Ibirapuera teve projetos descontinuados e repensados até chegar ao que é hoje - Revista Esquinas

Ibirapuera teve projetos descontinuados e repensados até chegar ao que é hoje

Por Amanda Franco : setembro 25, 2019

Foto: Rodrigo Soldon

Com configuração assinada pelo arquiteto Oscar Niemeyer, Parque Ibirapuera sediou a Conferência Internacional para Cidades Sustentáveis na última semana

Já foi mangue, virou aldeia, depois favela até que se tornou parque. O Ibirapuera recebeu seu nome a partir do tupi e quer dizer “pau podre” ou “árvore apodrecida”. A ideia de dar o espaço do parque à cidade de São Paulo surge no final do século XIX, quando a região deixou de ser a várzea de Santo Amaro e se tornou patrimônio da capital. Até a construção do parque em 1952, 204 famílias viviam em 186 barracos dispostos em uma favela. O Departamento de Obras do município ficou encarregado de removê-las e transferiu seis famílias para a Favela do Canindé. O restante foi alocado em terrenos cedidos pela Prefeitura.

No ano de 1926, o então prefeito paulista José Pires do Rio decide construir o parque na região, o qual “seria útil à higiene da população urbana”, como disse em relatório do ano seguinte do Arquivo Histórico Municipal Washington Luís. Pires do Rio foi o agente da aquisição de grande parte das ações de terras que hoje compõem o parque. Esse período configura o embrião do parque, já que aconteceu a transferência do viveiro de plantas municipais da área da atual Avenida Francisco Matarazzo para onde está atualmente.

Mapa geral do parque Ibirapuera. Foto: Reprodução/ibirapuera.org
Foto: Reprodução/ibirapuera.org

As primeiras plantas

O problema da drenagem contínua típica na região começou a afetar os pinheiros plantados no local. Foi necessário que uma proposta urbanística fosse urgentemente colocada em prática. Com a autoria do arquiteto e paisagista Reinaldo Dierberger, a planta do parque foi desenhada para que fosse esteticamente bonito e, ao mesmo tempo, útil para a saúde da população. Criou-se grandes áreas ajardinadas e trilhas gramadas. Além disso, estava projetado setores focados em práticas de esportes, jogos e corridas.

Foi então que o secretário de Viação e Obras Públicas da época e futuro prefeito Prestes Maia apresentou à população o Plano de Avenidas, que idealizava um parque dividido em duas áreas distintas, sendo a maior e mais próxima dos bairros nobres a que receberia tratamento diferenciado. A parte adjacente seria dedicada a esportes e recreação, aproveitando o desnível natural do terreno para incentivar principalmente esportes aquáticos.

Discriminação dos terrenos devolutos transferidos ao município em 1891. Levantamento de 1941
Processo n. 2003-0.324.844-7

Apesar dos esforços, os projetos apresentados até 1935 nunca foram concretizados. Foram necessários quase dez anos para de fato realizarem o projeto a partir do Plano de Melhoramentos para a cidade, também de Maia. Este imaginava o Ibirapuera apenas como uma grande praça circular, com centro sendo a convergência de várias vias da cidade. O marco foi ocupado pelo Obelisco aos Heróis de 1932.

Até um ponto final

Foi em 1951 que o arquiteto e professor Christiano Stockler das Neves viu no Ibirapuera a oportunidade de projetar uma obra de arte para São Paulo. No quarto centenário da cidade, Stockler apresentou seu projeto – que envolvia jardins franceses, italianos e ingleses, além de grandes bulevares em perspectiva incorporados ao parque. Entretanto, o presidente da comissão do aniversário, Ciccillo Matarazzo, conduziu uma reforma contrária à ideia original e inaugurou uma nova forma de se pensar o urbanismo e a arquitetura do parque.

O destaque foi a construção da praça circular principal, que possui o Obelisco em seu centro e delimita a circulação interna em formato de cruz, com estilo art decó diferente do que se encontrava pela cidade.

A concepção proposta desde o início ficou nas mãos de uma equipe-chave de arquitetos: Zenon Lotufo, Eduardo Kneese de Mello e Hélio Cavalcanti, com colaboração de Gauss Estelita e Carlos Lemos e comandados por Oscar Niemeyer, mais tarde responsável por outros marcos paulistas como o Edifício Copan, no Centro, e o Memorial da América Latina, na zona oeste.

O primeiro estudo publicado por Niemeyer é de maio de 1952 e apresenta a planta como representante do desenvolvimento técnico-industrial do estado. As construções do parque revelariam as concepções modernas que fervilhavam no período. Após o projeto ser revisto em 1953, os pavilhões antes projetados sofreram alterações na localização e no tamanho até chegarem à configuração apresentada atualmente: o Pavilhão da Agricultura, atual Detran; o Pavilhão das Indústrias, atual Prédio da Fundação Bienal; o Pavilhão das Nações, atual Pavilhão Manuel da Nóbrega; o Pavilhão dos Estados, atual Prédio da Prodam; e o Pavilhão de Exposição, hoje conhecido como a Oca.