Jornalista e historiadora falam sobre a importância da reafirmação do papel midiático neste momento
Nesta segunda-feira, 1º de junho, é comemorado no Brasil o Dia da Imprensa, em homenagem à primeira publicação do jornal Correio Braziliense, nesse mesmo dia em 1808. No entanto, a celebração nem sempre foi em junho. Em 13 de setembro de 1999, o então presidente Fernando Henrique Cardoso, sancionou a Lei nº 9831, que alterava a data do dia 10 de setembro, que até então era tida como o dia oficial da imprensa, para 1º de junho.
A data de setembro era uma homenagem ao jornal A Gazeta do Rio de Janeiro, também fundado em 1808 com a chegada da corte portuguesa ao Brasil. A mudança ocorreu como um movimento progressista do final do século XX e foi importante para a história. “O reconhecimento do Correio Braziliense, que na época era editado em Londres, foi um marco simbólico. O jornal A Gazeta do Rio de Janeiro era censurado, ou seja, nada mais era do que a Gazeta de Lisboa, com todo o interesse da Coroa Portuguesa — só que com nome de Gazeta do Rio de Janeiro”, explica Fábio Ciquini, jornalista e professor de História do Jornalismo e da Imprensa na Faculdade Cásper Líbero.
A historiografia da imprensa considera, de fato, o Correio Braziliense como o primeiro jornal que diz respeito à época da colônia brasileira.
Imprensa e democracia
O papel da mídia livre é atuar como pautadora das discussões da sociedade. É esperado que ela equilibre lados, posições, fatos e opiniões em uma democracia, além de verificar a eficiência e veracidade das ações do governo e de órgãos públicos.
A imprensa no Brasil foi muito atacada e sua liberdade foi cerceada durante governos ditatoriais, como o Estado Novo de Getúlio Vargas e a Ditadura Militar iniciada em 1964. Hoje, apesar de ser protegida pelo Estado Democrático de Direito, ela ainda sofre intimidações e ataques até mesmo do Presidente da República e de seus apoiadores.
Um exemplo disso aconteceu no início de maio, em Brasília, durante uma manifestação pró-Bolsonaro, quando um fotojornalista foi agredido e ameaçado por bolsonaristas enquanto cobria o ato no Palácio do Planalto. Dois dias depois, na manhã de 5 de maio, ao ser questionado sobre mudanças na Polícia Federal, o presidente Jair Bolsonaro mandou repórteres calarem a boca e atacou a Folha de São Paulo com diversas agressões.
Sobre as frequentes hostilidades do governo contra a imprensa, a historiadora, mestre em sociologia pela UFRGS e especialista em opinião política e eleitoral, Jacqueline Quaresemin diz que se trata de “uma prática autoritária. O Estado pensa que está acima de todos, mas, na verdade, ele só existe porque todos contribuímos para que ele esteja ali. Como a imprensa tem o papel de pressioná-lo para agir com transparência e informação, ele se sente ilegitimado”.
O Jornalismo não só garante a informação e a disseminação dela, mas principalmente os limites do Estado e os direitos à liberdade de expressão. Jacqueline ressalta a importância da imprensa livre para a sociedade: “A clareza e uma série de aspectos é ela que vai assegurar”.
Segundo Fábio, “é muito difícil para uma parcela da população entender qual é o papel da imprensa. O que vejo é uma confusão imensa entre informação e opinião e por isso é tão questionável. Ela tem um papel adjacente em levar a compreensão da democracia aos cidadãos”.
A reafirmação do papel da imprensa durante a pandemia
Considerando a atual crise sanitária, a responsabilidade da imprensa foi ampliada. Ela tornou-se um serviço social necessário de atualização e também de instrução das pessoas. Para isso, muitas vezes o acesso à informação tem ocorrido gratuitamente. “Esse momento pede que a imprensa se reposicione”, opina a especialista em política.
Para ela, a transparência é fundamental, principalmente nesse período. “Não dá para ficar nessa polaridade entre inverdades e verdades”, afirma. Ela ainda pontua a importância das mudanças na comunicação com o intenso uso das redes sociais durante a pandemia, já que no ambiente digital todos passam a trocar a informação, “gerando uma série de dados assertivos e errôneos”.
Segundo o professor, “a imprensa deve reafirmar seu papel, que é essencial, nesse momento”. Diante do cenário em que estamos vivendo, é evidente a importância de seu dever social de mediação e objetividade. Além disso, manter a sociedade informada também significa combater o vírus.