, não compreendeu o que estava sentindo e apenas conseguiu chorar no colo do técnico e do diretor da natação. “Dei graças a Deus que não tinha um repórter para me entrevistar. Foi um misto de emoções. Eu queria muito ter pegado a final, fiquei um pouco frustrada, mas eu tinha dado o meu melhor, então eu estava muito feliz de ter realizado um sonho”, descreve.

Saúde mental dos atletas

Essa insegurança emocional não foi exclusiva de Giovanna em Tóquio 2020. Simone Biles se tornou um nome de destaque nessa edição dos Jogos, não só pelas medalhas, mas por reconhecer que não estava bem psicologicamente para realizar algumas de suas provas.

Acompanhando o episódio de perto, Giovanna relata que são poucos atletas que enxergam isso e têm coragem de dizer: “não, eu não estou 100% bem” e acrescenta: “É muito além do que a gente pode imaginar [o que a Simone passou] e um problema psicológico é tão grave quanto um problema físico”.

Diamante reitera ainda que ficou “maluca” e desesperada, porque estava sem vontade e ciente de que os Jogos estavam chegando e tinha de se preparar. Segundo ela, a pandemia agravou os problemas psicológicos nos esportistas de alto rendimento e potencializou a pressão “porque nós estávamos incapacitados de treinar mas tínhamos que dar o resultado”.

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Giovanna comemorando dentro da piscina.

A luta pela igualdade

Fora dos 50 metros, Giovanna desempenha um papel fundamental na luta pela igualdade de gênero no esporte. Ela participa do comitê feminino da natação brasileira, um combatente ativo a essa desigualdade e a discursos como “as meninas vão para a competição só para passear, porque elas não dão resultado”. Para a atleta, a diferença de resultados entre os gêneros da modalidade são oriundos de oportunidades desiguais. “Não tem investimento, ninguém olha para a gente  e cobram só o resultado. Com isso, vemos que as meninas não estão chegando tão longe quanto os meninos”.

Para as futuras gerações, Giovanna deixa um recado caracterizado por ela mesma como clichê: “O nosso país não facilita para nós, atletas, ainda mais mulheres. O esporte é ingrato, mas sigam seus sonhos, não desistam, vale a pena, ainda mais se você fizer com felicidade. Um resultado ruim não te define como atleta”.

*Redação Aberta é um projeto destinado a apresentar o jornalismo na prática a estudantes do ensino médio e vestibulandos. A iniciativa inclui duas semanas de oficinas teóricas e práticas sobre a profissão. A segunda edição ocorreu entre 20 de setembro e 1 de outubro. O texto que você acabou de ler foi escrito por um dos participantes, sob a supervisão dos monitores do núcleo editorial e de professores de jornalismo da Cásper Líbero.

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