Como a Casa 1, referência em auxílio à comunidade LGBTQ+, está se sustentando durante a pandemia - Revista Esquinas

Como a Casa 1, referência em auxílio à comunidade LGBTQ+, está se sustentando durante a pandemia

Por Beatryz Gaia, Izabella Giannola e Julia Mei : julho 24, 2020

As dificuldades enfrentadas pela ONG e o apoio inclusive da Atlética da Cásper Líbero

Tudo começou em 2015, com um sofá e um post no Facebook. O jornalista Iran Giusti, presidente e fundador do Centro de Acolhida e Cultura Casa 1, conta que o projeto surgiu quando publicou que seu sofá estava disponível para pessoas LGBTQ+ que teriam sido expulsas de casa. Ele recebeu mais de 40 pedidos em 24 horas e, depois, teve a ideia de criar a Casa 1.

Ela não é apenas uma república de acolhimento à comunidade LGBTQ+, mas também centro cultural e clínica social. Hoje, há uma estrutura relativamente grande em relação a recursos, com o Centro de Acolhida, um sobrado que atende 20 moradores e moradoras por vez durante meses, a sala de atendimento à população de rua, que distribui roupas e produtos de higiene pessoal, e uma biblioteca comunitária.

 

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O Galpão Casa 1 também faz parte da estrutura da instituição. É um centro cultural que atende cerca de 60 crianças com 12 horas de programação diária, aulas e refeições. Para adultos, são ministrados cursos de inglês, espanhol, canto, teatro, costura e maquiagem. Além disso, a Clínica Social Casa 1 conta com dez salas de atendimento de psicoterapia, psiquiatria e terapias complementares.

 

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Desde março de 2018, a Casa 1 oferece atendimentos de forma social à comunidade. 

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No total, são 20 pessoas contratadas e cerca de 150 voluntários para a manutenção do projeto, que atende, em média, 2 mil pessoas por mês. No período em que vivem na instituição, os moradores são responsáveis por cozinhar a própria comida, limpar o espaço e buscar estudos e trabalhos. Todos e todas têm prioridade para fazerem os cursos do centro cultural.

Sustentação da casa

Thiago Palmeira, 36 anos, foi voluntário da Casa 1 de setembro a dezembro de 2018. O paraibano chegou a São Paulo em agosto do mesmo ano já com a ideia de se voluntariar. Thiago acompanhava a iniciativa pelas redes sociais e reforçou sua identificação pelo projeto, já que, como muitos dos moradores, foi expulso de casa por conta de sua sexualidade. “Minha admiração só aumentou. A dedicação é incrível”, elogia o ex-voluntário.

“Primeiro comecei a frequentar as palestras que a casa fornecia e então fui recrutado para o voluntariado”, lembra. Ele trabalhava com as doações de roupa, fazendo uma triagem para ver o que serviria.

A sustentação financeira, bem como a social, também é coletiva, e se dá por meio de doações mensais na plataforma Benfeitoria. A casa também conta com parcerias com empresas e marcas, além de editais público e privados. Porém, como o financiamento coletivo não é uma prática comum no Brasil, ainda há uma carência financeira muito grande.

Por isso, depois de dois anos da criação do projeto, que tinha uma equipe mínima recebendo ajuda de custo de 800 reais, os organizadores temiam que não daria mais para continuar e anunciaram o fechamento das portas. Contudo, a sociedade civil se mobilizou e a instituição conseguiu se sustentar, inclusive contratando uma equipe, alugando um espaço para a Clínica Social e fazendo um fundo de caixa.

O episódio do quase fechamento, devido à carência de recursos, coloca em questão o que ocorrerá agora, com a crise gerada pela pandemia do novo coronavírus.

Casa 1 na pandemia

Segundo o próprio presidente, depois do esforço constante da equipe, foi possível colocar os moradores e moradoras em distanciamento físico total. Nenhum caso de covid-19 foi relatado na casa, mas não foram feitas novas acolhidas para preservar os que já estavam em quarentena.

Iran conta que as dificuldades da instituição mudaram muito com a pandemia. “Não sabemos como vai ser daqui pra frente, se ainda teremos ajuda das pessoas, se as empresas vão seguir com ações. Ainda está tudo muito nebuloso”.

Dentre os maiores desafios enfrentados pelas moradoras e moradores da Casa neste momento, ele ressalta a suspensão da hormonioterapia para as pessoas trans. Além disso, o difícil acesso ao auxílio emergencial do governo, levando em conta que muitos estavam em processo de retificação de seus documentos.

Em relação à instituição, o maior impasse tem sido a captação de recursos em um momento em que as verbas de marketing das empresas estão congeladas ou são destinadas a lives de grandes artistas.

O fundador assegura, no entanto, que os cursos e o trabalho psicológico, tanto com os moradores quanto na Clínica Social, seguem os mesmos, ainda que de forma remota. Houve, ainda, um pequeno aumento no plantão de escuta emergencial — também online –, que já era previsto por conta do isolamento social e do cenário atual.

A maioria dos voluntários foi afastada e está planejando estratégias para o pós-pandemia. “Os únicos que seguiram foram os professores de língua que dão aulas online, além dos coordenadores que participam de reuniões semanais também por videoconferência”, explica. “Presencialmente estamos eu e dois funcionários contratados que fazemos a entrega das cestas básicas”. Eles estão tomando todos os cuidados necessários para distribuir mantimentos para a população de rua, vizinhos e ex-moradores.

Homem Pássaro + Casa 1

Observando o aumento das demandas da instituição e as dificuldades de arrecadação de dinheiro para a ONG, a atlética da Faculdade Cásper Líbero iniciou um projeto em que todo o lucro com a venda do Cordão Diversidade seria revertido em cestas básicas para a Casa 1.

 

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Daniela Boyadijan, diretora social da Atlética Jesse Owens e estudante de Rádio, TV e Internet, diz que a iniciativa é consequência das gestões de anos anteriores, que sempre venderam produtos ligados à comunidade LGBTQ+.

Daniela explica que a Cásper faz parte do Juca (Jogos Universitários de Comunicação e Artes), que é coordenado pela Liga Atlética Acadêmica de Comunicação e Artes (LAACA). O núcleo de diversidade da LAACA tem como diretor um voluntário da Casa 1, e ele afirma que o local está passando por muitas dificuldades, com as demandas triplicadas.

“A doação de 1116,90 reais pela Atlética permitiu a compra de 25 cestas básicas, que garantiram a alimentação de pelo menos 100 pessoas — tendo em vista que a média das famílias que atendemos é de quatro pessoas”, diz Iran.

Essa contribuição, bem como a de outros coletivos, centros acadêmicos e atléticas, foi fundamental para manter a Casa 1 ativa neste período.