Trajetória das bancas de jornal no país acompanha a história da imprensa nacional. Para além de jornal e revista, bancas hoje são lojas de conveniência
Símbolos da época de ascensão do jornalismo brasileiro, as bancas de jornal marcam as ruas de toda a capital paulista. Acompanhando a onda crescente no anseio pela informação, as bancas aderiram um papel fundamental na distribuição dos jornais impressos ao longo dos anos.
Instaladas em locais estratégicos, atualmente as bancas servem basicamente como pontos de conveniência para uma sociedade que se comunica majoritariamente através de telas.
Surgimento das bancas de jornal
A primeira impressão de jornais teve início com a vinda de Dom João VI, em 1808, quando começou a circular o primeiro jornal impresso do país, a “Gazeta do Rio de Janeiro”. A primeira banca de jornal no Brasil surgiu em 1860, mas elas se tornaram mais populares em meados do século XX. Acredita-se que o primeiro ponto fixo de venda de jornais tenha sido concebido por um imigrante italiano no Rio de Janeiro chamado Carmine Labanca, de onde veio a denominação “banca”.
O ponto de Carmine consistia em tábuas sustentadas por caixotes onde os jornais eram vendidos. Na década de 1910, essas bancas rústicas tornaram-se pequenos barracos de madeira e depois começaram a ser substituídas pelas de metal. Em São Paulo, o pioneirismo nas bancas fica com Salvador Neves, imigrante português que, por 50 anos, foi responsável pela tradicional Banca Estadão.
Pequenas conveniências
No início dos anos 2000, com a popularização da internet e o enfraquecimento dos jornais impressos, as bancas, buscando compensar as mudanças no mercado de periódicos, apresentaram interesse em vendas de produtos mais diversificados. A gestão do prefeito Celso Pitta, então, autorizou a comercialização de produtos como CDs, alimentos de até 30g e pequenos itens.
Hoje, donos de bancas afirmam que não é mais possível viver só de jornais e revistas, fazendo com que os produtos variados componham a maior parte da renda do estabelecimento. Segundo Luciete, funcionária da Banca Mansão (Avenida Paulista, 1230), os produtos mais vendidos são balas, carregadores, souvenirs para turistas e cigarros.
Os produtos também variam de acordo com o bairro: em bairros mais antigos, como a Barra Funda, por exemplo, a venda de jornais é maior. Os jornaleiros, portanto, tiveram que se reinventar para continuar no ramo, apesar de não conseguirem autorização para todas as reivindicações, sendo barrados pela Prefeitura. Segundo a legislação, jornais e revistas devem ocupar 60% do estoque de vendas.
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Declínio e nostalgia
Como consequência da plataformização dos jornais e outros meios de comunicação, cada vez mais presentes nas mídias digitais, as bancas de jornal hoje estão descaracterizadas de suas condições históricas, sendo constantemente coagidas a se reinventar para permanecerem em operação.
O declínio da modalidade, entretanto, é evidente no dia a dia urbano e nas estatísticas oficiais. Há dez anos, os estabelecimentos cadastrados como “banca de jornal” na Prefeitura de São Paulo eram de 3.178. Hoje, não chegam a 3.000, representando uma redução de quase 17%.
Com a pandemia da covid-19, o declínio das bancas agravou-se. “O movimento diminuiu bastante. Não chegamos a parar o funcionamento porque as editoras continuaram mandando revistas e jornais, mas o horário de trabalho foi reduzido”, afirma Luciete. “Foi preciso uma adaptação, passamos a vender máscara, álcool em gel etc”, completa.