O paratleta Vinícius Rodrigues relata sua história, rotina e conselhos para aqueles que buscam realizar o sonho de se tornarem um paratleta.
Vinícius Rodrigues, o “Miojo”, como o chamavam na época de escola, tem 27 anos e compete na categoria de paratleta. Em 2019 quebrou o recorde mundial dos 100m rasos da classe T63, para amputados de perna acima do joelho. Vinícius foi criado pela mãe, tem uma irmã e uma filha de 17 anos. No seu tempo livre, alega que gosta de jogar videogame e descansar para o próximo treino. Em entrevista a ESQUINAS, Vinicius conta que a quantidade de treinos em anos de Paralimpíadas e anos de intervalo é a mesma, sempre revezando e seguindo a periodização que o técnico exige na preparação para a competição alvo daquele ano. Anos de Paralimpíadas, com certeza, são mais emocionantes e motivadores, mas o atleta segue na mesma pegada nos outros anos para continuar liderando o ranking mundial. “A preparação para as competições é bem intensa, a rotina chega a 6 horas por dia, 3 horas de manhã e 3 horas de tarde” relata.
“A quantidade de viagens é sempre a mesma. Só viajamos para competir o mundial e os jogos paralímpicos. Mas o lado emocional muda, com certeza. A motivação no ano de paraolimpíada sempre muda, o desafio maior motiva mais”, conta o paratleta.
Primeiro contato com o esporte
O sonho de ser atleta e representar o país sempre brilhou dentro de Vinícius. “Minha primeira experiência com o esporte foi nos interclasses da escola, ficava ansioso para competir e vencer. Tenho até hoje meus títulos de judô e futebol dessa época”. Sua primeira competição de corrida foi no exército. “Com todo mundo gritando e competindo na corrida, flexão, abdominal e barra, foi minha primeira disputa que eu considero grande e foi onde eu senti que esse esporte era muito bom e que era aquilo que queria para mim. Mas a primeira vez que realmente senti que ia para o esporte paralímpico foi a primeira vez que eu coloquei a prótese de corrida e a hora em que eu me vi ali montado, cinco meses depois do meu acidente, eu sabia que aquilo era para mim. Então, a partir desse dia, eu virei a chave em busca de me tornar um velocista paralímpico e campeão”.
“A minha maior dificuldade foi sair de casa e deixar a minha família para viver esse sonho. Foi só com muleta e vontade que eu cheguei em São Paulo, onde aprendi a andar. Aí acabei já conseguindo a prótese de corrida, um clube e um lugar para ficar. Então agarrei firme a oportunidade. É lógico que tenho muitas dificuldades até hoje, pois tenho que sempre me manter em um nível alto. Acho também que a maior dificuldade é se manter no topo”, conclui Vinícius, que é líder do ranking mundial faz cinco anos.
O velocista não poupa sentimentos ao falar do que significa vestir as cores do país. “A sensação de representar o Brasil é a melhor, acho que não existe honra maior do que representar o seu povo, ainda mais subir no pódio, receber uma medalha e ouvir o hino. Esses são aqueles dias que vou lembrar quando estiver bem velhinho, é algo que fica para a história, tanto minha quanto da minha família, da minha cidade e do meu país”.
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Visibilidade do paratleta
Para Vinícius Rodrigues, a visibilidade dos esportes paralímpicos ainda é uma batalha a ser vencida. “Isso já começa com a televisão. Por que os jogos paralímpicos não foram transmitidos em canal aberto e os jogos olímpicos sim, sendo que a gente tem mais medalhas que o olímpico? O espaço que a gente tem na mídia também é muito pequeno. No Brasil, ainda é tudo muito cultural. O atletismo em si ainda não tem tanto destaque e isso tudo acarreta no baixo interesse das marcas em nós. Nós temos os resultados, temos os meios pelo qual realizamos ações, mas ainda é algo muito cultural o paratleta não ser tão valorizado como deveria”.
Conselhos
Para as futuras gerações do esporte, o atleta fala muito sobre força de vontade. “Tem que querer muito. Você vai se deparar com diversas circunstâncias que vão testar se é realmente isso que você quer. O que vai determinar se você vai chegar lá ou não é a vontade, o quanto você vai empenhar a sua energia no esporte. Também é preciso ter paciência, porque os frutos demoram para serem colhidos e a gente não sabe quando vai chegar essa hora. Por último, tem que fazer tudo com alegria, quando as coisas são feitas assim tudo fica mais fácil”.