Renata Rampazo, psicopedagoga, destaca o papel do apoio familiar para a inclusão nas escolas brasileiras. Garantia constitucional não é plenamente cumprida
A educação é um direito fundamental de qualquer cidadão, que permite o desenvolvimento individual e da sociedade. No entanto, a garantia desse direito aos alunos com algum tipo de deficiência (intelectual ou física) é um grande desafio para os profissionais da área e deve ser analisado com cuidado. A inclusão tem se tornado uma palavra de ordem cada vez mais presente nos debates entre pedagogos e profissionais do setor.
O artigo 208 da Constituição Federal de 1988 estabelece a garantia de políticas públicas que incluam alunos com necessidades especiais: “Atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino”. Apesar da existência de leis voltadas para a inclusão, o cenário ainda não é o ideal.
Capacitação e inclusão
Segundo estudo feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2019, estima-se que existem cerca de 17,3 milhões de pessoas com pelo menos um tipo de limitação relacionada às suas funções. Outro dado que evidencia a falha na inclusão desta faixa da população no ensino básico, é o fato de que 67,6% dessas pessoas não possuem instrução ou então nem concluíram o Ensino Fundamental de acordo com o IBGE.
Renata Rampazo, psicopedagoga clínica particular com experiência também em inclusão nas escolas, afirma: “A principal dificuldade na inclusão dentro das escolas é a falta de capacitação dos profissionais designados a essa função, sejam eles professores, coordenadores, diretores, etc.”.
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O ex-aluno André Nascimento de 18 anos, diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista, cursou todo o ensino fundamental e médio em uma instituição privada de ensino, e diz: “Sentia uma certa falta de direcionamento na minha vida escolar, ficava com vergonha de esclarecer algumas dúvidas porque pensava estar atrapalhando, isso foi muito chato pra mim”. Isso se dá pelo fato de muitos pais e alunos ainda terem crenças preconceituosas em relação à inclusão, e pensarem que um aluno “normal” terá seu aprendizado prejudicado, devido a presença de colegas com alguma condição na mesma sala de aula.
O apoio familiar
Assim como na escola, esse suporte deve vir de casa também, “O que me ajudou muito, com certeza, foi minha família. Sempre esteve bem presente, acho que isso é essencial, ter o apoio da família em algumas situações em que não tinha como pedir ajuda aos professores, por exemplo.” acrescenta André.
Em paralelo com relato de André, Renata diz que as famílias devem fazer parte do desenvolvimento acadêmico: “percebo que muitas famílias esperam que apenas a escola seja responsável por esse trabalho, mas é preciso um esforço de ambas as partes. Famílias que negligenciam esse processo, acabam deixando o aluno cada vez mais desamparado e inseguro”. Para garantir que jovens com necessidades especiais tenham acesso à educação, é necessário um esforço coletivo entre políticas públicas e leis de inclusão, escolas e profissionais da área e das famílias, segundo a profissional.
“O cenário, hoje, é muito melhor do que já foi um dia. Diversas escolas já possuem um núcleo de inclusão para um trabalho mais direcionado, mas é claro que ainda dá para melhorar muito.” acrescenta a psicopedagoga. Por todas essas razões, é importante que se invista na capacitação de profissionais e estimulem as famílias a apoiar estes jovens na busca do direito à educação.