No maior campeonato de futebol do mundo, crianças torcem pelo o Brasil e relatam o que já aprenderam com a disputa mesmo com a bola fora de campo
A seleção brasileira não ganha uma Copa do Mundo há 20 anos. Mesmo assim, no “país do futebol”, a população tem seu jeito especial de torcer e comemorar cada chute, cada gol e cada vitória — e até as crianças vibram junto. Na esperança do tão aguardado Hexa, elas colecionam álbum de figurinhas, realizam atividades nas escolas, têm seus jogadores e seleções favoritos e, claro, pretendem acompanhar os jogos fielmente.
“É diferente da emoção de outros jogos”, afirma Enrico Perin, de 11 anos. Essa é a primeira Copa em que o garoto está colecionando figurinhas. Ele está animado para encher o livro e comemorar o possível hexacampeonato com os amigos e a família. Inclusive, a mãe de Enrico, Alline Perin, relata que se reuniu com diversos parentes para montar o álbum de figurinhas do campeonato: “Foi bem legal, todos queriam participar, conferir, colar, e apesar de caro, foi muito divertido.”
Para Gabriel Alves, de 12 anos, a euforia também é grande. “Eu fico mais emocionado quando vejo um jogo do Brasil [comparado a campeonatos nacionais], porque é o Brasil inteiro contra outro país do mundo”, explica.
Até crianças mais jovens estão ansiosas para o início dos jogos. Leonardo Almeida, de apenas 5 anos, não consegue conter a animação e diz que está colecionando o álbum comemorativo. “Vem tudo repetido!”, declara, frustrado.
A torcida nas salas de aula
“Toda vez que tem Copa é bem animado, as crianças comentam bastante”, relata a professora Sandra dos Santos sobre seus alunos. Em 2014, quando os jogos aconteceram no Brasil, ela observou uma agitação dos pequenos, que ficavam eufóricos ao ver os ônibus das seleções mundiais se deslocando pelo país. Segundo a docente, mesmo que este ano a Copa seja sediada no Catar, o entusiasmo continua o mesmo.
As crianças passam a maior parte dos dias na escola. Por isso, não poderiam ocorrer em outro local as trocas de vibrações pelo título mundial. “Virou uma febre”, nota a professora de ensino fundamental Elen Abrahão. “Os meninos que jogam futebol sabem tudo sobre a Copa — nome de jogadores, bandeiras, países —, estão super envolvidos”, continua a educadora.
Na escola municipal Paulo Gomes Barbosa, onde leciona a professora Sandra, em Santos (SP), não é diferente. Segundo ela, as crianças estão, inclusive, jogando bafo com as figurinhas que sobram após as trocas no intervalo.
Porém, a Copa do Mundo não é assunto apenas para os momentos de lazer — está presente também nas salas de aula. Sandra aproveita a fascinação pelo evento esportivo nas aulas de Geografia, quando utiliza o Mapa-Múndi para buscar os países participantes da competição, além de discutir noções climáticas e continentais.
Já no colégio Luiz de Queiroz, onde Elen leciona, em Piracicaba (SP), as aulas de Educação Física exploram não apenas os jogos, como também a história do futebol. Ali, o esporte também se espalhou pelo mundo das exatas. A docente conta que uma professora de Matemática aproveitou as formas geométricas das bandeiras para ensinar polígonos. O método inusitado, segundo Elen, torna o conteúdo mais atrativo para a criançada.
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Sonhos de crianças em campo
Apesar de a maioria das crianças nunca ter visto o Brasil ser campeão, Enrico, Gabriel e Leonardo são provas vivas de que esse sonho continua pulsante nesta geração. O incentivo à prática e aprendizagem através do futebol é um caminho para ensinar os pequenos a valorizar a cultura, aprender a trocar — com conhecidos ou não — as figurinhas do álbum, além de ser um propulsor para descobrir novos sonhos e talentos.
Elen reforça como o diálogo aberto impacta positivamente seus alunos: “Sou a favor de aproveitar aquilo que desperta o interesse da maioria”, diz. “Ao explorar algum assunto, gosto de fazer um levantamento do conhecimento prévio, discutir — com cada um trazendo o que sabe —, compartilhar, socializar e, depois, aprofundar o assunto”, explica.
A cada quatro anos, as expectativas são renovadas e dão a energia necessária para torcer pela Seleção. Diego Souza, de 10 anos, confessa que seu maior sonho é representar o Brasil em campo e ouvir a torcida inteira gritar seu nome, assim como faz com grandes jogadores: “Eu gosto tanto da Copa, que não me importo de aprender matemática, se é isso que eu preciso para realizar meu sonho.”
A competição ainda tem esse poder mágico de inspirar e mexer com o imaginário da criança. O Campeonato Nacional de Futebol pode ser o mesmo para os brasileiros que já viram o país ganhar, mas os jogos sempre serão novos e diferentes aos olhos de uma criança que sonha com a chegada desse momento até hoje. No fim, a esperança se sobressai: trazer o Hexa para casa.