Com o retorno das atividades presenciais em 2022, marcas deixadas pelo isolamento na sociabilidade das crianças são um dos principais empecilhos para profissionais da educação infantil
Foi um longo período com o ensino em modalidade remota. O ano letivo de 2022 marca o retorno ao presencial no pós-pandemia, mas há um cenário bem distinto do que foi deixado há dois anos. Profissionais de educação notam que, agora, temos alunos com perfis diferentes e mais dificuldades no convívio escolar. Além da falta de foco e ansiedade, um efeito inusitado vem sendo observado: estudantes mais introspectivos em sala de aula e durante os intervalos. Tratando-se de alunos na segunda e terceira infância, cruciais fases de desenvolvimento social, as consequências podem ser ainda mais graves.
Desvios de atenção
Professores vêm notando turmas mais desfocadas, com alunos dispersos, distraídos e enfrentando dificuldades de concentração. Vícios de rotina dos alunos durante a vigência do ensino remoto possivelmente desviaram dos requisitos para a boa absorção do conteúdo e aproveitamento das aulas, com efeitos ainda piores para a educação básica.
Franciane Medeiros, professora e psicomotricista, relata que “as crianças da educação infantil já possuem um perfil egocentrista, com dificuldades em compartilhar brinquedos e objetos”. Sem a explicação do professor frente a frente, o aprendizado dessas turmas acabou prejudicado. Ela reforça que “crianças da educação infantil não têm maturidade cognitiva suficiente para aulas por meio do ensino remoto”.
Introspecção e hiperatividade
Já nos anos iniciais do ensino fundamental, nota-se uma introspecção dos alunos com mais intensidade. “Eles têm muitas dificuldades de comportamento na escola, no relacionamento com o próximo e na socialização no geral”, relata Marly Perdigão, professora de 2º e 5º ano. As relações dentro de casa influenciam diretamente no comportamento dos alunos e, com o período de ensino a distância, há mais margem nesse sentido. A professora relata que “problemas familiares acabam fazendo com que os alunos tenham muitas dificuldades em se expressar.”
A introspecção faz com que os alunos acabem desenvolvendo uma espécie de “pavio curto”, ou seja, ficam mais agitados e estressados em sala de aula, atrapalhando a si próprio e aos colegas na concentração e no andamento das aulas. Marly observa que “isso ocorre devido a várias situações. Cada aluno possui um perfil, pois são diferentes uns dos outros e o professor precisa adaptar o processo de aprendizagem de acordo com as necessidades de cada um, principalmente quando existem alunos que apresentam mais dificuldades de concentração”.
Sociabilidade pós-pandemia
Devido a desconexão social no isolamento, o intervalo tornou-se um momento mais importante ainda no pós-pandemia, pois é a melhor oportunidade de criar novas amizades e grupos. Para Franciane, “novos grupos foram formados, mesmo com idades e perfis diferentes”.
Já a professora Marly relata que, apesar da oportunidade positiva, fatores extra escolares acabam influenciando o relacionamento entre as crianças. “Para muitos alunos o intervalo é o melhor momento do período escolar, já que na sala de aula as conversas e saídas costumam ser controladas, mas pode oferecer também um momento de conversa, troca de ideias e até mesmo um início de uma nova amizade. Existem também alunos que ficam muito agitados durante o intervalo devido muitas das vezes por problemas familiares e socialização na escola”.