150 mil lojas online abriram entre março e julho deste ano no Brasil. E, desde março, 22 mil lojas físicas fecharam na cidade de São Paulo
O isolamento social tirou o medo de comprar pela internet. No primeiro semestre deste ano, as vendas online cresceram 47% no Brasil, segundo a pesquisa da Ebit/Nielsen, registando a maior alta em 20 anos. Junto com a pandemia, veio a necessidade dos estabelecimentos criarem canais de atendimento digital. O resultado, segundo a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), foi a criação de 150 mil novas lojas online de março a julho no País.
André Luis Iotti era um dos casos de comerciantes que não possuíam atendimento online. Aos 34 anos ele possuía uma loja física de quadros e molduras em Pinheiros. A pandemia e o fechamento do comércio fizeram com que ele fechasse a loja e migrasse toda a operação para o digital, “foi uma mudança total. Tanto na estrutura quanto na forma de trabalhar. Porque antes a gente não investia nada no online e agora estamos investindo tudo.” Desde o início da quarentena 22 mil lojas físicas foram fechadas na cidade de São Paulo, segundo a FecomercioSP.
Segundo o especialista em e-commerce pela D Loja Virtual, Francisco Lemos, é necessário que o comerciante defina uma estratégia para fazer a transição do mundo físico para o digital. “Primeiro ele tem que saber para quem ele vai vender, onde essas pessoas estão e saber qual a oferta que ele vai trabalhar, ou seja, qual produto ele vai vender. Pois diferente de uma loja física, na internet tu precisa de um produto só”, afirma.
Ao mesmo tempo em que foi doloroso fechar a loja, André afirma que a mudança se mostrou mais econômica. Ele criou um perfil tanto no Facebook e no Instagram e aluga um salão na Vila Mariana para a produção das molduras. “É aquele negócio, com a loja tem mais visibilidade, tem muito cliente que tem necessidade de ir comprar na loja. Mas por outro lado, o custo operacional de uma loja é muito alto e com a pandemia não estava valendo à pena”, afirma.
Mudanças de canais de venda são comuns em tempo de crise, como aponta Lemos: “O comércio vai sempre ter mudanças. Mesmo na pandemia, ele simplesmente mudou o canal.” Para ele o setor acelerou quatro anos em quatro meses e isso se deve pelo aumento da confiança do consumidor. “Eu acredito que o consumidor simplesmente enxergou um canal mais forte para comprar e que vai ter um crescimento ainda maior nos próximos anos”, afirma.
O novo hábito também fez com que o consumidor encontre preços mais baixos. “A venda por meios digitais se intensificou também por conseqüências tributarias. O lojista consegue oferecer opções de pagamento porque não precisa pagar comissões para vendedores. E sejamos honestos, muitas vezes o comerciante sequer vai emitir nota fiscal”, explica Gustavo Moraes, coordenador do curso de economia da PUCRS.
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Incentivo do governo
Para estimular ainda mais as vendas online, o Governo Federal anunciou no dia quatro de agosto a segunda edição da “Semana Brasil”, também conhecida como “Black Friday Brasileira”. O evento está marcado para acontecer de 3 a 13 de setembro, e na última edição contou com a participação de 14 milhões de vendedores no país. Francisco Lemos diz que é uma excelente oportunidade para quem quer testar seu negócio online.
Entretanto, o especialista também afirma que a pandemia ensinou que o setor não estava preparado para atender a demanda. Principalmente no que diz respeito ao prazo de entrega. “Quando as vendas online dispararam nos vimos muitas pessoas reclamando da demora na entrega dos produtos. Isso é um problema de logística, por isso, nós vemos as grandes empresas investindo neste departamento para não depender exclusivamente dos correios”, afirma Lemos.
Por este motivo, a pesquisa da ABComm aponta que 80% dos novos vendedores online optaram inicialmente por realizar suas vendas em grandes sites como Mercado Livre. Lá, além de se aproveitarem do fluxo de consumidores, os comerciantes podem utilizar a infraestrutura logística.
Dois modelos de negócio
Mas mesmo com a consolidação do hábito de comprar pela internet, a loja física não precisa ser descartada. “A pessoa pode ir tanto na loja física quanto na online daquela marca. Essa estratégia não é mais o futuro e sim o presente”, afirma o Lemos.
Para Moraes, o período em que vivemos é o que na economia chamam de destruição criativa. “Muitos cairão. O mercado se concentrará e aqueles que têm produtos ou estratégias inovadoras podem se consolidar no mercado. Os comerciantes estão tendo uma possibilidade de convencimento do consumidor ao apresentarem seus produtos. E quanto mais canais utilizados para isso melhor”, conclui.