Quarentena dos idosos: “Quando bate a ansiedade do isolamento, digo a mim mesma que está tudo bem”   - Revista Esquinas

Quarentena dos idosos: “Quando bate a ansiedade do isolamento, digo a mim mesma que está tudo bem”  

Por Tiago Tortella : agosto 17, 2020

Durante o mês de agosto, ESQUINAS traz relatos sobre idosos em isolamento social. Os depoimentos da aposentada Linda Cicelini e da professora Márcia Sartorelli são trazidos na quinta reportagem da série

Mais de 290 mil idosos vivem sozinhos somente na cidade de São Paulo. É o que diz o Estudo Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento (Sabe), feito para a Agência Fapesp. Como se sabe, integram o grupo de risco da covid-19 e necessitam de isolamento para prevenir o contágio. Estar sozinho e ter de reinventar sua rotina nessa idade é um desafio para pessoas como Linda Cicelini.

Aos 85 anos, está de quarentena desde o dia 17 de março. “O pior é não poder abraçar as pessoas, as netas, ter que manter a distância”, explica. A filha apenas traz mantimentos e os deixa na porta. Essa solidão pode acarretar transtornos como depressão e ansiedade, agravando um problema já prevalente nessa faixa etária. Segundo o IBGE, essa doença atinge 11% da população entre 60 e 64 anos, por exemplo. “Quando dá um ataque de ansiedade, penso ‘tá tudo bem, tá tudo calmo’, eu falo comigo mesma”.

Mas se a quarentena trouxe coisas ruins, trouxe pelo menos um lado positivo. Linda começou a usar mais a chamada de vídeo para conversar com o filho. “Também tenho conversado com minhas amigas e mandado bom dia e boa noite para minhas netas”. A maior proximidade com a tecnologia também foi um ponto positivo para Márcia Sartorelli, de 72 anos. A professora teve que aprender a usar plataformas de chamada por vídeo no computador para lecionar. “Para os jovens é mais fácil, eu tinha só noções básicas de internet, mas aprendi e desenvolvi uma nova habilidade!”, comemora Sartorelli.

Diferentemente de Linda, ela mora com o marido, de 77 anos, também professor. Porém, ambas tiveram de mudar as rotinas. Andam lendo mais e vendo mais notícias. No entanto, elas concordam que receber tantas informações sobre o coronavírus pode ser ruim em termos psicológicos. Márcia tem usado a música e os filmes como escape. “As músicas são catalisadoras de emoções. Têm sido muito importante”, comenta. Já Linda tem feito tricô e pintado panos de prato.

No início da quarentena, Cicelini fez um trato consigo mesma: “sem neura, sem desespero, sem preocupação”. Lembrar disso todo dia a ajuda a passar pela quarentena sem sofrimento. Mesmo sendo difícil, tanto Linda quanto Márcia concordam que o isolamento horizontal é necessário. “Tem que ficar bem quietinha, fazer tudo direitinho, pra ser recompensada e valer a pena. Enquanto tiver que ficar, vou ficar”, finaliza Cicelini.