Conheça a história de uma das diversas mulheres que resolveram tomar suas próprias decisões, quebrar tabus sobre o corpo feminino e praticar o autocuidado.
Na sexta-feira, 2 de maio, ocorreu na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU) a III Expofeira das Minas. O evento ocorre há três anos e é organizado pelo coletivo feminista Mayumi Watanabe e tem como objetivo dar espaço para mulheres exporem sua arte e conversarem em oficinas sobre temas importantes que consideram importantes.
Dentre as mulheres presentes, tivemos o prazer de conhecer, conversar e participar de uma oficina de autocuidado feminino ministrada pela estudante de geografia, mãe de duas meninas e doula, Júlia Lourenção. Além da oficina, a estudante levou os produtos da sua marca, Calma Camomila, para vender na feira, como absorventes ecológicos e saquinhos de sementes que ajudam em casos de insônia.
Lourenção começou seus trabalhos na área de produtos naturais quando perdeu seu coletor menstrual, como ela já usava o copinho, como é popularmente conhecido, há três anos e se recusava a comprar absorventes descartáveis resolveu costurar seu próprio absorvente ecológico. A ideia foi ganhando cada vez mais forma e assim ela passou a fazê-los para parentes e amigas e hoje os vende por encomenda. O negócio ainda é pequeno e a jovem não tem muita vontade de aumentá-lo. Ela explica que o objetivo, além de produzir menos lixo, também é fazer com que a mulher conheça melhor seu corpo e, principalmente, seu ciclo menstrual.
Para a doula o sangue menstrual ser tratado como lixo não é u problema apenas para o meio-ambiente, mas também para o amor próprio e autoestima da mulher. Já que ao jogar o sangue fora ela estaria afirmando junto com esse ato que “um pedaço dela é um lixo”. O que não ocorreria com o uso de um coletor menstrual, pois a mulher entraria em contato com esse sangue, ao lavá-lo, e devolveria para a natureza aquilo que ela quer que morra em seu copro para poder renascer, fazendo parte de um ciclo.
Essa relação mais natural que Lourenção apresenta com a menstruação também se estende ao resto do seu corpo. A oficina de autocuidado que teve como tema principal a fitoterapia, ou seja, o estudo de uso e plantas medicinais para curar doenças teve um tom bem íntimo fez as presentes se questionarem sobre a relação que estabelecem com seus próprios corpos. Por ser mãe de 2 meninas, a doula entende como é difícil para a maioria das mulheres achar um tempo para o autocuidado e por isso sugere o preparo de chás para criar um momento de contato com o próprio corpo, para ela, tomar remédios apenas mascara a dor, que muitas vezes está ali apenas como um informativo de que algo está errado, investigar sua causa e fazer um tratamento que não seja abrasivo é respeitar seu corpo e seu tempo natural de se recuperar.
Após a parte mais explicativa da oficina tomamos os chás de camomila e de anis estrelado preparados durante a mesma e fizemos uma roda de mulheres em que cada uma pode expressar o que sentiu ao tomar o chá, entre outras questões. Lourenção deixou claro que essa é sua parte preferida, pois pode ter uma troca sincera com outras mulheres e aprender com elas.
A relação da jovem empreendedora com os chás começou quando ela ainda era um bebê. Sempre foi algo tradicional na sua família, mas que começou a estudar a fitoterapia mais sistematicamente após o nascimento da sua segunda filha, quando se tornou doula e passou a estudar ginecologia natural. Lourenção explica que o trabalho da doula consiste em acompanhar a gestante desde o começo da gravidez até a hora do parto e ajudar a mediar a linguagem especializada do médico para a mãe, muitas vezes leiga, além de ser responsável pelo bem estar da paciente durante todo o processo. Ser doula também provém desse modo mais natural de enxergar a biologia feminina e de querer ajudar outras mulheres a encarar o parto da forma mais natural possível.
Lourenção é contra dar um rosto ao movimento de mulheres que propagam a sabedoria da natureza em relação aos corpos. “São conhecimentos que me atravessam, que eu compartilho e que estão sempre crescendo, é quase como falar de um círculo de mulheres e colocar a cara de uma única mulher”, explica a estudante.