É comum que empresas utilizem datas comemorativas para campanhas e propagandas, mas até que ponto isso não é se aproveitar da causa?
O mês de Junho é considerado, mundialmente, como o Mês do Orgulho LGBTQIA+, homenagem ao basta que os frequentadores do Stonewall Inn, bar gay em Greenwich, deram à violência e à perseguição policial que sofriam. Depois de dois anos em isolamento por causa da pandemia, ocorreu no dia 19/06/22 a 26º Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo, reunindo 4 milhões de pessoas, de acordo com a Associação da Parada do Orgulho LGBTQIA+, em um grande corredor arco-íris, na Avenida Paulista.
Além de ser um evento para se divertir, demonstrar o amor e falar sobre pautas importantes que afetam a vida da comunidade LGBTQIA+, a parada também é um importante contribuinte para a economia. O pink money, dinheiro rosa em uma tradução livre, refere-se ao poder de compra da comunidade. De acordo com a Secretaria de Turismo, a última parada movimentou R$ 403 milhões na economia. Na que ocorreu este ano, segundo o portal G1, milhares de bandeiras foram vendidas a R$80,00.
O pink money não está relacionado, simplesmente, ao que gays, lésbicas, trans compram, também é uma forma de combater o crime de ódio contra pessoas que não se consideram heterossexuais e cis-normativas. Na lógica do marketing e da publicidade, a intenção é promover através do seus produtos e de suas equipes a inclusão dessas pessoas. É o que o Gabriel Junqueira, 28, performista digital, responde quando questionado a respeito de como a publicidade pode ajudar no combate contra as violências que a comunidade LGBTQIA+ sofre:
“Trazendo mais representatividade para suas campanhas. Mais mulheres trans estampando revistas independente de suas histórias de sucesso, mais gays sendo utilizados não apenas no mês do orgulho. Acredito num geral, para todas as siglas trazerem um viés de realidade e não de estereótipo, como o gay escandaloso e engraçado ou a travesti promíscua”.
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No entanto, nem sempre as empresas estão o tempo todo preocupadas e engajadas com a problemática, muitas vezes, uma propaganda ou um produto é pensado apenas para o Mês do Orgulho e depois se esquece, completamente, sobre o assunto. O pinkwashing, é um conceito criado pela Breast Cancer Action, uma organização que, aparentemente, ajudava mulheres no combate contra o câncer de mama, mas, na verdade, comercializavam produtos considerados cancerígenos.
Como o pink money impacta na causa
Este comportamento não é uma surpresa quando constatado o quão lucrativo a comunidade LGBTQIA+ pode ser, como já analisado anteriormente, mas também por ser um público que não pode ser ignorado. De acordo com os números publicados pelo IBGE, no dia 25 de maio, da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), cerca de 2,9 milhões de pessoas com 18 anos ou mais se declaram gays, lésbicas ou bissexuais. Apesar de representar apenas 1,8% da população, esse número pode ser muito maior, tanto pelo número registrado na Parada do Orgulho deste ano, como pelo fato das pessoas, às vezes, não serem totalmente honestas por responderem a pesquisa na presença de outros parentes.
De qualquer forma, visar apenas o lucro ao invés do combate a homofobia no ambiente de trabalho ou promover a inclusão de pessoas trans em suas equipes são comportamentos que não compactuam com o propósito do mês do orgulho. Nesse sentido, Thiago Baba, 20 anos, coordenador da frente LGBTQ+ da Faculdade Cásper Líbero, também se mostra indignado com atitudes que remetem ao pinkwashing:
“Acho que o pink money é uma das maneiras mais claras e recorrentes de pinkwashing. Hoje a bandeira LGBTQ+ tem um valor mercantil muito grande, basta ver as estampas em roupas. Mas acho válido ressaltar a importância de empresas e marcas se posicionarem em defesa dos direitos LGBTQ+, não só de maneira superficial, mas com medidas válidas. Colocando pessoas trans em cargos de liderança, abrindo vagas destinadas às minorias sociais etc, para além de fazer uma campanha com roupas no Mês do Orgulho”.
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O mês do Orgulho LGBTQ+, assim como a parada, são formas de conscientizar e, de fato, promover mudanças nos direitos da comunidade. O pink money pode tanto ajudar a causa, como atrapalhá-la. De qualquer forma, não apenas a cor rosa, mas todas as do arco íris que estão na bandeira do movimento merecem seu lugar de direito, seja como parte da equipe que produzirá um produto ou aquele quem irá consumir e também serem respeitados por escolherem ser quem são.