Calor extremo: "vai se tornar cada vez mais intenso e frequente", diz meteorologista - Revista Esquinas

Calor extremo: “vai se tornar cada vez mais intenso e frequente”, diz meteorologista

Por Enzo Cipriano, Eric Morales, Gabriel Alvarenga, Matheus Perez e Vinicius Salgado : outubro 23, 2023

No último mês, a cidade de São Paulo atingiu um marco histórico em termos de temperatura, registrando a mais alta para setembro. Foto: Reprodução/Pexels

Altas temperaturas registradas na maior cidade do país em 2023 estão ligadas a fenômenos naturais e ao aquecimento global

O aumento anual das temperaturas médias em todo o planeta é cada vez mais intenso, segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), a Terra passou pelo mês de setembro mais quente da história, com uma temperatura média na superfície de 16,38°C. Essa marca representa 0,5°C acima da temperatura do mês de setembro mais quente até então, em 2020, e cerca de 1,75°C mais quente para o mês de setembro em comparação com o período pré-industrial, de acordo com o Serviço de Alterações Climáticas Copernicus, da União Europeia (C3S).

No último mês, a cidade de São Paulo atingiu um marco histórico em termos de temperatura, registrando a mais alta para setembro. De acordo com dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a temperatura atingiu o pico de 36,5 graus Celsius no dia 24, marcando o maior índice desde 1943, quando o Inmet iniciou suas medições.

Além disso, o Brasil enfrentou o inverno mais quente de sua história, com cidades paulistas e do Triângulo Mineiro registrando entre 50 e 70 dias com temperaturas acima dos 30 graus, comparados aos 76 dias ao todo entre os anos de 1991 e 2020.

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a Terra passou pelo mês de setembro mais quente da história, com uma temperatura média na superfície de 16,38°C.
Foto: Freepik

As temperaturas no mês de outubro também estão acima da média em todo o país, como previa o boletim divulgado pelo Inmet.

Esse aumento significativo nas temperaturas levou o Inmet a emitir um alerta laranja devido ao risco à saúde. Essas novas ondas de calor vêm chamando a atenção de especialistas. Para o meteorologista Luiz Gustavo Gonçalves, formado pela Universidade Federal de Pelotas e ex-funcionário da NASA, esses fenômenos não são incomuns, mas são potencializados pelas mudanças climáticas. Ele destaca que devemos nos preocupar com sua intensidade e fala sobre o futuro:

“Eventos de bastante calor ou chuva, como está acontecendo agora, vão se tornar cada vez mais intensos e frequentes.”

Gustavo ainda detalha sobre a grande onda de calor que afetou o Brasil em setembro. “Agora, o que está acontecendo é que temos um fenômeno ocorrendo no momento, chamado heat dome, em inglês, que é a formação de um domo ou cobertura de ar em excesso. Esse domo fica estacionado sobre uma região, no caso, sobre o Brasil, devido a um sistema de alta pressão estacionário que se deslocou e estacionou sobre a nossa região.”

As altas temperaturas no dia a dia

O aumento de temperatura ao longo dos anos acaba passando despercebido por muitos no dia a dia, devido ao fato de ser cada vez mais comum o uso de aparelhos de refrigeração, como ar-condicionado, em domicílios e escritórios. No entanto, ondas de calor extremas, como a de setembro na cidade de São Paulo, também chamam a atenção dos paulistanos, conforme relata o jovem Gabriel Felix, quando questionado sobre a percepção do aumento da temperatura nos últimos anos e o impacto em sua rotina:

“Então, eu sinceramente não tinha percebido. Eu fui perceber este ano porque o clima está uma loucura. Um dia estava frio, e do nada passou para 30 graus no dia seguinte. Isso realmente me afeta muito porque eu tenho asma e problemas respiratórios. A qualidade e a umidade do ar, como estão baixas, acabam dificultando muito minha vida, principalmente na hora de dormir e no meu dia a dia, já que eu uso muito o transporte público.”

O estudante Arthur Schneider também admite não perceber esse aumento nos últimos anos, mas percebeu as mudanças extremas no clima de um dia para o outro.

“Uma hora está muito frio, outra hora está muito calor, as estações não estão mais tão bem definidas.” Ele complementa destacando como o calor impacta em sua rotina:

“Quando faz calor, nossa senhora, é muito ruim. Eu não consigo dormir direito por causa do calor, fico sem vontade de fazer as coisas e fico extremamente cansado. Acaba atrapalhando meu rendimento na vida.”

Os perigos para a saúde

Assim como relatado pelos paulistanos nas ruas, o calor extremo afeta diretamente a vida de todas as pessoas, principalmente na questão da saúde, com prejuízos à hidratação do organismo, como detalha o médico e vice presidente da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica, doutor Álvaro Pulchinelli:

“Temperaturas mais altas estão associadas à perda maior de água pelo organismo e à maior incidência de desidratação, principalmente em idosos.”

A alteração do clima, segundo o médico, também colabora para o aumento da incidência de problemas respiratórios, já que está relacionada à ausência de frentes frias, que limpam o ar. “Quando acontece o aumento da temperatura nessa época, significa que não houve a entrada de frentes frias, ou seja, não houve a limpeza do ar que acontece com a chuva”.

Pulchinelli relata que ainda não existem estatísticas que detalhem o aumento dos registros de problemas de saúde relacionados à subida das temperaturas. Apesar disso, o doutor destaca que essa escassez não significa que esses problemas não ocorram.

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Temperaturas mais altas estão associadas à perda maior de água pelo organismo e à maior incidência de desidratação, principalmente em idosos.
Foto: Freepik

O médico destaca também que a subida dos termômetros também é motivo de preocupação relacionada à saúde para além de incidências diretamente relacionadas ao calor no corpo humano. Vetores de doenças, como por exemplo o mosquito causador da dengue, se reproduzem com maior facilidade em um ambiente de clima mais quente.

Por fim, ele explica que, com a Terra cada vez mais aquecida,  existe a possibilidade de ocorrer o derretimento paulatino de áreas congeladas. Esse fenômeno pode trazer ao mundo vírus e outras substâncias que estavam “presas” no gelo, ameaçando a saúde humana.

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O futuro

Em meio às fortes preocupações quanto ao aumento das temperaturas e ondas de calor extremo, o Inmet alerta para novas situações críticas em um futuro próximo. Segundo o Instituto, existem chances da primavera de 2023 superar os recordes de temperatura que ocorreram em 2020.

O meteorologista Luiz Gustavo também compartilha da mesma preocupação. Ele detalha que os aumentos recentes de temperatura possuem influência do fenômeno El Niño e sua alta intensidade é consequência direta do aquecimento global. Para ele, caso a população não se preocupe com o planeta, as consequências chegarão mais cedo do que se imagina.

Editado por Mariana Ribeiro

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