Durante o mês de agosto, ESQUINAS traz relatos sobre idosos em isolamento social. O depoimento da aposentada Chouko Ohnuma é a segunda reportagem da série
Desde que se aposentou, Chouko Ohnuma tem se dedicado à sua saúde e bem-estar. O que não esperava era viver uma pandemia, e que manter-se saudável significaria ficar em casa e não receber visitas da família.
Ela pelo menos não fica sozinha o dia inteiro. A filha Mari, a única dos quatro filhos que vive com ela, também passa o isolamento na casa e é a pessoa que sai para fazer as compras e resolver qualquer problema. No começo, Chouko pensava que o isolamento não duraria muito, mas o tempo foi passando e a situação foi mudando. A ficha caiu e ela percebeu que ficaria mais tempo do que esperava. A viagem para o Japão marcada para abril ficou na intenção. Era preciso encarar uma nova realidade.
O dia inteiro em casa a fez cozinhar mais e, por consequência, comer mais. Exercício em casa é arriscado. Qualquer movimento errado poderia machucar as costas e a última coisa que ela quer é ir para o hospital. Passou a tricotar e costurar máscaras para os filhos e netos. Assim, podia protegê-los de longe – principalmente a filha mais velha que trabalha nas feiras de rua vendendo banana. Agora, tinha tempo de sobra para cuidar das mais de trinta plantas no fundo da casa. Não precisa se preocupar mais em se livrar delas.
Para lidar com dias iguais e cansativos, precisa se lembrar de que é perigoso sair e que tudo um dia vai passar. Chouko sempre foi positiva e soube olhar pelo lado bom de tudo. Foi assim quando um filhotinho de cachorro abandonado apareceu na garagem de sua casa.
Pelos loiros, cabia na palma da mão. Não pensou duas vezes: deu de comer e começou cuidar dela – sim, era uma fêmea. Iris virou a alegria da casa. Corre de um lado para outro, destrói alguma coisa e está sempre pedindo carinho. No final, chegou para aliviar o estresse de todo dia e as notícias negativas que vêm da televisão.