Em tempos de pandemia, cerimônias religiosas são realizadas à distância
São tempos de isolamento social. Ainda assim, isso não significa que os devotos tenham perdido a necessidade de praticar seus rituais. Seja em São Paulo, Guarulhos, Paulínia ou Jaguariaíva, sem poder aglomerar nos templos sagrados devido à pandemia da covid-19, as lideranças religiosas vêm adotando as ferramentas digitais como estratégia de diminuição das distâncias físicas.
A manutenção dos cultos, ainda que remotos, fomentam a sensação de normalidade, essencial para a preservação da saúde mental e do sentimento de proximidade com os devotos. “Todos os dias eu tenho contato com o pessoal da igreja, mesmo de longe. A igreja me acolheu em um momento que eu estava bem fragilizada emocionalmente, me mostrando sempre o lado bom das coisas, e desde então eu continuo nela”, afirma Mayara Muriel, frequentadora da Paróquia Sagrado Coração de Jesus.
Entretanto, quais as principais dificuldades enfrentadas para a concretização desse cenário? Da umbanda ao cristianismo, passando pelo budismo, o maior desafio é a acessibilidade. Problemas com o sinal, microfone ou o computador. Além disso, os religiosos alegam que o corpo físico faz falta durante as cerimônias. “A distância do grupo em relação à presença foi um dos maiores problemas que enfrentamos, pois a energia não é a mesma sem a matéria presente” conta Victoria Correa, praticante do budismo.
Fé em casa
No coração de Guarulhos, a Comunidade Católica Shalom, cuja associação também possui sede em diversos países, como Canadá, Espanha e Angola, desenvolveu o projeto Live SH. Esse tem por objetivo levar aos lares dos fiéis momentos de oração de maneira remota, por eventos realizados ao vivo pela Internet. Além das celebrações eucarísticas, a programação conta com o Boletim da Comunidade e a Adoração da Manhã. Mariana Gutenberg, vocacionada da Igreja, mostra-se satisfeita com o número de espectadores das missas e ressalta a facilidade de se ter acesso ao jovem pela internet por tratar-se de um formato prático para essa faixa etária.
Se os eventos online são convidativos para a juventude, o culto drive-in feito em parceria pelo Projeto PEDRA e pela Assembleia de Deus, foi uma verdadeira festa para as crianças. “Um dos objetivos do drive-in foi que as crianças fizessem alguma coisa que as envolvessem. Elas estavam muito paradas em casa. Outro ponto foi um entretenimento da cidade, ser um evento seguro e descontraído”, explica Nycollas Negreti, frequentador da Igreja e participante do evento. Dessa forma, o programa garantiu segurança e diversão para os envolvidos e seguiu estritamente todos os protocolos solicitados, visando a prosperidade do evento. “O culto foi regularizado pela prefeitura, no evento teve fiscais e foi bem certinho”, completa Nycollas. Com apresentação especial para esse público e distribuição de doces, a cerimônia realizada dia 14 de setembro no Pátio da antiga Estação Ferroviária em Jaguariaíva, ainda contou com músicas e celebração da palavra divina. O ingresso foi um quilo de alimento não perecível, reservado para doação.
Sem contato, mas presentes
A Mãe de Santo Márcia Lopes conta como adaptou suas rotinas religiosas: “A dificuldade é que atendíamos em casa, um espaço pequeno, mas conseguíamos atender pelo menos cinco pessoas por semana. Quando as pessoas vêm para a assistência, precisando de alguma ajuda espiritual, geralmente entram em contato conosco por mensagem”. Sobre isso, ela completa: “Assim, fazemos nossas orações e firmezas aos nossos guias e intervindo o pedido de ajuda à pessoa necessitada.”
A pandemia levou o Templo de Umbanda Amor e Caridade Flores de Aruanda, localizado em Guarulhos, a interromper seus trabalhos. Em agosto, eles optaram por retomar as práticas religiosas, ainda que com muitas limitações: “Chegando lá tinha uma pessoa na porta com álcool em gel. A gente passou e entrou. Geralmente são várias cadeiras, uma ao lado da outra, em fileira. Nessas fileiras estavam faltando uma cadeira, estavam uma cadeira sim e uma cadeira não, por causa do distanciamento. Então, basicamente, tinha metade das vagas. No terreiro, tinham menos guias e estavam mais espaçados. Quando ia sentar na cadeira, a gente tinha que entrar sem sapato, eles deram um sapatinho de hospital para não contaminar nada.” relata Alessa Attalla, frequentadora do terreiro desde 2019.
Uma reportagem divulgada pela CNN Brasil em abril deste ano mostra que a volta a espaços religiosos está em primeiro lugar na lista de prioridades dos brasileiros no pós-quarentena.