Especialistas e estudante avaliam pontos positivos e negativos do método empregado durante a pandemia
A pandemia tem sido um acontecimento que gerou mudanças em vários processos sociais e educacionais, dentre eles está a aplicação do vestibular. Para driblar a crise, uma das soluções apresentadas para realizar a prova foi o vestibular remoto ou online. Uma solução inovadora, porém complexa considerando as diversas realidades socioeconômicas brasileiras.
A falta de equipamentos necessários para a realização do vestibular é importante para o debate. Segundo o relatório do IBGE de Síntese de Indicadores Sociais 2021, apesar de muitos estudantes entre 15 e 17 anos possuírem o acesso à internet em casa, somente 50,4% possuem computador ou notebook no ambiente domiciliar. Sendo que a presença conjunta dos três elementos: internet, notebook e computador atinge menos da metade desses estudantes (48,6%). Esses dados demonstram a dificuldade dos processos educacionais a distância no Brasil.
A Faculdade Cásper Líbero realizou seu vestibular de forma remota durante a pandemia. Adalton Diniz, vice-coordenador da Faculdade e responsável pelo vestibular da instituição, afirma que o método usado não provocou mudanças significativas no acesso à universidade. “Eu acho que de um modo geral o problema do acesso não está vinculado efetivamente com o processo seletivo, está muito mais ligado a condição econômica propriamente”, avalia Diniz.
O Brasil está passando por uma crise econômica desde 2014 e se intensificou com a pandemia do coronavírus, aumentando para 8,89% (do dia 6 de junho de 2022) a projeção de inflação de 2022. O preço dos alimentos superaram esse índice e impactaram as famílias brasileiras, mesmo com o aumento do salário mínimo neste ano. Outro agravante também são as altas taxas de desemprego que atingem cerca de 11,3 milhões de pessoas no ano de 2022.
Para o estudante e Presidente do Centro Acadêmico Vladimir Herzog da Faculdade Cásper Líbero, Thiago Baba, a dificuldade de acesso à universidade pelo vestibular remoto varia de acordo com a realidade de cada estudante. Segundo Baba, “se você vai fazer um vestibular remoto, você tem que ter todos os aparelhos, toda infraestrutura necessária para fazer esse vestibular.” Ainda relatou casos de pessoas da Faculdade que tiveram problemas durante a execução da prova “se o meu amigo, que é de uma classe social mais alta, teve dificuldade pra conseguir atualizar o computador e baixar o programa, imagina uma pessoa que não tem essa infraestrutura”.
Apesar do conforto de poder fazer a prova em casa, o exame pode estar sujeito a fraudes, porém existem softwares que driblam parcialmente esse problema como o Safe Exam Browser (que foi utilizado no ano passado para a realização do processo seletivo da Faculdade Cásper Líbero). Esse software impede que o aluno tenha acesso a outras janelas de navegação durante o período da prova. Esse software tem que ser configurado pelo aluno com antecedência para a prova.
Atualmente a Faculdade Cásper Líbero não trabalha com descontos pelo Enem, ProUni, FIES, ou outros tipos de financiamento. Diniz, questionado sobre algum projeto de inclusão da faculdade nesses programas, respondeu que nenhum desses programas serão incluídos na Cásper, por conta da crise econômica. Apesar disso, afirma que a instituição possui bolsas de estudo.
Diniz também diz que apesar das desvantagens o processo remoto “pode ter facilitado, porque ele dispensa o deslocamento já que particularmente na Cásper Líbero a gente concentrava o vestibular em um único local ou em instituições maiores”. Essa vantagem também é pontuada para Thiago Baba que enxerga a possibilidade de acesso à Faculdade por pessoas de outros estados.
O professor Rodrigo Ratier pontua como o vestibular remoto pode trazer benefícios de modo mais amplo na sociedade. Um exemplo disso seria a economia de papel e combustíveis para a impressão das provas e deslocamentos, respectivamente. “O vestibular online pode vir para diminuir custos”, pondera Ratier, considerando que o Enem tem chances de se tornar digital no futuro com o aprimoramento da vigilância.
Entretanto, ele pondera: “[o vestibular remoto] não garante uma democratização do acesso, nem da permanência [no ensino superior]”. Ele pensa no vestibular remoto como um passo em direção a outros modos de classificação para o ingresso nas universidades. Seria no sentido de um processo seriado nos três anos do ensino médio que consideraria entrevistas, o portfólio do aluno, voluntariados e projetos que o aluno participou durante sua vida estudantil.