Alto valor da passagem de ônibus, metrô e trem fazem estudantes de baixa renda escolherem entre comer ou estudar durante a semana
A importância do sistema de transporte coletivo é indiscutível para qualquer metrópole. Em média, 2,5 milhões de pessoas dependem do meio para se locomoverem entre escola, faculdade, serviço, entre outras tarefas, na cidade de São Paulo, segundo dados da SPTrans. No mesmo relatório apresentado, a frota chega a quase 12.000 ônibus por dia.
Na medida em que a cidade cresce, o sistema de transporte público deveria acompanha-lá, mas não é o que acontece em São Paulo, que a cada ano tem sua frota reduzida e sucateada pela falta de manutenção e renovação dos veículos. Em 2020, a ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos) registrou uma renda de quase R$ 55 bilhões no setor.
Além do serviço de má qualidade, os valores chagaram ao horro no bolso da população, principalmente para estudantes de baixa renda. O cursinho do Vito, que possui duas unidades na capital paulista, uma na Praça da Árvore e outra no Carrão, coloca que a principal causa da evasão escolar é a falta de dinheiro dos alunos para pagar a passagem. Hoje, uma passagem de ônibus custa R$ 4,40 e a de metrô R$ 5,00 na capital paulista.
“O cursinho existe há nove anos e a falta de alunos é sempre pelo mesmo problema. Os estudantes acabam tendo que escolher entre comer ou faltar em alguns dias da semana”, comenta Gabriel Sabino, coordenador e professor de Sociologia do cursinho.
Por se tratar de um cursinho popular, a maioria dos alunos moram em regiões periféricas da capital, assim, grande parte dos estudantes precisam pegar de um a dois ônibus, além de mais um metrô para chegar ao local.
Jessica Gomes, estudante de Psicologia na Unesp e ex-aluna do cursinho do Vito em 2018, à época pagava R$ 3,80 na passagem, que sendo ônibus, metrô ou trem era fixa no mesmo valor. Gomes, que também era jovem aprendiz, tinha que optar, muitas vezes, em fazer o caminho a pé do que pegar o transporte público devido a falta de dinheiro.
VEJA MAIS EM ESQUINAS
Metrô: como a “avenida subterrânea” mudou a mobilidade da Paulista
Linhas de trem acumulam problemas após privatização em SP
Linha 18-Bronze: do anúncio ao desmonte de Doria, a jornada do (quase) monotrilho do ABC
‘Passe Livre’ transporte
Na visão do economista Sandro Prado, uma das soluções para evitar a evasão escolar é a adoção do “Passe Livre” – benefício que garante gratuidade no transporte coletivo interestadual para pessoas com deficiência e renda familiar per capita de até um salário mínimo. “Os jovens já estão desestimulados. É necessário uma política [pública] efetiva, que trate o transporte gratuito como algo fundamental na educação de alunos de baixa renda”, afirma o economista.
Em dezembro de 2023, a prefeitura de São Paulo implementou o programa “Tarifa Zero”, que oferece ônibus gratuitos em todos os domingos, das 00h às 23h59.
“Essa tarifa zero é cortina de fumaça para o preço abusivo que está sendo cobrado na cidade. O transporte é um direito do cidadão e deveria ser gratuito, ou ao menos cobrado um preço justo”, critica Gomes.