Nesta quarta-feira (15), estudantes e professores foram para o coração de São Paulo lutar por um ensino médio inclusivo para a nova geração
A União Municipal dos Estudantes Secundarista de São Paulo (UMES-SP), assumiu no dia 15 de março, às 8 horas, uma manifestação defendendo a suspensão do Novo Ensino Médio. O ato contou com inúmeros manifestantes que se reuniram em frente ao MASP e, logo em seguida, desceram a avenida Brigadeiro rumo à Assembleia Legislativa. Tudo ocorreu de maneira pacífica, com o acompanhamento da Polícia Militar e sem registros de nenhum boletim de ocorrência.
Outras cidades também aderiram o ato “Aula na Rua” organizado pela União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), como Campinas, Salvador e Recife.
A manifestação contou com a presença de diversas instituições de ensino das cinco regiões paulistanas, que cobravam uma educação com a menor defasagem possível entre escolas públicas e particulares, assim como a criação de uma nova proposta para o ensino médio dialogada com a sociedade. “Os estudantes querem participar da construção das políticas públicas educacionais no Brasil, não dá mais para fazer política sem dialogar com os estudantes e é isso que eles vieram falar pra São Paulo e pro Brasil inteiro”, diz Claudia Bandeira, integrante da campanha nacional pelo direito à educação.
“Aula na Rua”?
“Estou aqui hoje para defender todos os direitos dos estudantes. Eu quero que as gerações futuras tenham uma educação melhor. Esse Novo Ensino Médio está nos afastando de matérias essenciais como filosofia e sociologia, ou seja, ele não abre nossa mente!”, explica o Thales Dakeo, estudante da ETEC Albert Einstein, localizada na zona norte de São Paulo.
Segundo Natália Araújo, estudante do Escola Estadual Alberto Conte, na zona sul, o novo modelo colabora com a pressão social para que jovens escolham cedo suas formações profissionais. “Nós estamos aqui pois o NEM afeta todo nosso futuro. Nós naturalmente já somos obrigados a escolher qual profissão vamos exercer agora com 17, 18 anos e eles dificultam isso retirando matérias que nos ajudavam a criar um pensamento crítico para tomada dessa decisão.”
“Essa reforma no ensino médio, retira itinerários super importantes, deixando como matérias obrigatórias apenas português e matemática, o que acaba não acrescentando em nada o nosso conhecimento já que estão nos tornando mão de obra barata!”, conta Sofia Aparecida, do Colégio Caetano de Campos.
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“Já está havendo começo da privatização”: professores avaliam o futuro da educação pública no Brasil
A reforma do Novo Ensino Médio, desde que foi aprovada, provocou uma série de discussões sobre a sua eficácia na educação do Brasil, já que, na opinião de muitos, amplia a desigualdade no país.
“O Novo Ensino Médio é uma medida que foi aprovada por meio provisório no governo Temer sem diálogo com os estudantes e profissionais da área da educação, ela precariza ainda mais o ensino médio nas escolas públicas e acirra ainda mais as desigualdades, porque é uma reforma que enxuga o currículo comum e que tem como objetivo principal fazer com que as camadas populares não acessem o Ensino Público Superior”, comenta Claudia Bandeira sobre a reforma do Ensino Médio.
Quando questionada sobre como o NEM implica nos colégios públicos brasileiros, Natália Araújo diz: “em algumas escolas públicas, como a minha, nem direito de escolha nós temos pelo itinerário formativo que vamos receber. Às vezes, o mesmo não tem relação com o que queremos estudar, já que essa era a ideia da reforma. Acaba sendo contraditório.”
Alternativas para o Novo Ensino Médio
Os estudantes não foram às ruas apenas para pedirem a revogação do NEM, mas sim para sugerir alternativas que fossem igualitárias e viáveis a todos, não só na teoria, mas, principalmente, na prática. Dentro dessas alternativas, está a participação ativa dos estudantes em uma nova reforma. Essa participação poderia ocorrer via grêmios estudantis, que representam a voz dos alunos de cada escola e repassam isso em assembleias para o Ministério da Educação (MEC).
Para que os estudantes vejam a força que possuem quando estão juntos lutando por seus futuros, o projeto “Tô no rumo” idealizou um material simples, porém efetivo, que mostra como o NEM os afeta e como podem exigir seus direitos de uma educação digna. Claudia Bandeira, uma das representantes deste movimento explica melhor a ideia do projeto: “A ação educativa está lançando hoje um projeto que são histórias em quadrinhos que tem o objetivo de democratizar o debate sobre essa reforma, a ideia é que todos possam entender quais são os impactos e se mobilizar para mudar essa realidade. Tudo isso é feito em três episódios com uma linguagem fácil e acessível”
O movimento com certeza serviu para chamar a atenção da mídia e do governo, porém manifestantes ainda estão no aguardo de um posicionamento oficial e um possível diálogo.