Seis dos oito estudantes consultados relataram falta de motivação. Trabalho desponta como principal razão de evasão
Aqueles que tiveram de abandonar a escola, não por vontade, mas por necessidade, se encontram agora sem muitas esperanças para retomar os estudos. Seja por falta de recursos, ou motivação. Segundo a pesquisa realizada na Escola Estadual Antonieta Borges Alves, localizada no grande ABC de São Paulo, a taxa de evasão escolar desse ano chega aos 35%.
Em média, a escola possui 600 estudantes do ensino médio. Com isso, mais de 200 pessoas abandonaram a escola na pandemia. Além disso, 20% desses alunos não têm acesso à internet. Mas, o que se sobressai dentre as razões para a evasão escolar é o trabalho, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD contínua), feita pelo IBGE, que avalia dados de 2019.
Apesar de abandonarem a escola para trabalharem, Ivanete de Almeida Santos, vice-diretora da Escola Estadual Antonieta Borges Alves, fala que esse jovem não está preparado para lidar com a pressão do trabalho. Segundo ela, eles não conseguem se dedicar totalmente ao trabalho como deveriam. “Obviamente por não ter se dedicado primeiro a sua educação”, completa ela, ao apontar a razão da falta de preparo para o mercado de trabalho.
Esther da Silva Guedes, 17 anos, atualmente mora em um abrigo para crianças e adolescentes e trabalha em uma lanchonete. Ela diz que deixou a escola e optou pelo trabalho devido ao horário. “Quero conseguir minha casa própria, fazer faculdade de gastronomia e futuramente montar meu próprio negócio’’, conta ela sobre sua visão de futuro. Em suas próprias palavras, a escola é “passado”.
Guilherme Vivaldo, 19 anos, diz que a escola é um “tédio”, mas pretende retomar os estudos. Ele trabalha desde maio de 2021, com quadros e cortiças, montagem e fabricação. Além de querer ajudar financeiramente em casa, outro motivo para o abandono escolar foi a dificuldade em estudar e aprender com a plataforma online. “Ficarei no mesmo emprego, farei cursos profissionalizantes e tentarei carreira como farmacêutico.” diz ele quando é questionado sobre seus objetivos profissionais.
Esther e Guilherme compõe o grupo de 8 estudantes contatados pela reportagem. Dentre eles, 6 falaram sobre a falta de motivação e tempo, e o outro aluno entrevistado não pretende voltar para a escola. Foram mencionadas palavras como “prisão” para se referir à escola. Nenhuma palavra como ‘saudades’ foi citada.