Para celebrar o dia do caminhoneiro, relembramos a história de Geraldo Magela Pereira, que cruza as estradas brasileiras há 33 anos
“Tenho orgulho de trabalhar para a nação, carregando o País nas costas”, afirma emocionado o caminhoneiro de 56 anos Geraldo Magela Pereira. Segundo ele, ninguém sabe o que sua classe passa na estrada, tendo a carreta, onde até cozinham suas refeições, como casa. “E muitas vezes não encontramos um lugar para tomar banho ou comer uma comida bacana”, diz.
Nascido em São Sebastião do Anta de Minas, cidade do interior de Minas Gerais com apenas 6 mil habitantes, Geraldo se mudou para São Paulo com apenas 9 anos. Ele é um dos 21 filhos do trabalhador rural, José De Assis Pereira e da dona de casa Maria Joaquina Alves. Com 15 anos, depois de perder sua mãe, teve que dar início à sua vida profissional para cuidar de sua irmã mais nova.
Quando criança, morava perto de uma rodovia conhecida, a BR116, e de pertinho gostava de acompanhar o trânsito e o movimento dos carros. Adorava brincar com carrinhos e caminhões de madeira e já tinha o sonho de ser caminhoneiro, desaprovado por seu irmão. “Ele me mandava estudar e focar no que realmente importava”, lembra. Mas sua profissão já estava escolhida e, com 18 anos, ganhou dele uma carteira de motorista para que pudesse seguir carreira no tão sonhado emprego.
Em 1987 começou a vida na estrada, que já completou 33 anos. “Ser caminhoneiro está no meu sangue”, afirma o apaixonado pela profissão e pelo próprio caminhão, que ele diz ser tudo em sua vida.
“Hoje a rotina está mais tranquila”, diz Geraldo. Seu dia a dia na estrada consiste em ir de São Paulo a Rondônia e, a cada 15 dias, também ao Maranhão e Belém. Depois disso, descansa por cerca de quatro dias e logo volta à ativa.
Colecionando inúmeros destinos em suas viagens, já passou por todas as 27 unidades federativas do País. “Sempre tento ficar um tempo a mais nos lugares para conhecer um pouquinho, principalmente nas praias do Nordeste”, conta o motorista, elegendo as de Fortaleza como as melhores.
Segundo ele, que vive muitas aventuras passageiras, a melhor parte da profissão é esta: estar sempre em contato com pessoas diferentes, fazer amizades e deixar muitas paixões por onde passa. “Não sei o que acontece, mas as mulheres se apaixonam pelos caminhoneiros”.
Geraldo também cita os laços que criou com os companheiros de profissão. Eles são conhecidos como “Os Tubarões” e dividem suas histórias com caminhoneiros do Brasil todo por meio de um rádio PX, um aparelho amador. De acordo com ele, nunca faltam assuntos porque “todo caminhoneiro tem uma boa história pra contar”.
No entanto, já passou por muitos momentos ruins em seus anos estrada. “A pior parte é quando você é assaltado ou perseguido. Em 2003 fiquei amarrado no mato por uma noite”. Também relembra episódios em que presenciou acidentes de trânsito e ajudou as vítimas. Mas afirma que seu maior desafio diário é o tempo. “Quando preciso fazer uma entrega em poucos dias e o tempo da viagem dura mais que o estipulado, o desafio é correr contra o tempo e entregar dentro do prazo combinado”.
Depois de mais de três décadas na estrada, Geraldo está cansado e quer que 2020 seja seu último ano na profissão. “Quero ficar mais próximo da família, me mudar para um sítio, criar peixe e viver descansando”, diz.
Geraldo lamenta, ainda, a falta de visibilidade do trabalho de sua classe. “Apesar de sermos desmerecidos pela população e por algumas empresas, sabemos a importância da nossa classe e a força que temos para parar o Brasil. Somos unidos e carregamos grande parte do País nas costas, mas muitas vezes não temos apoio das pessoas. Elas não pegam carona com a gente para mudar algumas coisas”, finaliza.