Estudantes e especialistas relatam como a pandemia aumentou a desigualdade nas escolas brasileiras
Diante da pandemia de Covid-19, a desigualdade na educação brasileira ficou ainda mais evidente. A situação trouxe à tona problemas como a falta de recursos digitais e a dificuldade de aprendizagem dos alunos.
A discrepância entre o ensino público e privado é nítida em vários âmbitos, entretanto, durante a pandemia essa desigualdade se tornou mais visível na sociedade. Enquanto alunos de escolas particulares conseguiram se adaptar ao ensino a distância (EAD), estudantes de colégios municipais e estaduais sofrem com a falta de equipamentos e programas de ensino.
Esse abismo vai aumentar ainda mais. Segundo o Balanço do Orçamento do Instituto De Estudos Socioeconômicos (Inesc), enquanto escolas particulares adotam rapidamente aparelhos e melhorias para o ensino remoto, escolas públicas não tinham recebido nem diretrizes para conduzir o novo modelo.
Kauan Alexandre, 17 anos, é estudante do terceiro ano do ensino médio do Colégio Estadual Professora Antonieta Borges Alves, e afirma: “Me senti sozinho, não sabia ter um diálogo com meus professores”. Esse é um dos sentimentos que afloraram durante a pandemia, no entanto, a insegurança estava presente em todos os momentos. Isso, porque as atividades eram passadas, porém não tinha acompanhamento, nem apoio dos professores durante a execução,
Entretanto no caso de Fernanda Quilles, 17 anos, estudante do terceiro ano da escola privada Colégio Guilherme de Almeida, ela obteve apoio e compreensão dos profissionais para um melhor aproveitamento. “A escola sempre se envolveu muito e tentou dar o melhor para ajudar todos os alunos, os professores são mais atenciosos, mas principalmente os colegas da minha classe começaram a se unir e ajudar uns aos outros” relata Fernanda.
Além da diferença com os professores, a estrutura na hora do estudo é fundamental. Fernanda possui um ambiente tranquilo e confortável para exercer as atividades escolares. “O meu ambiente de estudo é bem tranquilo, moro só com a minha mãe e ela trabalha das 7h às 16h, então o dia inteiro fica silêncio na minha casa. E eu tenho uma escrivaninha no meu quarto, onde coloco o computador, meus cadernos e apostilas”, descreve. Em contrapartida, Kauan precisa esperar os irmãos estarem ocupados para conseguir um espaço para estudar. Com três irmãos em casa, ele relata: “existem momentos em que consigo estudar, principalmente no período da manhã antes dos meus irmãos irem pro trabalho, eles sempre tem coisas pra fazer”.
Políticas públicas
Segundo Kauan, o único meio de consulta e para tirar dúvidas disponibilizado pela escola foi o CMSP (Centro de Mídia de São Paulo). Durante a entrevista, Kauan relata a atitude da escola perante a falta de acesso a computadores. “Para aqueles alunos que não tinham eletrônicos, só disponibilizaram alguns computadores na escola para fazerem as provas semestrais “, relata.
A prefeitura de São Paulo comprou 465 mil tablets em 2020 e prometeu entregar até o final do ano de 2021. Até o momento, apenas 70 mil estudantes receberam o equipamento.
Segundo pesquisa realizada em maio deste ano, com dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), cerca de 4,8 milhões de crianças e adolescentes, de 9 a 17 anos, não têm acesso à internet em casa. Esse número corresponde a cerca de 17% de todos os brasileiros nessa faixa etária. Pesquisa realizada em Maio de 2021.
A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Educação de São Paulo para questionar sobre a falta de suporte dada aos estudantes, mas não obteve respostas até o momento da publicação.