Haddad, Tarcísio e Garcia despontam na disputa em SP; conheça o perfil dos principais candidatos a governador do estado mais rico do país
A eleição para o governo do estado de São Paulo costuma ser acirrada e influencia o cenário político a nível nacional. Trata-se, afinal, da unidade federativa com o maior PIB e segundo maior IDH – atrás apenas do Distrito Federal. Não à toa, São Paulo é conhecida como a locomotiva do Brasil. Para o pleito de 2022, 12 candidaturas foram recebidas, entre as quais 3 se destacam e pontuam de modo relevante nas pesquisas de intenção de voto: Rodrigo Garcia (PSDB), atual governador; Fernando Haddad (PT), ex- ministro da Educação ex-prefeito de São Paulo; e Tarcísio de Freitas (Republicanos), ex-ministro da Infraestrutura.
A corrida ao cargo mais importante do estado está a todo vapor e os candidatos mais bem colocados nas pesquisas já tiveram a oportunidade de se enfrentar em debate organizado pela Bandeirantes no domingo, 7 de agosto. Há um novo encontro marcado para 13 de setembro, promovido pela TV Cultura. Além dos candidatos de melhor posição nas pesquisas, Vinícius Poit (Novo) e Elvis Cezar (PDT) estarão novamente presentes. A íntegra do debate já está disponível online no canal do Youtube da Bandeirantes.
A fim de promover um voto consciente e devidamente informado, a reportagem de ESQUINAS apontará as perspectivas para o eventual governo de cada um dos três candidatos com mais chances de assumir o Palácio dos Bandeirantes a partir de 2023. Além de refletir, em certa medida, os pólos ideológicos da disputa presidencial, a corrida ao governo estadual pauta novamente o domínio da gestão tucana em São Paulo e traça dúvidas quanto ao destino e futuro do PSDB.
Fernando Haddad (PT)
Segundo pesquisa Datafolha divulgada em 18 de agosto, Fernando Haddad, ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo, lidera isolado as intenções de voto, com 38% de preferência do eleitorado. Candidato à presidência em 2018, Haddad possui um nome consolidado na capital, mas é também muito rejeitado. Embora avaliada como inovadora, a gestão na prefeitura entre 2013-16 recebeu muitas críticas, batendo recordes negativos na série histórica de aprovação.
Iuri Faria, internacionalista e mestre em filosofia pela UFABC, teme que a última experiência executiva de Haddad pese contra o ex-prefeito na disputa ao governo – o petista enfrentou, vale lembrar, uma São Paulo em plena efervescência política com as Jornadas de Junho de 2013.
“Ele tem um bom potencial, mas houve, sim, problemas significativos que ficaram patentes na prefeitura de São Paulo. O cenário em 2013 afetou muito a sua popularidade, levando a um péssimo desempenho na busca pela reeleição em 2016”, diz Iuri.
Veja o trecho em que Tarcísio confronta Haddad mencionando a prefeitura:
Os resultados das pesquisas até aqui são surpreendentes, considerando o domínio de quase três décadas do PSDB e o forte antipetismo no interior do estado. Avalia-se que o nome de Geraldo Alckmin, vice na chapa com Lula, venha ajudando a fortalecer a candidatura. Para Iuri, a liderança do ex-presidente nas intenções de voto entre o eleitorado paulista consolida ainda mais o nome de Fernando Haddad.
Segundo Faria, o grande desafio de uma eventual gestão Haddad seria o desalinhamento da maior parte das prefeituras com a coligação petista. “Não bastam só os planos do governador para executar políticas públicas no estado. A cooperação com as prefeituras é essencial”, pondera o internacionalista.
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Tarcísio de Freitas (Republicanos) governador
Tarcísio Gomes de Freitas foi ministro da Infraestrutura durante o governo de Jair Bolsonaro. Desde 28 de março, é filiado ao Republicanos, antigo PRB. Ocupou cadeiras administrativas também durante os governos de Dilma e Temer.
Enquanto ministro, fomentou-se em torno de Tarcísio a imagem de um “executor de obras”. Iuri Faria, porém, avalia que “não há execução de políticas públicas”. Para o internacionalista, o ex-ministro apenas deu continuidade a algumas obras do governo Dilma.
Na pesquisa espontânea, modalidade que não apresenta os nomes dos candidatos a governador, Tarcísio é o que mais pontua, seguido de Haddad. Isto é, de acordo com Faria, um sinal da polaridade entre direita e esquerda que existe no país. “Pode acontecer uma migração em massa de votos do Garcia para o Tarcísio, passando na frente no segundo turno”, diz o analista.
“Mesmo em segundo lugar nas pesquisas, pensando no histórico dos paulistas nas eleições, é possível dizer que o candidato do presidente é o favorito”, destaca Faria. Iuri comenta que, possivelmente, o principal ataque dos opositores de Tarcísio será em cima da ligação do ex-ministro com o atual presidente da república.
Rodrigo Garcia (PSDB) governador
Candidato à reeleição, o tucano Rodrigo Garcia surpreende negativamente no início da corrida eleitoral. Ainda que represente o partido que comanda o estado há quase três décadas, Garcia desponta apenas no 3º lugar das intenções de voto.
Entretanto, é importante ressaltar que Rodrigo é o atual governador de São Paulo e, assim, possui a máquina pública em suas mãos, adquirindo certa vantagem sobre os outros adversários. O alinhamento massivo com as prefeituras também pesa a favor.
“A pesquisa mostra uma grande chance de ter uma alternância de poder, algo que aqui em SP não tem há mais de 20 anos”, analisa Iuri sobre a situação do atual governador.
Para Iuri Faria, a candidatura do Tarcísio, associada ao bolsonarismo, tende a dividir muito voto na direita, algo que “não acontecia tanto nas outras eleições”
Gestão e futuro do PSDB
Desde 1994, quando Mário Covas foi eleito governador e derrubou a soberania do PMDB no estado, o PSDB não saiu mais do comando paulista. Governadores tucanos como Geraldo Alckmin e José Serra tentaram ainda, por 4 vezes, a disputa à presidência – demonstrando que, além de dominante, a gestão tucana alçava nomes para o debate público a nível nacional.
“Há estratégias para se manter no poder por tanto tempo. Ocorre também que o interior de São Paulo é muito desenvolvido para o padrão brasileiro, gerando uma certa qualidade de vida e um desejo de continuidade por essa vida, não criando tanto ímpeto de alternância por poder”, acrescenta Faria.
Faria destaca ainda o papel da mídia na manutenção da hegemonia do PSDB no estado: “Para te dar um exemplo, um jornal, quando o Kassab era prefeito, não tinha nenhum repórter dedicado exclusivamente à prefeitura de São Paulo; quando o Haddad assumiu, passou a ter três repórteres exclusivos para cobrir a prefeitura”.
A eleição de 2022 será a mais difícil para o PSDB. “O desgaste do partido fica claro ao vermos o Doria se retirando totalmente da vida política e não tendo um papel de destaque na candidatura do Rodrigo Garcia, o que não acontecia antes”, comenta Iuri.