Confira sete logradouros de São Paulo que homenageiam figuras históricas problemáticas - Revista Esquinas

Confira sete logradouros de São Paulo que homenageiam figuras históricas problemáticas

Por Clarissa Palácio e Guilherme Catellino : agosto 4, 2022

Fotos: Clarissa Palácio / Revista Esquinas

Durante a segunda semana de maio deste ano, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), vetou um projeto de lei que alterava o nome da praça Ministro Alfredo Buzaid, no Itaim Bibi, para praça Lourenço Carlos Diaféria. O projeto foi pautado pelo vereador Eliseu Gabriel (PSB) e visava a demoção da homenagem ao ministro que, ao compor governo durante a ditadura militar, foi entusiasta do Ato Institucional nº 5, o mais repressivo do período. O novo nome celebraria um jornalista censurado e preso em razão de uma crônica publicada para a Folha de S. Paulo. logradouros de são paulo

A proposta foi aprovada na Câmara Municipal de São Paulo em abril deste ano. Ao vetar a mudança, entretanto, o prefeito alegou que não havia amparo legal para a substituição. Nunes argumentou que o ex-ministro da Justiça Buzaid não tinha nenhuma condenação judicial por violação de direitos humanos.  

O AI-5 instaurou o período mais intenso de repressão contra adversários políticos do governo do então presidente Emílio Garrastazu Médici. O ato deu amparo legal à cassação de direitos civis, políticos e violações aos direitos humanos. logradouros de são paulo

A praça Afredo Buzaid, porém não é o único logradouro ou monumento paulistano com nome e homenagem polêmicos. A seguir, separamos sete pontos da capital que ainda geram discussão quanto às personalidades que homenageiam.

Japão-Liberdade  

logradouros de são paulo

Inaugurada em fevereiro de 1975, a estação originalmente batizada de Liberdade – em razão do bairro na qual se localiza – é uma das paradas da linha 1-Azul do metrô paulistano. No ano de 2018, foi sancionado pelo então prefeito Bruno Covas o acréscimo da palavra “Japão” ao nome original da estação, criando assim a Estação Japão-Liberdade.  

Entretanto, a mudança causou uma grande onda de reclamações nas redes sociais. Nos arredores da estação, não há apenas a comunidade nipo-brasileira – um grande número de famílias chinesas e coreanas se instalam nas proximidades do bairro. Mudar o nome da estação, porém, gerou polêmica por supostamente apagar o verdadeiro motivo do nome “Liberdade”. Antes de ser conhecida como é hoje, a praça onde a estação está localizada era chamada de Largo da Forca, por conter uma forca onde eram executados, principalmente, escravizados fugitivos. logradouros de são paulo

logradouros de são paulo

Em 1821, o soldado negro Francisco José das Chagas liderou uma revolução por melhores salários. Por desafiar a coroa, acabou condenado a morrer na forca. Quase 10 mil pessoas estavam presentes para assistir à execução. Gritos em favor do jovem, clamando por “Liberdade, liberdade!”, não foram suficientes e os carrascos enforcaram o soldado. Em 1870, a praça e o bairro foram rebatizados em homenagem a Francisco. 

Monumento às Bandeiras 

O Monumento às Bandeiras, localizado no bairro do Ibirapuera, é uma obra em homenagem aos bandeirantes que exploraram o Brasil durante os séculos XVII e XVIII. Inaugurado em 1953, o ponto mostra portugueses em seus cavalos, liderando um grupo de escravizados afrodescendentes, indígenas e mamelucos. logradouros de são paulo

A pobreza do estado de São Paulo estimulou a organização de expedições pelo interior do Brasil conhecidas como bandeiras. Os bandeirantes eram paulistas que promoviam expedições precárias no território colonial. Em razão da atividade, os bandeirantes atuaram na captura de escravizados fugitivos, destruição de quilombos, aprisionamento de indígenas e coleta de pedras e metais preciosos às custas de trabalhadores interioranos com péssimas condições de trabalho. 

Rodovia Presidente Castello Branco 

A Rodovia Presidente Castello Branco é a principal ligação entre a Região Metropolitana de São Paulo e o centro-oeste Paulista. A rodovia homenageia o presidente Humberto de Alencar Castello Branco, primeiro chefe do executivo do regime militar.

O governo de Castello Branco, que durou de 1964 até 1967, foi responsável por “abrir as portas” ao sistema de repressão que caracterizou o país nesse período. Castello foi responsável por instaurar os quatro primeiros atos inconstitucionais: AI-1, AI-2, AI-3 e AI-4.  

