De acordo com o diretor de base da SINTHORESP, os empregados de motéis “não denunciam por medo de serem demitidos”
O motel Tivoli teve que fechar as portas e o Lykke nem inaugurou. Mas para pagar as contas Claudio Fernandes e Patrícia Cordeiro mantém o Yves aberto, único negócio do casal em funcionamento. Ambos estão com 46 anos e são proprietários de três motéis na cidade de Guarulhos, região metropolitana de São Paulo.
Patrícia conta que o número de clientes diminuiu após as medidas de isolamento, o que causou dificuldades no seu negócio. “Depois da pandemia caiu mais da metade do movimento. Estamos trabalhando, mas está bem devagar. Um dos nossos motéis fechou, pois as despesas estavam superando o faturamento, tínhamos cerca de 20 trabalhadores que tivemos que dispensar. Iríamos inaugurar outro e estávamos contratando tudo, mas agora cancelou”, diz.
De acordo com os proprietários, o motel que permanece aberto está seguindo as orientações de higiene, ou seja, intensificando a limpeza e fornecendo Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). Além disso, também estão restringindo a quantidade de pessoas por quarto, apenas um casal por suíte.
Contudo, Francisco Coutinho, 55 anos, diretor de base do sindicato que atende os funcionários de motéis em São Paulo e região (SINTHORESP), diz que há muitas pessoas com receio de denunciar os locais que trabalham. “O atual momento é de pânico, as pessoas tem medo de perder o emprego, não denunciam por medo de serem demitidos. Os funcionários têm medo da doença, mas têm mais medo de passar fome”, relata.
O sindicalista também afirma que o fluxo de reclamações sobre a falta de EPIs é grande e diário. “A gente fica até angustiado, porque a gente quer fazer alguma coisa, tomar atitude. Imagina a pessoa trabalhando sem máscara, sem luvas, tendo contato com o ambiente recém deixado por clientes e sem saber com o que está interagindo”, comenta.
Além disso, o diretor sindical diz que o problema não é a falta de fiscalização por parte das prefeituras, mas sim as denúncias que não avançam porque os trabalhadores não se identificam, tornando a reclamação um desabafo. “A gente nota que as pessoas negam informação, a gente tenta ao máximo. A pessoa não te passa (as informações para realizar a denúncia), não tem como a gente chegar e dar o flagrante”, relata.
Apesar das alegações de denúncia do sindicato, todos os dez motéis paulistanos contatados por ESQUINAS afirmam que estão utilizando EPIs e seguindo as normas de vigilância. Os estabelecimentos preferiram não se identificar.
A coordenação de Vigilância e Saúde de São Paulo (Covisa) afirmou que as vistorias são feitas rotineiramente nos motéis. Além das recomendações passadas, também informaram que caso os estabelecimentos não cumpram com o acordado no combate ao coronavírus, os locais são passíveis de autuação e sujeitos às penalidades.
A Secretaria do Desenvolvimento Urbano (SDU) da prefeitura de Guarulhos é responsável pela fiscalização dos locais e afirmou que realiza inspeções de acordo com as denúncias que recebe. Até agora fizeram vistorias orientativas e não houve nenhuma autuação. Entretanto, Claudio e Patricia afirmam que seu motel não recebeu nenhuma visita ou informação a respeito de fiscalizações em outros estabelecimentos.