Veja mais em ESQUINAS

Dark kitchens: os efeitos inesperados da nova tendência no delivery de comida

Revitalização do Palácio dos Correios: Raul Juste Lores comenta o abandono do espaço

Metrô: como a “avenida subterrânea” mudou a mobilidade da Paulista

Getúlio Vargas  logradouros de são paulo

Homenageado em quase 3 mil endereços espalhados pelo país segundo levantamento do site Pindograma, Getúlio Vargas carrega a ambiguidade de ser um dos presidentes mais populares e, ao mesmo tempo, mais autoritários de nossa história. logradouros de são paulo

Seu governo, apesar dos avanços significativos, como a implementação das leis trabalhistas, também foi marcado pela censura, repressão, tortura e mortes de opositores políticos – sobretudo com a implementação do Estado Novo (1937 – 1945). 

Graciliano Ramos, um dos principais nomes da literatura brasileira, foi preso pela ditadura varguista, acusado de ligação com o Partido Comunista Brasileiro. O episódio motivou o escritor a produzir uma de suas mais aclamadas obras: Memórias do Cárcere’, publicada postumamente, em 1953.  

O fato mais sórdido da vida pública do “pai dos pobres”, talvez, seja o caso Olga Benário. Alemã, judia, grávida e casada com um líder opositor de Vargas, Luiz Carlos Prestes, Olga foi acusada de conspiração devido à Intentona Comunista, que tentou promover um golpe contra Vargas. Benário foi presa e deportada à Alemanha Nazista, onde morreu em 1942 na câmara de gás. Getúlio dá nome a quatro ruas da cidade de São Paulo, além de uma passarela na Bela Vista.

Monumento Anhanguera logradouros de são paulo

logradouros de são paulo

Construída pelo escultor italiano Luigi Brizzola, o monumento localizado em frente ao parque Trianon, na Avenida Paulista, é uma homenagem ao bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva, mais conhecido como Anhanguera – responsável por desbravar o interior brasileiro, principalmente onde hoje se localiza o estado de Goiás. 

O apelido Anhanguera, que pode significar “Diabo Velho” ou “espírito do mal”, foi concedido pelos nativos da época devido à brutalidade do bandeirante. Durante expedição ao sertão brasileiro, em 1682, Bartolomeu ameaçou atear fogo na aldeia caso os indígenas não revelassem a localização das minas de ouro da região. Além disso, centenas de nativos foram escravizados ou mortos por Bartolomeu.  

Apesar de toda a problematização envolvendo seus atos, Anhanguera recebe menções dentro e fora da cidade de São Paulo. Além de monumentos, há rodovias, faculdades e parques que remetem à figura do bandeirante. 

Estátua do Borba Gato  

logradouros de são paulo

A Estátua do Borba Gato, localizada na Avenida Santo Amaro, zona sul da cidade, é uma homenagem a Manuel de Borba Gato, bandeirante que participou das expedições que adentraram o sertão brasileiro em busca de metais preciosos.  

Sua imagem, contudo, está relacionada à brutalidade. Durante suas expedições, Borba Gato caçava e escravizava indígenas, além de destruir as aldeias e roubar grandes reservas de ouro. 

Em 2021, um grupo de manifestantes espalhou pneus e ateou fogo no monumento. O ato foi cercado entre o apoio e o repúdio aos manifestantes. Não foi a primeira vez que houve protestos contra a imagem de Borba Gato. Em 2008 e 2020, casos semelhantes foram registrados. 

Minhocão – antigo Elevado Presidente Costa e Silva logradouros de são paulo

logradouros de são paulo

Amplamente conhecido como Minhocão, o Elevado Presidente João Goulart é uma via expressa elevada que liga o centro de São Paulo à região da Barra Funda. Inaugurado em 1971, o elevado inicialmente foi chamado de Elevado Presidente Costa e Silva, tendo seu nome alterado apenas em 2016. 

Artur da Costa e Silva foi o 27º presidente do Brasil, sendo o segundo da ditadura militar. Seu período de governo, de 1967 a 1969, representa o hiato de maior repressão do regime. Os mecanismos repressivos foram ampliados, e movimentos como o estudantil e o operário foram duramente perseguidos e desmobilizados. Esse processo de endurecimento foi concretizado com o decreto do Ato Institucional nº 5 em 1968.

Editado por Juliano Galisi

Encontrou algum erro? Avise-nos.